Custos x qualidade
como equilibrar esta balança?
Adoção de medidas como manutenção preventiva da frota e gerenciamento de gastos dão fôlego às transportadoras para baixar custos e manter o padrão no atendimento
De olho na competitividade, empresas de diversos setores buscam soluções para otimizar os custos de suas operações, sem comprometer o padrão de qualidade de seus produtos e serviços. No setor dos transportes não é diferente.
O mercado exige das transportadoras bom desempenho e frete baixo. No entanto, qualquer administrador sabe que, na maioria das vezes, a qualidade dos serviços pode estar associada a custos mais elevados. Então, quais as saídas para equilibrar esta balança?
Em busca de respostas, mais de 150 frotistas compareceram ao seminário Redução de Custos sem o Comprometimento da Qualidade, organizado pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e
Logística (NTC), em maio, na cidade de Goiânia (GO).
Durante o encontro, Neuto Gonçalves dos Reis, assessor técnico da NTC, propôs diversas fórmulas para equacionar a questão. No entanto, antes de conhecê-las é preciso saber quais critérios definem a qualidade no transporte rodoviário de cargas.
Padrão no atendimento
De acordo com especialistas, o que diferencia uma transportadora no mercado é a atenção que dá a cada item que foi combinado com o cliente. O cumprimento dos prazos e a rapidez das entregas são
considerados os aspectos mais importantes desta transação comercial. Quanto mais organizada for a logística, mais fácil será satisfazer as necessidades do contratante e ganhar sua confiança. Nesta lista, a flexibilidade para atender as solicitações extras também é um item muito valorizado pelos clientes.
Outro critério determinante para o sucesso do transportador é a forma como o produto chega ao seu destino. A mercadoria deve estar intacta, sem avarias, acidentes ou desvios. Por isso, além dos cuidados com aquilo que será transportado, é indispensável a contratação de uma empresa que faça um bom gerenciamento dos riscos de cada operação, minimizando os desgastes para o transportador e para o cliente em caso de adversidades.
Finalmente, outro aspecto que deve ser levado em conta nesta análise são as facilidades proporcionadas pelos novos sistemas eletrônicos de comunicação em tempo real, pois a informação ágil e precisa a respeito de tudo o que ocorre com a carga é um recurso muito solicitado
atualmente por praticamente todos os contratantes regulares de serviços de transporte (Veja reportagem no link Parceiro Tim). Cada vez mais, as tecnologias estão permitindo que o cliente acompanhe do seu computador dados sobre a localização do veículo, minuto a minuto. “No transporte just in time, por exemplo, este nível de informação é muito importante”, salienta Neuto. “Em caso de atraso, a empresa terá como se planejar”, justifica.
Equilibre a balança
Diante dos itens destacados no quesito qualidade, o primeiro passo para minimizar as despesas, sem comprometer a qualidade, é atuar nas variáveis que determinam o custo do quilômetro rodado, a começar
pelo custo fixo mensal do caminhão.
Ao adotar práticas como o aumento da jornada do veículo, por exemplo, o transportador poderá reduzir substancialmente o custo fixo por tonelada. A estratégia é utilizar o mesmo caminhão em dois ou três turnos. “Embora haja necessidade de contar com mais de um motorista, o custo por tonelada cai quando se aplica esta estratégia”, relata Neuto. Ele acrescenta que, agindo desta forma, há empresas que rodam até 33 mil km/mês, no percurso São Paulo—Porto Alegre”. Com um único turno, o veículo consegue percorrer somente 10 mil km/mês na mesma rota”, argumenta o especialista.
O tempo gasto com a carga e descarga do veículo é outro fator que deve ser observado pelas transportadoras que desejam melhorar seus resultados. Quando as horas estipuladas para a realização destas
tarefas não são respeitadas, por deficiências do embarcador ou do destinatário, elas acabam pesando indiretamente – e de forma muito prejudicial – no orçamento do transportador.
Segundo estudos da NTC, a velocidade média registrada pelos caminhões nas estradas também deve ser analisada. Isto porque hoje se sabe que o uso de veículos capazes de manter maiores velocidades
médias durante todo o percurso também ajuda consideravelmente a reduzir os gastos gerais com a frota.
A elevação da capacidade de carga dos veículos é mais um caminho que tem sido seguido de forma sistemática por muitos frotistas como solução para reduzir o custo da tonelada transportada. Um exemplo
clássico desta tendência foi a evolução do caminhão toco para o truck, na década de 70. E depois do truck para os conjuntos formados por cavalos e semi-reboques, nas décadas de 80 e 90, e destes para os
bitrens nos últimos dez anos. Portanto, veículos com maior capacidade de carga permitem economizar horas do motorista, diminuindo a incidência de custos variáveis por tonelada. Acredita-se que o resultado é ainda melhor quando se usam rodotrens ou bitrens de 74 toneladas (veja o gráfico). No entanto é preciso notar que a utilização
destes veículos ainda está sujeita à Autorização Especial de Trânsito (AET).
Quanto ao gerenciamento das finanças da empresa, o assessor aconselha avaliar o desempenho da transportadora pelo resultado financeiro – e não pelo volume de carga transportada. ”Se for preciso,
feche filiais e abandone linhas ou clientes deficitários”, diz Neuto.
Além destas diretrizes básicas existem outras medidas que podem ser adotadas, como o cálculo de valores cobrados nos fretes com base em planilhas, por exemplo. Procure informar-se também sobre
dados oferecidos pela NTC, no site www.ntc.org.br.
Outra dica que pode ser útil é verificar como as outras empresas do setor têm se saído na tarefa de equilibrar custos e manter a qualidade. Confira quais práticas têm surtido efeito positivo na Nortran – empresa de transporte coletivo urbano que opera 33 linhas na zona norte da
cidade de Porto Alegre (SC).
Resultados positivos
Todos os meses, a Nortran transporta mais de dois milhões de passageiros, em Porto Alegre. Visando manter o padrão no atendimento e ao mesmo tempo minimizar os gastos com os processos operacionais, a empresa adotou uma série de medidas que têm auxiliado nesta tarefa. Segundo Odairton dos Santos, gerente de manutenção da Nortran, o investimento constante na capacitação dos motoristas é uma delas. “A boa condução do veículo influi significativamente na redução das despesas”, diz ele. “Com os treinamentos conseguimos poupar combustível, pneus, peças e acessórios”.
Outra prática adotada pela Nortran é a manutenção preventiva da frota, composta por 160 ônibus. A cada três mil km, eles são recolhidos e passam por uma vistoria completa, de acordo com as normas de qualidade da empresa, que possui o certificado ISO 9001.
Em parceria com a assistência técnica Pirelli, a Nortran também treina seus borracheiros e geometristas. Estes estão aptos para trabalhar com a máquina instalada na empresa para montar e desmontar os pneus, além das balanceadoras fixa (para os pneus traseiros e pneus
novos) e móvel (para os dianteiros).
Um sistema de gestão computadorizado avalia e controla as condições dos pneus, com rodízio a cada cinco mil km e calibragem com nitrogênio (110psi). Para Odairton, a escolha certa dos pneus contribuiu muito para a melhoria da performance da frota. “Utilizamos o MC85 e ele tem se comportado muito bem tanto nas estradas, com trechos mais exigentes, quanto nas linhas urbanas”, ressalta. “Todo este conjunto de medidas nos levaram a ter resultados positivos”, conclui.
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