Veículo parado no tempo e "high tech" dividem as pistas

Publicado em
25 de Outubro de 2011
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A indústria brasileira de caminhões tem colocado no mercado veículos modernos, atualizados com as mais recentes tecnologias em matéria de eletrônica e recursos de fazer inveja à maioria dos carros de passeio - como sensores antissono, freios ABS, piloto automático e outros requintes. O país também já produz motores dentro das rigorosas normas europeias antipoluição. Ao lado desse show de modernidade, milhares de veículos estacionaram no tempo: 270 mil caminhões, mais de 20% da frota, têm mais de 30 anos de uso. São antieconômicos, defasados, mal conservados, poluidores e potencialmente perigosos.

O retrato da frota brasileira de caminhões foi levantado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e mostra outros 600 mil veículos de carga com mais de 20 anos de trabalho. Esses representam quase metade da frota, estimada pela ANTT em 1,3 milhão de veículos. Reduzir a idade média dos atuais 13 anos tem sido uma das principais questões debatidas pelo setor.

 

Em 2009, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) lançou o RenovAr (Plano Nacional de Renovação de Frota de Caminhões), proposta de substituição dos veículos de carga mais antigos. A ideia é formar uma frota mais segura, eficiente e menos poluente, afirma Clésio Andrade, presidente da CNT. O programa prevê o financiamento de veículos novos em condições especiais.

A primeira etapa do projeto está voltada para os caminhões com mais de 30 anos, a maioria dos quais (88%) nas mãos de autônomos. "A premissa é a entrega dos veículos velhos em troca de bônus oferecidos pelo governo federal para aquisição de caminhão com até oito anos", explica Newton Gibson, presidente da Associação Brasileira de Logística e Transporte de Cargas (ABTC). Para isso, é preciso que o modelo antigo seja retirado de circulação e enviado para sucateamento. O programa também prevê a criação de centros de reciclagem, para dar destinação ambientalmente correta ao material retirado de uso. A proposta da CNT prevê a renovação anual de 50 mil caminhões com mais de 30 anos.

Com ou sem financiamento especial, as vendas de caminhões continuam aquecidas. De janeiro a setembro, a Anfavea, associação das montadoras, registrou aumento de 15,2% nos licenciamento de caminhões produzidos no Brasil e de 59,8% nos importados, em comparação com os mesmos nove meses de 2010. De acordo com a entidade, devido ao crescimento econômico e aos investimentos em rodovias, as vendas de caminhões devem continuar em expansão.

A Anfavea informa ainda que as montadoras têm investido na expansão da produção e em inovações tecnológicas. De acordo com a entidade, o setor está pronto para a demanda gerada pelos programas de renovação da frota. O Brasil é o quarto maior mercado do mundo para caminhões, diz a Anfavea.

Apesar do crescimento das vendas, a fila de espera para aquisição de veículos novos diminuiu em relação a 2009. De quase seis meses de espera, agora está na média em 30 dias. "Há dois anos, comprar caminhão era impossível", afirma Paulo Fleury, diretor geral do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). "Hoje temos novas fábricas se instalando no país. Não se consegue um veículo para pronta entrega, mas já melhorou."

O crescimento tem sido maior nos veículos pesados, o que indica necessidade de transporte de maiores volumes. Com base nos dados da Anfavea para o período de 2006 a 2010, a venda de caminhões pesados cresceu 176% e a de semipesados, 175%. Os dois segmentos saltaram de 39,9 mil unidades em 2006 para mais de 109,8 mil em 2010 - e os pesados ficaram com 49% desse total. No mesmo período, os negócios com veículos semileves aumentaram apenas 4%, pulando de 8,4 mil para 8,8 mil.

Por Eduardo Belo | Para o Valor, de São Paulo

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