Traseira arrebitada é comum no setor de hortifruti

Publicado em
16 de Agosto de 2013
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Difícil é encontrar caminhoneiro na Ceagesp que não tenha feito a mudança ilegal

Se tem um setor no qual as traseiras erguidas são uma febre é o de transporte de hortifruti. É só dar um pulo na Ceagesp, em São Paulo, para constatar que difícil é encontrar um caminhão ou carreta sem a alteração, que é ilegal, mas muita gente não sabe. Em geral, os caminhoneiros alegam razões estéticas para “arrebitar” a traseira, mas há quem pense que a mudança traz mais estabilidade, ideia equivocada segundo os engenheiros.

“Coloquei um grupo de cinco molas a mais, porque sei que o calço é proibido. Fiz isso, em primeiro lugar, porque, na curva, o veículo ganha aderência ao movimento, faz com mais facilidade. E, em segundo lugar, o caminhão fica mais bonito”, afirma Flávio Rigueti, 36 anos, que transporta laranja. Na verdade, tanto o calço como a mola são proibidos (clique aqui e leia mais).

Cloadoaldo Soares, 57 anos, estava na Ceagesp dia 26 de julho com uma carga de abacaxi. Ele disse o seguinte: “Dei um jeito de dar uma arrebitada no caminhão, sim. Porque, reto, ele dança muito. Agora, mais reforçado, ele é mais firme nas curvas. Ainda que digam que fica caminhão de boyzinho.”

Tem gente que coloca mais mola alegando que, assim, pode carregar mais carga. Mas carregar carga além do permitido para o tipo do veículo também é ilegal. “De 11 molas, coloquei um feixe novo e agora está reforçado: com 24 molas. Além de reforçar o veículo, isso ainda me permite colocar mais peso de carga”, declara Gustavo Henrique Soares de Almeida, 32 anos, que transportava abóbora.

Já Amauri Fernando Rosa, 33 anos, que puxa melancia, só fez a mudança por estética. “Acho que o caminhão fica mais bonito assim, e não influencia em nada na estabilidade. Gastei uns R$ 500, R$ 600 para a adaptação”,declara. Com uma carga de laranja, o colega Adriano Oliveira, 34 anos, apresenta o mesmo motivo. “Coloquei mais molas, nem lembro quantas. Basicamente, porque deixa o caminhão mais bonito”, afirma.

Há sempre uma exceção para confirmar a regras. José Aldair Scalfoni, 63 anos, não só não alterou a traseiro do veículo como critica quem o fez. “Acho inadequado, o veículo fica instável. O povo gosta dessa modinha, acha bonito, mas eu não concordo”, resume.

Scalfoni, que puxava coco verde, tem razão. O engenheiro especializado em transporte Rubem Penteado de Melo diz que a mudança põe em risco a estabilidade e a durabilidade do veículo. “Há um impacto grande. A elevação da traseira transfere mais peso para os eixos dianteiros, comprometendo a estabilidade”, afirma.

Outro problema, segundo Melo, é que o cardã fica muito inclinado. “Assim, o diferencial vai ‘roncar’ e causar danos ao rolamento”, declara. Além disso, de acordo com ele, ao fazer a alteração, muda-se a altura do para-choque traseiro, que perde sua função.

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