Prestes a completar seis anos, o PAC já desembolsou essa fábula de dinheiro sem cumprir a meta prometida — fazer o Brasil crescer. Um levantamento inédito organizado por EXAME mostra o que deu errado
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Economia travada: o atraso na duplicação da BR-101 afugenta investidores
De lá para cá, 1 trilhão de reais deixou o caixa da União, de estados, municípios, estatais e empresas privadas rumo a algum projeto do PAC. Mas ocrescimento não reagiu: neste ano, o PIB deve avançar 1%. Qual é, afinal, o problema? Na prestação periódica de contas, tudo parece em ordem — na última, nada menos que 84% das obras estariam prontas ou dentro do prazo.
Só 5% levaram “luz vermelha”, o que indica uma situação preocupante. O difícil é aferir a contabilidade oficial. Ao longo de cinco anos, o PAC se tornou o guarda-chuva de uma miscelânea de 22 000 projetos.
Não existe relação entre a construção de quadras esportivas, a compra de petroleiros e a abertura de creches, mas tudo isso está no PAC. Aliás, hoje já há uma dezena de PACs — filhotes como o da Copa, o das Crianças e o da Comunidade Cidadã. Para completar, em 2011 o PAC que deu origem à série foi substituído pelo PAC 2, com novos e velhos projetos. Boa parte das obras de infraestrutura que prometiam mudar a realidade do país foi de um PAC a outro, após estouros de custo e de prazo.
Para tentar entender o que, de concreto, acontece com o programa, EXAME encomendou a três consultorias a mais completa radiografia já feita sobre o estágio das obras. Ao longo dos últimos meses, as consultorias Ilos (de logística) e PwC (de gestão) e a ONG Trata Brasil (de saneamento) analisaram o estágio de 135 das principais obras do PAC.
Juntas, essas obras representam quase 40% dos investimentos em infraestrutura em curso no país nos setores de energia, saneamento, transporte e recursos hídricos. As obras foram olhadas, uma a uma, para saber ao certo o estágio atual. O retrato é bem menos positivo. Só 7% delas foram concluídas, e a maioria — 62% do total — está atrasada. “O PAC virou uma caixa de obras aleatórias, sem um projeto de desenvolvimento por trás”, diz Paulo Fleury, diretor da Ilos.
O economista Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, chama essas obras de barragens de riqueza. “Enquanto não são inauguradas, elas consomem recursos, mas criam poucos benefícios”, diz Castello Branco. “A transposição do rio São Francisco já recebeu quase 4 bilhões de reais e ainda não irriga nem um palmo de terra.”
De acordo com estimativa da Tendências Consultoria, feita a pedido de EXAME, se o Brasil conseguisse melhorar sua infraestrutura, o país estaria em outro patamar. O PIB teria crescido 5,1% ao ano de 2007 a 2012 — 1,4 ponto percentual acima da média do período. “As obras geram mais riqueza depois de concluídas”, afirma Felipe Salto, economista da Tendências.
Não existe uma razão genérica que explique por que as obras se arrastam. “Há de tudo um pouco”, diz Édison Carlos, diretor do Trata Brasil. “Ineficiência na gestão, projetos malfeitos, leis confusas e corrupção.” Uma importante lição geral pode ser extraída do PAC. “Cada dificuldade para tirar uma obra do papel mostra uma ineficiência a ser combatida”, diz Richard Dubois, sócio da PwC Brasil. “Dado o diagnóstico, o que devemos fazer para melhorar?”
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