Vendas despencam no primeiro bimestre de 2015

Publicado em
04 de Março de 2015
compartilhe em:

Dados da Fenabrave indicam retração de 23,1% para o pior resultado em 8 anos

GIOVANNA RIATO, AB

As vendas de veículos foram acertadas em cheio pelo cenário nebuloso da economia no início de 2015. Os emplacamentos despencaram no primeiro bimestre na comparação com igual intervalo do ano passado, para 439,7 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, número 23,1% abaixo do mesmo período de 2014. Foi o pior resultado para o período em oito anos. Os dados do Renavam foram divulgados na terça-feira, 3, pela Fenabrave, entidade que representa os distribuidores de veículos.

-Veja aqui os dados da Fenabrave 

Em fevereiro foram negociados 185,9 mil unidades entre leves e pesados, com retração de 26,7% sobre o já fraco janeiro e de 28,3% sobre fevereiro de 2014. O total inclui a venda de 178,8 mil veículos leves, com queda de 26,6% na comparação mensal e de 27,2% na anual, volume mais baixo para o mês desde 2008.

No caso dos modelos comerciais, a venda de caminhões foi a que mais caiu. Com 5,1 mil emplacamentos, a contração chegou a 32,6% no segmento em fevereiro na comparação com janeiro. Em relação ao mesmo mês de 2014 a queda foi de 50,1%. Já as vendas de ônibus caíram 11,7% sobre o mês anterior e 35,6% em relação ao registrado há um ano, para 1,9 mil chassis.

A Fenabrave, que começou o ano com expectativa de que o mercado brasileiro diminuísse 0,5% ao longo de 2015, declarou ter se surpreendido com resultado tão ruim. “O ano começou abaixo da nossa expectativa”, admitiu Tereza Maria Dias, diretora da MB Associados e responsável pelas projeções da Fenabrave. A economista, conhecida por traçar expectativas pessimistas acerca da conjuntura brasileira até mesmo em períodos de crescimento, apontou que o tombo é resultado de uma série de fatores. “Houve queda rápida do ritmo econômico, com cenário mais difícil do que o esperado.”

Tereza acredita que o crescimento da inflação neste início de ano - que compromete a renda das famílias - e a restrição do acesso ao crédito pelos bancos foram os principais fatores de influência. “O PIB deve cair pelo menos 1,5% este ano e o desemprego vai começar a crescer. Há expectativa de que cerca de 660 mil trabalhadores sejam demitidos, principalmente no setor de construção civil”, indica a economista.

MERCADO 10% MENOR EM 2015

Diante da visão pessimista da MB Associados, Alarico Assumpção Jr., presidente da Fenabrave, desconsidera as severas crises de 1998 e de 2008, que causaram fortes quedas nas vendas de veículos, e diz nunca ter presenciado situação tão difícil e incerta no setor automotivo mesmo atuando nele há mais de 30 anos. “O cenário está esquisito”, declarou, enfatizando a dificuldade de prever a demanda dos próximos meses.

Por causa dessa nebulosidade, o executivo prefere não revisar as projeções para este ano. “Vamos esperar o fechamento do primeiro trimestre”, apontou, na esperança de ver a curva de queda das vendas deixar de se aprofundar em março. No ano passado, o Carnaval tinha acontecido nesta época, enquanto em 2015 o feriado caiu em fevereiro, o que reduziu o número de dias úteis do mês para apenas 17. Apesar de evitar falar sobre as expectativas para o ano, o material distribuído pela Fenabrave na coletiva de imprensa indica tendência de queda da ordem de 10% nas vendas este ano.

Assumpção avalia que não há nenhum sinal alentador para os negócios no setor automotivo. Segundo ele, o PIB fraco ou em queda já é motivo suficiente para abalar as vendas de veículos. “Sem PIB a roda não gira”, defende. Além disso, o executivo afirma que os bancos têm sido bastante cautelosos para liberar crédito. Segundo ele, a média de aprovação das fichas está em apenas 30%. Apesar da queda da inadimplência nos empréstimos para pessoa física, a Fenabrave avalia que há tendência de crescimento dos calotes nos contratos de pessoa jurídica. Para compensar isso, as financeiras têm sido mais cautelosas de uma forma geral.

Nem mesmo a nova legislação aprovada no fim de 2014, que facilita e torna mais ágil a retomada do veículo em caso de inadimplência, parece ter tido o efeito esperado sobre as vendas. A medida era um pleito dos fabricantes e distribuidores de veículos, mas não foi capaz de estimular as vendas e reduzir os estoques do setor. A Fenabrave estima que o volume de carros armazenados esteja equivalente a 55 dias de vendas, considerando estoques das fábricas e das concessionárias.

Boletim Informativo Guia do TRC
Dicas, novidades e guias de transporte direto em sua caixa de entrada.