Mais de 60% das empresas responsáveis pelo transporte rodoviário de cargas no país preveem que o impacto da pandemia de coronavírus sobre suas atividades se estenderá por, no mínimo, quatro meses
A maioria das transportadoras também alerta que não tem como ultrapassar um período de 30 dias operando sem apoio financeiro, colocando no radar do governo a necessidade de algum tipo de auxílio para evitar que o frete de produtos essenciais, inclusive alimentos e medicamentos, seja colocado em risco.
Os dados fazem parte de uma pesquisa inédita da Confederação Nacional do Transporte (CNT), com 776 empresas de cargas e de passageiros de todos os modais, entre os dias 1º e 3 de abril.
O cenário detectado na sondagem é devastador em praticamente tudo que se olha, mas chama especial atenção o segmento de cargas rodoviárias, pela importância para o funcionamento do sistema logístico, ainda fortemente baseado no transporte de mercadorias por caminhões.
Três em cada quatro empresas desse segmento relataram queda superior a 20% na demanda por seus serviços em março — quando foram tomadas as primeiras medidas para o isolamento social. Isso está longe, no entanto, de ser um retrato apenas do passado. Para 58% das transportadoras, a redução de faturamento nos próximos 30 dias será de 40% ou mais. Entre as razões apontadas estão menos demanda, dificuldades operacionais por restrições de movimentação nas cidades, inadimplência por parte dos embarcadores e até cancelamento de contratos.
Os empresários do segmento foram questionados sobre eventuais medidas do governo para aliviar a situação de crise no ramo em que atuam. A suspensão da cobrança de PIS e Cofins, disponibilização de linhas de crédito com carência estendida e juros reduzidos, eliminação temporária de impostos que incidem sobre combustíveis estão entre as ações mais pleiteadas. Um terço dos entrevistados, porém, afirma que está mais difícil agora do que antes da pandemia ter acesso ao crédito para capital de giro.
O presidente da CNT, Vander Costa, diz que a análise dos resultados da pesquisa, de forma segmentada, ajuda na busca por soluções para os problemas atuais do setor. "Conhecer os problemas causados pela pandemia nos permite efetuar ações coordenadas e efetivas", avalia. Segundo, a entidade tem trabalhado em diversas frentes -- com o Executivo, o Judiciário e o Legislativo -- para manter a atuação do transporte e garantir o abastecimento no Brasil.
Outra área duramente impactada é a de transporte rodoviário de passageiros: quase dois terços das empresas acreditam em queda superior a 80% do faturamento nos próximos 30 dias. E 54,7% dizem ter condições de operar por, no máximo, um mês sem apoio financeiro. Apenas 12,3% dos donos de linhas interestaduais e intermunicipais -- as viações urbanas entram em outro segmento -- acham que o impacto da pandemia durará até três meses. A maioria afirma que levará de quatro a oito meses (37%) ou de nove a 12 meses (20,5%).