Vender parte da frota é melhor que apelar para os bancos, diz consultor

Publicado em
25 de Janeiro de 2017
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Ed Trevisan afirma que retomada do crescimento só virá em 2018 e desinvestir é melhor que fazer empréstimo

Nelson Bortolin / Revista Carga Pesada

Chamou a atenção nas redes sociais um artigo escrito pelo consultor financeiro Ed Trevisan, 37 anos, de Curitiba, com o seguinte título: “Por que eu acho que vender parte da sua frota pode ser o melhor negócio que você fará em 2017?” Trabalhando com foco no transporte rodoviário de carga, ele conta que redigiu o texto assim que soube da nova previsão do Banco Mundial de que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil vai crescer apenas 0,5% neste ano.

Para Trevisan, que também é editor do blog www.fretecomlucro.com , o transportador deve deixar as expectativas de retomada da atividade econômica para 2018. E encarar 2017 como um ano de aprendizado. “Aquele empresário que está com a frota saneada, não está tendo prejuízo, ainda consegue sustentar a situação. Mas, para os demais, é hora de vender ativos.”

Ele vem trabalhando nos últimos anos com pequenas transportadoras e caminhoneiros autônomos. “Quando eu falo para um empresário que tem cinco, seis caminhões, que é melhor vender um veículo do que pedir empréstimo, ele diz: ‘Se eu vender um ou dois, todo mundo vai achar que estou mal, que estou quebrando’. Mas não dá para ter esse tipo de postura”, alega. De acordo com o consultor, pode ser um ótimo negócio vender um veículo, sanear as contas e não ir ao banco pedir dinheiro. “No ano que vem, quando houver a retomada, o transportador vai estar com mais fôlego para conseguir recuperar o perdido”, ressalta.

A reportagem lembrou o consultor que as regras do Finame mudaram e que o frotista pagará mais juros ao comprar caminhão no ano que vem. Mesmo assim, acha que pode ser vantajoso. “Tudo depende de você fazer contas. Eu tenho um caminhão, cujo preço na tabela Fipe é R$ 200 mil. O mercado está pagando R$ 170 mil. Será que perder esses R$ 30 mil é um bom negócio? Pode ser que sim”, afirma. Caminhão parado, embora não dê manutenção,  continua se depreciando.

Um leitor questionou Trevisan no Facebook: “Você está incentivando o desemprego?”. O consultor agradeceu a manifestação e respondeu que não se faz omelete sem quebrar ovos. “Não adianta tentar manter todos os empregos e chegar numa situação em que está tão enforcado que tem de fechar a empresa. É melhor sacrificar um ou dois empregos para tentar manter outros dez.”

O consultor lembra da “bolha do transporte” e da estimativa da NTC&Logística de que existem 300 mil caminhões sobrando no Brasil.  “No segundo governo da Dilma, pensaram em criar um incentivo para uma renovação da frota. Contavam que a economia iria continuar crescendo, mas foi uma visão inconsequente”, avalia. Até quem não estava no ramo, nas palavras do consultor, comprou caminhão e entrou no transporte de carga. “Quem já estava, foi lá e trocou o caminhão. Isso tudo gerou um excedente. Quando a demanda parou de acompanhar (o crescimento da frota), virou o caos que temos hoje.”

CÁLCULO DO FRETE

Ed Trevisan vem se esforçando para que seus clientes passem a calcular os custos da maneira correta. Mas admite as dificuldades. Principalmente as dos autônomos, que estão o tempo inteiro na estrada. “Quando mostro minha planilha de cálculo do frete, eles me questionam: ‘Por que vou fazer essas contas.  Para saber que eu deveria cobrar dez, mas o mercado só paga seis?’ Minha resposta é sempre: sim”,conta.

Na visão de Trevisan, somente com a consciência de todos os custos, inclusive os “escondidos” como depreciação e remuneração do capital, é que o transportador poderá mudar sua realidade, ainda que hoje se veja obrigado a ganhar menos do que deveria.

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