Segredo está na média ponderada dos aumentos dos insumos
Para orientar os reajustes de fretes, a NTC publica mensalmente, além das planilhas de custos do Decope para cargas fracionadas, lotações e grandes massas (ver arquivo "cton" nos Indicadores para Associados, site www.ntc.org.br), os Índices Nacionais do Custo do Transporte (INCT) pesquisados pela FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas da USP: a) INCTR – Índice Nacional do Custo do Transporte Rodoviário (transferências); b) INCTCE – Índice Nacional do Custo do Coleta e Entrega; e c) INCTA – Índice Nacional do Custo do Transporte Ampliado, obtido pela combinação dos dois anteriores.
Dentro da atual conjuntura, de grandes aumentos de custos variávies, especialmente do diesel, a aplicação destes índices oficiais apresenta algumas limitações. Uma delas é que sua estrutura foi montada para o transporte de carga fracionada. Isto eleva bastante o peso das Despesas Administrativas e de Terminais, que são computadas como parcela do custo de transferência do INCTR. Por exemplo, para a distância média (800 km), a participação do DAT no frete da tonelada movimentada chegava a 51,10% em novembro de 2.002, restando 24,54% para os custos fixos, 20,58% para os custos variáveis, 3,78% para o Gerenciamento do Risco-GRIS (sem a mão-obra, que é computada integralmente no DAT), e 9,91% para o lucro (11% sobre o custo).
Este grande peso do DAT tem funcionnado como freio contra os aumentos dos índices. Ocorre que esta é a despesa que menos vem aumentando (7,10% nos últimos 12 meses). Da mesma forma, os custos fixos têm mostrado evolução moderada (9,24%). Já os custos variáveis foram os que mais subiram (37,42%) nos últimos doze meses, mas seu peso é muito baixo na matriz da Fipe. Só para se ter uma idéia, o peso do combustível (que subiu 54,89% entre dezembro de 2.001 e dezembro de 2.002), é de apenas 12,86% para o percurso de 800 km. Ou seja, toda esta escalada do insumo representou crescimento de apenas cerca de 7,06% no INCTR, para distâncias médias.
É possível que, para o futuro, esta tendência de contenção do DAT e aumento dos custos variáveis acabe revertida, aumentando a conveniência de se aplicar o INCT. No entanto, enquanto isso não acontece, pode haver interesse tanto do transportador quanto do embarcador em estabeleccer um critério específico de reajuste de fretes, especialmente para cargas fracionadas com DAT menor que o da Fipe (R$ 122,93 por tonelada) ou para cargas não fracionadas.
Este artigo procura orientar os interessados sobre a maneira correta de se montar a fórmula de reajuste, que poderia ser transformada em cláusula contratual.
Fórmula de cálculo
Normalmente, utiliza-se para cálculo do reajuste uma média ponderada dos aumentos dos insumos:
R (%) = (P1.R1 + P2.R2 +....+ Pn.Rn)/100
P1 = Peso do insumo 1
P2 = Peso do insumo 2
Pn = Peso do insumo n
R1 = Aumento do insumo 1
R2 = Aumento do insumo 2
Rn = Aumento do insumo n
Para se obter o reajuste:
- Multiplica-se o peso percentual de cada insumo pelo seu aumento de preços no período;
- Somam-estes produto
- Divide-se o resultado por 100, se isso ainda não tiver sido feito antes.
Escolha dos insumos
Sugere-se selecionar os principais insumos acompanhados pela Fipe e pelo Decope, ou seja:
- Preço do veículo
- Preço da carroçaria ou carreta
- Salário do motorista e ajudante, se houver.
- Salário médio do pessoal de oficina
- Combustível
- Óleo de cárter
- Óleo de câmbio e diferencial
- Pneus
- Recapagens
- Lavagem
- DAT - Despesas Administrativas e de Terminais
Eventualmente, devido ao seu pequeno peso, podem ser excuídos itens como a carroçaria (deixando apenas o veículo), o óleo de carter e o óleo de câmbio e diferencial (deixando apenas o diesel).
No caso dos pneus, pode ser conveniente trabalhar também com a recapagem, que representa parcela significativa do custo.
Não foi incluído o pedágio, porque, de acordo com a legislação do vale pedágio, esta é uma despesa do expedidor. No caso de lotação usando frota própria, o vale pedágio deve ser fornecido diretamente pelo embarcador. Já no caso de carga fracionada, ou lotação usando carreteiros, o custo deve ser cobrado à parte, por meio de destaque no campo específico do conhecimento, sem lucro ou prejuízo para o transportador.
Não foram computadas também as depesas de gerenciamento de risco (GRIS), que são cobradas à parte, por meio uma taxa percentual sobre o valor da mercadoria.
Aumentos insumos
O ideal é que a empresa disponha dos seus próprios dados (reais) sobre o aumento dos insumos escolhidos, no período desejado. Caso isso não aconteça, pode lançar mão do levantamento disponível para download no site www.ntc.org.br, (confira aqui>>>)
Este, aliás, constitui um excelente exemplo de como usar esses dados como ferramenta de apoio nas negociações com embarcadores.
Pesos dos insumos
O peso dos insumos varia com o tipo de transporte (fracionado, lotação, carga líquida, carga frigorificada etc) e com o percurso. Quanto maiores as despesas administrativas, menor a participação dos demais insumos e vice-versa. Quanto maior o percurso, maior a participação dos custos de transferência, especialmente dos custos variáveis.
O ideal é que a empresa disponha de sua própria planilha custos e de pesos. Caso isso não aconteça, sugere-se: a) lançar mão do arquivo pesorod, disponível no site do NTC, quando se tratar de carga fracionada; b) lançar mão do arquivo cton, disponível no site da NTC, quando se tratar de lotação. Em ambos os casos, apresentam-se os pesos para distâncias muito curtas (50 km), curtas (400 km), médias (800 km), longas (2.400 km) e muito longas (6.000 km). Mas, em qualquer dos arquivos, o percurso em km pode ser substituído por qualquer valor desejado. O próprio sistema se encarrega de refazer os cálculos.
Para prencher a coluna de peso dos insumos, convém lembrar que o preço do veículo determina os aumentos de reposição do veículo, licenciamento, seguros e grande parte do aumento da remuneração do capital. No caso do caminhão trucado usado pela Fipe, por exemplo, o veículo representa cerca de 90% do capital empatado, restando apenas 10% para a carroçaria. O cálculo poderia ser simplificado, excluindo-se a carroçaria e atribuindo-se o aumento da remuneração exclusivamente ao veículo. No modelo da Fipe, o preço do veículo determina também o custo da peças.
Admitindo-se o cálculo com carroçaria, seu peso seria, no caso do custo da Fipe, de 10% do peso da remuneração do capital.
No caso das peças, também, a maior parte (90% no caso da Fipe) pode ser atribuída ao veículo, ficando a diferença para o implemento rodoviário.
Assim, o peso do veículo seria obtido somando-se as participações da reposição do veículo, licenciamento, seguros, a maior parte das peças e a maior parte do peso da remuneração do capital.
No caso dos pneus, entram também na composição dos custos os preços de câmara, protetor e recapagem. Os dois primeiros são pequenos ou inexistentes, no caso de pneus sem câmaras. Já a recapagem pode representar até 30% do custo total. Assim é conveniente entrar com cerca de 70% do peso obtido na planilha para os pneus e 30% do mesmo peso para a recapagem.
Se houver fusão entre os itens combustível, óleo de carter e óleo de câmbio e diferencial, será necessário somar os três pesos.
Convém lembrar também que a soma de todos os pesos sempre deve ser igual a 100% (ou 1,00, caso se queira usar os pesos já divididos por 100).
Convém lembrar também que os pesos obtidos devem sofrer revisão periodicamente, pois os custos dos insumos aumentam de maneira desigual ao longo do tempo. Um bom exemplo é a evolução do peso do diesel, que passou de 7,98% em julho de 2.000 para 12,86% em novembro de 2.000 na planilha do INCTR, para distância de 800 km.
Exemplo
Uma empresa está assinando um contrato para transportar carga completa a uma distância de 2.000 km. Convencionou com o cliente que o reajuste será feito de acordo com os aumentos dos insumos publicados pelo Decope (confira aqui>>>). Os pesos serão adaptados do arquivo do Decope cton para cavalo Scania com carreta de três eixos, admitindo-se que as Despesas Administrativas e de Terminais (DAT) sejam de R$ 30,00 por tonelada. Montar a fórmula de reajuste.
O primeiro passo consiste em adaptar o arquivo às condições particulares, ou seja, ao DAT da empresa e ao percurso do contrato, conforme a tabela 1.
Tabela 1 - Peso dos componentes no custo total Fonte: arquivo cton1102 |
||||
COMPONENTES |
CUSTOS OPERACIONAIS |
2000 km R$/t.km |
PESO % |
INSUMO DETERMINANTE |
A-Custo Fixo Mensal |
9.264,2678 |
0,0479 |
45,66 |
|
Remuneração do capital |
2.481,2426 |
0,0128 |
12,20 |
Veículo/equipamento |
Salário motorista |
1.737,9008 |
0,0090 |
8,58 |
Salário do motorista |
Salário oficina |
474,1806 |
0,0024 |
2,29 |
Salário de oficina |
Reposicao veículo |
1.758,0682 |
0,0091 |
8,67 |
Veículo |
Reposicão equipamento |
423,3150 |
0,0022 |
2,10 |
Equipamento |
Licenciamento |
242,2467 |
0,0013 |
1,24 |
Veículo |
Seguro do veículo |
1.750,4842 |
0,0090 |
8,58 |
Veículo |
Seguro do equipamento |
285,1630 |
0,0015 |
1,43 |
Veículo |
Seguro Resp. Civil. |
111,6667 |
0,0006 |
0,57 |
Veículo |
|
||||
B-Custo Variável/km |
0,9244 |
0,0420 |
40,03 |
|
Pecas, aces.e mat. |
0,2156 |
0,0098 |
9,34 |
Veículo |
Combustível. |
0,5212 |
0,0237 |
22,59 |
Combustível |
Lubrificantes |
0,0095 |
0,0004 |
0,38 |
Oleo cárter/óleo câmbio |
Lavagens e graxas |
0,0381 |
0,0017 |
1,62 |
Lavagem |
Pneus. |
0,1401 |
0,0064 |
6,10 |
Pneus/recapagem |
|
||||
C-Custo Operac. (A+B). |
0,0899 |
85,69 |
||
|
||||
D-Admhttp://www.guiadotrc.com.br/Term. R$/tonelada |
30,00 |
0,0150 |
14,31 |
|
Custo Total Geral |
0,1049 |
100,00 |
Parâmetros operacionais |
|
Pecurso (km) |
2.000 |
Horas por mês |
207 |
Velocidade média (km/hora) |
50 |
Tempo carga/descarga (horas) |
7 |
km/mês |
8.809 |
Aproveitamento (toneladas) |
22,00 |
Determinação dos pesos
Passa-se agora à determinação dos pesos. Quando o insumo está contido num único ítem de custo, não há dificuldade. É o caso de salário do motorista (8,58%), salário de oficina (2,29%), combustível (22,59%) e lavagens e graxas (1,62%).
Há insumos, como veículo e implementos, que aparecem em mais de um ítem. No caso do veículo, ele é inteiramente responsável pelos custos de reposição do veículo (8,67%), licenciamento (1,24%), seguro do veículo (8,58%), e seguro de responsabilidade civil (0,57%). No entanto, ele é apenas parcialmente responsável pela remuneração do capital e pelo consumo de peças (12,2%).
Consultando-se o custo do Scania de novembro de 2002 (arquivo cust1102), constata-se que o veículo completo representa aproximadamente 88% da importância total a remunerar. Portanto, seu peso será de 10,74% (12,2%x0,88).
Da mesma forma, pode-se atribuir 88% dos custos de peças ao veículo, ou seja, 8,21% (88% do 9,34%).
O peso do veículo, portanto, será o da tabela 2.
Tabela 2 - Peso do veículo |
|
Item |
Peso (%) |
Reposição |
8,67 |
Licenciamento |
1,24 |
Seguro do veículo |
8,58 |
RCF |
0,57 |
Remuneração |
10,74 |
Peças |
8,21 |
Peso do veículo |
38,01 |
O implemento (carreta) gera custos de reposição de 2,10%, seguros de 1,43% remuneração do capital de 1,46% (0,12x12,20%) e peças 1,12% (12% de 9,34%), totalizando 6,11%.
No caso dos lubrificantes, a planilha do Scania indica que 86% do custo é provocado pelo consumo do óleo do cárter, restando 14% para o óleo de câmbio e diferencial. Como se trata de um custo muito pequeno, para simplificar, pode-se atribuir 100% do aumento deste custo à variação do preço do óleo de cárter, cujo peso seria então de 0,38%.
No caso do pneu e da sua recuiperação, como são usadas duas recapagens, a planilha mostra que esta recuperação responde por 26,6% do custos, restando 73,4% para o pneu novo. Na hora de se fazer o reajuste, deverá ser realizada uma média ponderada dos aumentos de preços do dois ítens, obedeceno-se os pesos acima.
Os pesos, portanto, seriam os da tabela 4
Tabela 4 – Pesos dos insumos |
|||
Item |
Insumo |
Peso (%) |
Observação |
1 |
Veículo |
38,01 |
88% de peças e remuneração |
2 |
Implemento |
6,11 |
12% de peças e remuneração |
3 |
Salarios motorista e oficina |
10,87 |
|
4 |
Combustível |
22,59 |
|
5 |
Óleo de cárter |
0,38 |
|
6 |
Pneus e recapagens |
6,10 |
73,4% pneus e 26,6¨% recapagens |
7 |
Lavagem e graxas |
1,62 |
|
8 |
Desp. Adm/Terminais |
14,32 |
Valor arredondado para fechar 100% |
|
Total |
100,00 |
|
Fórmula de reajuste
Sejam
RI = Aumento do preço do implemento
RSMO = Aumento dos salários de motorista e oficina
RC = Aumento do combustível
ROC = Aumento do óleo de cárter
RPR = Aumento de pneus e recapagens
RLG = Aumento de lavagem e graxas
RDAT = Aumento das despesas administrativas e de terminais
O reajuste necessário será:
R(%) = 0,3801.RV + 0,0611.RI+ 0,1087. RSMO +0,2259.RC +0,0038.ROC+0,,0610.RPR+ 0,0162.RLG+ 0,1432.RDAT
Exemplo didático
Admita-se que serão usados os pesos acima para realizar reajuste no período de novembro de 2.001 a novembro de 2.002. Neste período foram levantados nos arquivos evinsum, cust1101 e cust1102 os aumentos da tabela 5.
Tabela 5 – Aumentos dos insumos em 12 meses |
|||
Item |
Insumo |
Aumentos (%) |
Observação |
1 |
Veículo |
32,01 |
|
2 |
Implemento |
25,01 |
|
3 |
Salarios motorista e oficina |
8,30 |
|
4 |
Combustível |
44,14 |
|
5 |
Óleo de cárter |
11,11 |
|
6 6 a |
Pneus Recapagens |
27,80 37,70 |
73,4% de 27,80 = 20,41 26,6% de 37,70 = 10,03 |
7 |
Lavagem e graxas |
27,08 |
Média ponderada= 30,44 |
8 |
Desp. Adm/Terminais |
7,66 |
|
Fontes: arquivos evinsum, cust1101 e cust1102 |
Tem-se, portanto, o reajuste da tabela 6.
Tabela 6 – Reajuste necessário em 12 meses |
||||
Item |
Insumo |
Aumentos (%) em 12 meses |
Pesos (%) no custo |
Produtos |
1 |
Veículo |
32,01 |
0,3801 |
12,17 |
2 |
Implemento |
25,01 |
0,0611 |
1,53 |
3 |
Salarios motorista e oficina |
8,30 |
0,1087 |
0,90 |
4 |
Combustível |
44,14 |
0,2259 |
9,97 |
5 |
Óleo de cárter |
11,11 |
0,0038 |
0,04 |
6 |
Pneus e recapagens |
30,44 |
0,0610 |
1,86 |
7 |
Lavagem e graxas |
27,08 |
0,0162 |
0,44 |
8 |
Desp. Adm/Terminais |
7,66 |
0,1432 |
1,10 |
|
Reajuste (%) |
|
1,0000 |
28,01 |
O reajuste totaliza 28,01%, percentual muito superior aos 14,41% registrados pela Fipe para carga fracionada no mesmo período, para distância de 2.000 km. As grandes diferenças estão nas despesas indiretas muito menores (R$ 30,00 contra R$ 131,01); na variação do preço do Scania, que foi muito maior do que a Mercedes 1620, veículo usado no INCT; e no aumento do peso dos custos de transferência, em particular dos custos variáveis, especialmente do diesel.