Vendas despencam em MT

Publicado em
09 de Março de 2015
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Estado acumula, neste bimestre, a maior queda registrada no país. Comercialização encolheu mais de 63% ante 2014

Não há sinais de recuperação rápida ao segmento de caminhões 0-KM

Mato Grosso encerrou o primeiro bimestre com um recorde negativo, mas que já vinha se desenhando há algum tempo. As vendas de caminhões, na maior fronteira agropecuária do Brasil e extremamente dependente do modal rodoviário, recuaram mais de 63% em relação ao mesmo período do ano passado. Esse é o maior percentual verificado pelo setor no país. E o pior: o recuo se dá em pleno pico de safra, com a colheita da soja, carro-chefe das exportações agrícolas.

Conforme dados divulgados recentemente pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores de Mato Grosso (Fenabrave/MT), de janeiro a fevereiro desse ano foram comercializadas 223 unidades, sendo 135 no primeiro mês e o restante, 88, em fevereiro. Já em igual intervalo de 2014 o bimestre encerrou com 609 unidades vendidas, o que revela uma queda anual de 63,38%. E o saldo negativo não é exclusividade do bimestre. Na comparação mensal, fevereiro com 88 unidades ante janeiro, com 135, a retração é de 34,81%. Avaliando o desempenho das vendas de fevereiro desse ano contra igual mês de 2014, quando se registrou o comércio de 310 unidades, o hiato é recorde: -71,61%. A sazonalidade de menos dias úteis para mês é a marca registrada de fevereiro, que neste ano teve apenas 18 dias e pode ter tido algum tipo de influencia (mínima) nesse desempenho.

No entanto, a queda na vendas de zero quilômetros foi geral no país, mas Mato Grosso superou médias no segmento de caminhões. No Centro-Oeste, o recuo anual no bimestre foi de 49,44% e no país, de 34,46%.

O segmento começou a esfriar no ano passado e o primeiro bimestre desse ano exibe, até o momento, o pico da crise do setor após três anos de ‘vacas gordas’, fomentados, especialmente, por linhas de crédito com taxas acessíveis e facilidade de acesso aos financiamentos. Para quem depende das vendas, ainda não há luz no fim do túnel e o mau momento pode estar apenas começando.

Além das incertezas sobre os rumos da economia brasileira, sobretudo para a política tributária, da restrição ao crédito, da elevação das taxas de juros, do fechamento da principal linha ao segmento {o Finame Caminhões do BNDES}, inadimplência elevada, há também saturação no mercado, excesso de caminhões e, conseqentemente, maior pressão sobre o frete, barateando a prestação do serviço, reduzindo a remuneração do transportador de cargas.

Como explica o presidente das Empresas de Transporte de Cargas do Estado, Eleus Vieira, os anos de 2011, 2012 e 2013 foram muito bons para renovação das frotas em função dos incentivos dados pelo governo federal. “Todo mundo comprou. Essa oferta derrubou fretes. Para se ter uma ideia, um frete hoje de Lucas do Rio Verde a Rondonópolis, custa entre R$ 85 a R$ 90 a tonelada, quando que o ideal, considerando a alta recente do diesel, deveria ser de R$ 120 para a gente começar a respirar”. Como conta, para concretizar uma compra agora é preciso dar cerca de 50% de entrada. “Um bom conjunto de cavalo e carreta, com nove eixos, modelo mais utilizado para o transporte de grãos, não sai por menos de R$ 650 mil”.

CAUTELA - Proprietário da Rodo Júlio, em Lucas do Rio Verde (360 quilômetros ao médio norte de Cuiabá), o empresário e vereador Gilson Baitaca, conta que não tem planos de adquirir caminhão zero quilômetro nesse ano. “O cenário para o transporte de cargas não é nada bom”. Ele possui quatro graneleiros de nove eixos, sendo dois comprados no ano passado. “Esse excesso de oferta que barateou o frete, desestimula novas aquisições. Nossa remuneração encolheu e fica até negativa, enquanto o custo operacional se elevou e segue o mesmo, tanto no pico de safra como no pós-safra. Estamos em plena colheita, período que é nosso ‘Natal’ e ainda assim com dificuldades. Imagina como será o restante do ano?”, questiona. Como pontua, o custo com diesel deve abocanhar até 35% do frete para haver viabilidade. “Até 28 de fevereiro o custo com o combustível consumia cerca de 55% a 60% do valor recebido pelo frete”.

Ele reclama que o governo federal que lá atrás incentivou as compras, com juros de até 2,5% ao ano, fechou a principal linha, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Finame Caminhões. “O incentivo foi tão forte que qualquer um podia comprar caminhão e habilitá-lo ao transporte de cargas. Agora, quem financia cobra até 9% ao ano, quando que o ideal seria uma taxa anual entre 4% e 6%”. Consultado pelo Diário, o BNDES confirmou o fechamento temporário do Finame Caminhões para ajustes na nova política operacional para 2015.

Outra particularidade local, e faz com que a oferta de caminhões não acompanhe a expansão da safra, é a alteração logística. Como explica Baitaca, com o novo terminal ferroviário de Rondonópolis, no sul do Estado, a demanda por frete reduziu. “A viagem que durava três dias, agora dura dois e sobram, mais uma vez, caminhões”.

MAIS - As entidades que representam o transporte de cargas no Estado não têm um número preciso sobre o volume de caminhões em atuação, no entanto, há uma estimativa de que frota de mato-grossense de caminhões de grande porte, esteja acima de 5 mil unidades.

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