Viver na Disneylândia, por Paulo Ricardo Mubarack*

Publicado em
17 de Agosto de 2012
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O mundo real “não está nem aí para nós”. Vejo dentro de algumas empresas muitos melindres, um nível inaceitável de política e determinadas frescuras no relacionamento entre seus funcionários que se aproximam de aberrações quando confrontados com o mundo real.

Uma das questões mais importantes na gestão de uma organização é trazer, no máximo limite possível, as regras que vigoram na rua para dentro dos portões da empresa. Deixe o mercado, com suas regras implacáveis, entrar na sua empresa, esta é a mensagem clara e simples que pretendo transmitir neste texto.

Fora da sua casa, qualquer companhia lida com a concorrência implacável, com os truques próprios do mundo dos negócios, com a pressão e a frieza dos bancos, com as exigências brutais dos clientes e com as demandas das comunidades e dos governos onde trabalha. Se você duvida, experimente negociar preço ou prazo com um fornecedor poderoso, experimente dizer para o banco que você não vai pagar uma duplicata na data ou tente discutir com um cliente que representa muito para você. Tente também convencer um fundamentalista da ANVISA ou um maluco da secretaria de Meio Ambiente a aliviar o pé na pressão para você resolver seus passivos com a lei. Todos estes públicos são muito duros de enfrentar. Aí você, que sua sangue para sobreviver no meio destes selvagens, admite que dentro da sua empresa funcionários fiquem emburrados porque levaram uma não conformidade em uma auditoria interna ou porque um gestor mais correto cobra fortemente o cumprimento dos procedimentos.

É realmente um comportamento digno de doidos. Fora das portas da empresa, pancadaria, selva, a guerra do Afeganistão. Dentro, preparando-se para enfrentar tudo isto, um grupo de imbecis que deseja desfrutar o ambiente da Disneylândia! O correto seria que o ambiente dentro da empresa fosse mais competitivo e selvagem do que fora e, por favor, não me acusem de durão ou de maluco. Afinal de contas, já vi os mesmos que adoram a Disneylândia, afirmarem hipocritamente que “quanto mais se sua no campo de treino, menos se sangra no campo de batalha”. Que tal preparar-se para a guerra na selva contra vietnamitas kamikazes na Disneylândia, comendo torrões de açúcar e correndo atrás do Pato Donald? Embora cômico, este cenário se transforma em tragédia quando uma empresa é frouxa dentro de suas portas. E não pense que se você for durão internamente, as pessoas irão embora. Aqueles que irão embora serão exatamente os vagabundos, o que é uma boa notícia. Quem for correto, não precisa temer uma empresa durona. Até porque estou pedindo que você seja durão e não injusto ou prepotente, pois estes são conceitos completamente diferentes.

Como poucas empresas, a AmBev soube introduzir em suas fábricas e escritórios as regras do mercado e não as regras da Disneylândia, daí o seu sucesso indiscutível e daí, também, os questionamentos de tanta gente inexpressiva que acha aquela cultura “abrasiva”. O ambiente interno de uma empresa precisa respeitar as leis da guerra do mercado e não deve seguir, de forma infantil e tresloucada, as brincadeiras da Disneylândia.

Muitas vezes, quando chego a uma empresa, vejo alguns gestores sendo estigmatizados como “de difícil relacionamento com os colegas”. Normalmente, não é nada disto, o estigma é uma mentira grosseira. Os “de relacionamento difícil” são aqueles que não querem se render aos prazeres da Disneylândia e que desejam trabalhar duro para enfrentar a selva lá fora. São estes, e não os vadios da Disney, que desenvolvem e perpetuam as organizações para as quais trabalham. Os outros, os que querem moleza e travestem sua inapetência para o trabalho competitivo com slogans falidos sobre qualidade de vida, estigmas e fofocas, bem, estes são o lixo.

Coloque o lixo no lugar dele (no lixo), valorize quem é correto e durão e faça com que todos entendam que frescuras internas só prejudicam a empresa. Implante, o quanto puder, a franqueza e trabalhe com gente forte. Recompense-os com dinheiro, treinamento e elogios. Gente boa quer exatamente isto. Os vadios exigem mimos da empresa, muitos benefícios, um restaurante melhor, reclamam do hotel onde se hospedam nas viagens para a empresa e querem ganhar celular, notebook e sei lá mais o que.

Não acredite no ridículo “gerenciamento de mudanças”. Estes títulos são responsáveis por perdas consideráveis de tempo e de dinheiro dentro das empresas. Gerenciar mudanças é dizer a verdade quando algo vai realmente mudar, valorizar gente forte e demitir os “mamãe penteou”.

O nome disto tudo é a meritocracia amparada no capitalismo. O resto é Disneylândia durante um tempo e desgraça para sempre.

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