84% das empresas de transporte rodoviário de carga tiveram uma queda média de 19,13% no faturamento, no ano passado. É o que aponta uma pesquisa realizada pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), em colaboração com a Agência Nacional de Transportes Terrestre (ANTT), divulgada nesta quinta-feira (9). O estudo, que está sendo discutido no Conselho Nacional de Estudos em Transporte (Conet&Intersindical), em Rio Quente (GO), também identificou uma defasagem de 24,83% nos valores de fretes de carga lotação e de 11,77%, no caso das fracionadas. Foram ouvidas 1.785 transportadoras no País.
De acordo com a pesquisa, houve importantes aumentos de custos no período. Entre eles, os salários subiram em média 8,72% e o combustível, 4,25%. As despesas administrativas sofreram aumento de 9,20%; a manutenção, de 6,58%; o preço do veículo, de 5,61%; e a lavagem, de 8,40%.
O estudo também cita a redução do volume de carga, provocada pela recessão dos últimos dois anos, quando a queda do Produto Interno Bruto (PIB) deverá ultrapassar 7%. Segundo a Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR), o movimento de veículos pesados que passam pelas praças de pedágio caiu 6,72% somente no ano passado. Desde 2013, a queda é de 14,82%.
Para o consultor financeiro especializado em transporte de carga, Ed Trevisan, de Curitiba, a queda do faturamento é “reflexo da situação econômica do País como um todo, e por ser um problema macro, as soluções terão que vir da retomada da indústria”. Ele ressalta que a defasagem do frete vinha caindo ano a ano durante o boom da economia. “Mas nos últimos dois anos começou a crescer novamente, chegando agora em 24,83 para a carga tipo lotação, ou seja, o transportador que faz este tipo de frete está fatalmente perdendo dinheiro, porque ele não tem margem de lucro suficiente para cobrir esta defasagem”, ressalta.
Trevisan cita a teoria de Darwin para falar sobre o futuro do transporte. “Só os mais fortes vão sobreviver.” Nas cargas tradicionais, na opinião do consultor, ficarão as médias e grandes empresas. Os pequenos só vão resistir caso se unam no sistema cooperativista. “Nas cargas especializadas, as chances são muito maiores de sobrevivência, mesmo sendo pequeno, pois quando se é especialista em algo você tem menos concorrência”, acredita.
INSEGURANÇA
Além da pesquisa, os transportadores também discutiram especificidades do transporte no RIo de Janeiro, no Conet&Intersindical, que vai até domingo. O assessor técnico da NTC&Logística, Lauro Valdívia, explica que, devido à criminalidade, as transportadoras criaram uma taxa, a Emerge?ncia Excepcional (Emex), para atuar na Grande Rio. “Pela primeira vez, as empresas estão tendo de usar escolta para rodar com seus caminhões em área urbana”, afirma.
De acordo com ele, essa é uma situação que piorou muito no último ano. “Tem seguradora que não faz apólice para transporte de carga no Rio de Janeiro. As que aceitam aumentaram a franquia e reduziram o valor que garantem”, conta. Por causa disso, algumas transportadoras deixaram de atuar na cidade. Segundo Valdívia, os participantes do Conet discutiram a possibilidade de levar a Emex também para o Espírito Santo, que atualmente enfrenta sua maior crise de segurança pública.