Velocidade média nos horários de pico cai a cada ano em BH

Publicado em
22 de Novembro de 2010
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A explosão da frota de Belo Horizonte na última década - o número de veículos saltou de 655 mil, em 2000, para quase 1,3 milhão, em 2010 - levou o trânsito da cidade planejada pelo engenheiro Aarão Reis (1853/1936) a recuar ao tempo das carroças. Levantamento da BHTrans em importantes corredores mostra que a velocidade média, no horário de pico da manhã, é um grande teste de paciência para motoristas e passageiros. O resultado são longas filas de congestionamentos, cruzamentos fechados, buzinaços e, claro, tempo - muito tempo mesmo - perdido a caminho do trabalho ou da escola.

A empresa municipal levantou o vaivém de carros em 17 vias. O maior martírio é enfrentado pelos que trafegam na estreita Rua Niquelina, no Bairro Santa Efigênia, na Região Leste, onde a velocidade média é de 13,42 km/h. A situação é crítica até mesmo em pistas construídas para evacuar o trânsito rapidamente, como na Via Expressa, que corta bairros da Região Oeste e Noroeste, com média de 24,5 km/h. A planilha da BHTrans foi elaborada em 2009 e leva em conta apenas a circulação de automóveis.

"A velocidade média vem reduzindo ano a ano", constatou o diretor de Planejamento da BHTrans, Célio Freitas. Ele atribui o resultado ao aumento estrondoso da frota, que cresce num ritmo bem mais acelerado que o da população. Hoje, há um veículo para cada 1,7 habitante da capital - enquanto a frota é de quase 1,3 milhão, a população soma 2.258.096 pessoas, segundo dados preliminares do Censo 2010, divulgados neste mês pelo IBGE. Em 2000, a relação era de um carro para cada 3,4 habitantes.

No entanto, a quantidade de veículos emplacados na cidade não é a única responsável pelo caos. A rápida verticalização do município em áreas cujo sistema viário é deficiente contribui para as retenções. É o caso dos bairros Santo Antônio, na Região Centro-Sul, e Buritis, na Oeste, onde sair de casa é um tormento na parte da manhã. A morosidade do poder público em desengavetar projetos viários prioritários, principalmente a expansão do metrô, pode, literalmente, parar o trânsito da cidade nos próximos anos.

O alerta vem do professor Ronaldo Gouvêa, do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da UFMG e ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). "A tendência, algum dia, é a do trânsito parar. Não se pode ir contra a lei da física: dois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo. É preciso mais investimentos em transporte público", defende o especialista. A planilha da BHTrans serve como estudo importante para mostrar à União a importância de o projeto da expansão do metrô ser retirado com urgência da gaveta.

A construção dos ramais 2 (Barreiro/Área Hospitalar) e 3 (Pampulha/Savassi) do trem metropolitano é essencial para convencer motoristas a deixarem os carros na garagem. Mas a megaobra não sairá do papel tão cedo: a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou que o projeto executivo da linha 2 ainda não foi concluído e o da 3 sequer tem data para começar. "Dizem que o metrô é caro, mas não fazem a conta de quanto a sociedade pagará, no futuro, com as horas perdidas nos congestionamentos", alerta Gouvêa.

Alternativa - A falta de otimismo para a ampliação do metrô obrigou a prefeitura a pensar num plano B. A saída foi elaborar projeto para implantar três ramais BRT (Bus Rapid Transit), sistema com eficiência semelhante ao do trem metropolitano: os ônibus trafegam em faixas exclusivas, e o embarque e o desembarque ocorrem em miniestações. Porém, todo o BRT só entrará em operação em dezembro de 2013. Até lá, os moradores continuarão reféns do tráfego.

Nem mesmo corredores planejados por Aarão Reis escapam das retenções. Na Avenida Afonso Pena, a velocidade média é de 32 km/h para quem segue em direção ao Bairro Mangabeiras. Se vivo fosse, o famoso engenheiro se assustaria com o atual tráfego da cidade, pois trecho do relatório assinado por ele, dois anos antes da inauguração da cidade (1897), deixou claro sua preocupação com o vaivém de carros.

"Às ruas, a largura de 20 metros, necessária para a conveniente arborização, a livre circulação dos veículos, o tráfego dos carros (.). Às avenidas, fixei a largura de 35 metros, suficiente para dar-lhes a beleza e o conforto que deverão, de futuro, proporcionar à população (.)". Aarão Reis jamais imaginaria que BH chegaria aos 113 anos com uma frota tão grande. Tampouco que a cidade teria muitas vias consideradas estreitas diante do excesso de carros.

"As baixas velocidades médias apontadas pela BHTrans são de percurso: incluem os tempos de parada. O cenário se consolida em razão da capacidade viária, sempre atingida, no horário de pico, em praticamente todos os corredores. Podemos explicá-lo em razão do tempo que os carros ficam parados nas filas, aguardando semáforos ou interseções que atendam o fluxo possível", afirma o engenheiro Frederico Rodrigues, diretor executivo da Imtraff Consultoria e Projetos de Engenharia e um dos maiores especialistas no estado.

Doutorando na área, ele é autor de uma pesquisa que apurou uma oscilação de mais de 60% na velocidade média pontual quando comparadas à circulação dos veículos no horário de pico e fora dele. "Imagine 300 passageiros de um Boeing que desejam sair do avião ao mesmo tempo. Haverá aglomeração de pessoas nas portas, as quais têm limite de vazão. O mesmo ocorre com o trânsito. Na pesquisa, verifiquei que a velocidade média pontual em BH varia mais de 60% ao longo do dia, isto é, em picos e entre picos, quando a diferença do número de veículos em circulação é gritante".

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