TRC: último reduto da concorrência perfeita*

Publicado em
03 de Março de 2016
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Pode-se dizer, sem medo de errar, que o Transporte Rodoviário de Cargas (TRC) é um dos últimos redutos da concorrência perfeita. Seu mercado é extremamente pulverizado, competitivo e sazonal.

De acordo com dados da ANTT, estavam cadastrados, em 15 de dezembro de 2015, mais de 1,086 milhão de operadores (tabela), sendo quase de 903 mil autônomos, mais de 183 mil empresas e 428 cooperativas. Estes agentes operavam uma frota total de mais de 2,317 milhões de veículos (incluindo reboques e semirreboques), sendo 1,243 milhão de empresas (53,6%), 1,055 milhão de autônomos (45,5%) e pouco mais de 18,4 mil de cooperativas (0,9%).

Transportadores e frota de veículos

TIPO

Registros

Veículos

Veículos/transportador

Autônomo

902.959

1.055.619

1,2

Empresa

183.480

1.243.616

6,8

Cooperativa

      428

      18.421

43,0

Total

1.086.867

2.317.653

21,0

Fonte: ANTT

Entre as 183 mil empresas, certamente, estão cadastrados milhares de carreiros que operam como pessoas jurídicas. O consultor Geraldo Vianna estima que não existam mais do que 5 mil empresas grandes e médias. São aquelas que operam no chamado mercado primário, ou seja, contratando as cargas diretamente dos embarcadores ou dos operadores logísticos. Já os autônomos ou micro empresas operam predominantemente no mercado secundário (subcontratação).

Pelo alto percentual de autônomos, fica claro também, o alto grau de terceirização. Outra característica marcante do setor, segundo Vianna, é, salvo nichos específicos, a baixa fidelização dos clientes, que escolhem transportadoras com base no preço, raramente com base na qualidade. Agem como se o transporte fosse uma commodity.

Esta estrutura do mercado gera, segundo um consultor, o corrosivo fenômeno da oferta artificial. As grandes e médias transportadoras vão ao mercado buscar carga contando com a mesma legião de autônomos. O resultado é o aviltamento dos fretes, evidenciado pela última paralisação dos caminhoneiros.

Outra característica do mercado que contribui para a tanto é a baixa regulação do setor. Ao contrario dos setores de ônibus e táxis, regulados por  concessão pública, os operadores do TRC estão sujeitos a mero registro (RNTRC) na ANTT.

É fácil, entrar, mas difícil de sair, uma vez que o autônomo, geralmente, tem baixa formação escolar.

São estas características que tornam o TRC uma atividade de risco e de baixa rentabilidade.

 
Neuto Gonçalves dos Reis
Diretor Técnico Executivo da NTC&Logística, membro da Câmara Temática de Assuntos Veiculares do CONTRAN e presidente da 24ª. JARI do DER-SP.
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