O trabalho continua, mas a rotina mudou. Esta é a realidade das transportadoras gaúchas associadas ao SETCERGS e outros sindicatos patronais do setor. Medidas mais rígidas para garantir a segurança e a vida dos colaboradores foram adotadas logo que a pandemia do novo coronavírus chegou ao país. O setor de transporte rodoviário de cargas e logística foi considerado como uma das atividades essenciais, que não podiam parar, pelas autoridades nacionais, estaduais e municipais. Mas o modo de trabalhar precisou ser adaptado, dentro e fora das sedes.
Entre as medidas prontamente adotadas, se destacam algumas: orientação aos colaboradores sobre cuidados com a higiene, home office (especialmente para as pessoas acima de 60 anos de idade e ou com doenças crônicas) para grande parte das equipes, entrega de equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras e luvas, aos funcionários que precisaram seguir na linha de frente (motoristas, por exemplo), compra de álcool em gel 70% e kits de higiene tanto para quem trabalha nas sedes, nos terminais e nos caminhões, vacinação contra a gripe (quando foi possível encontrar doses disponíveis no mercado), medição da temperatura de todos que entram e saem das transportadoras, desinfecção dos veículos e dos ambientes de trabalho, entre outras ações.
Com a duração da quarentena, a incerteza de quando a mesma termina e a queda no volume de mercadorias transportadas, as empresas, amparadas na lei (medidas provisórias 927 e 936), tiveram que conceder férias antecipadas, reduzir jornada de trabalho e salário, suspender contratos e até demitir. O percentual varia muito conforme cada caso.
Para citar apenas um exemplo, a Vitlog Transportes foi, recentemente, fiscalizada pela prefeitura de Porto Alegre e obteve nota 10 do governo municipal. Estiveram na matriz, que fica na capital gaúcha, dois fiscais da prefeitura para avaliar as ações de prevenção ao Covid-19. Segundo a supervisora de departamento pessoal da Vitlog, Niviane Silva, a transportadora foi considerada extremamente organizada em suas práticas para garantir a saúde e a segurança de todos.
Niviane explica que as medidas foram implementadas e incorporadas por todos, começando com um trabalho de comunicação interna, que fez e distribuiu materiais explicativos: “Os folders tem orientações para diversas situações e cargos, como, por exemplo, cuidados que os motoristas devem ter na estrada e, quando voltam, na hora de entrar em suas casas. Todos ganharam máscaras e kits de higiene. Explicamos a importância de logo tirar e lavar as roupas e os sapatos usados”.
Mas, logicamente, a preocupação não se restringe aos motoristas. “Todo mundo recebeu material com instruções e regras. Cada funcionário ganhou duas máscaras cirúrgicas e, agora, já usam as suas próprias, de tecido. Colocamos álcool em gel 70% e também álcool líquido em todas as salas e áreas de uso comum, para higiene das mãos e limpeza das mesas, computadores, telefones, maçanetas. Pelos menos três vezes ao dias as equipes de limpeza fazem isso. Também mantemos as janelas abertas para ter os ambientes arejados e ventilados”, conta Niviane.
Outro ponto muito importante é o refeitório: “Mesmo estando com menos gente na sede, nós estabelecemos três horários diferentes de almoço para evitar aglomeração e manter um distanciamento entre as mesas. Fizemos um corredor, com cones, para que todos sejam obrigados a lavar as mãos na entrada e na saída. E ainda orientamos a evitarem conversar, pois ali estão sem máscara”. Outro cuidado, no armazém, é manter uma doca vazia e uma doca com caminhão, mas sempre aberta para garantir a circulação do ar. Além das ações mencionadas, os colaboradores mantêm o hábito, com o devido distanciamento, de fazer uma oração diariamente, às 9h.
A RTE Rodonaves também segue a mesma linha de cuidados. Segundo o diretor da unidade Porto Alegre/RS, José Antonio Cincos Junior, 90% quadro de funcionários foi liberado para home office e praticamente todo o atendimento ao cliente é feito de forma remota. “Na sede, ficaram as pessoas que precisam lidar diretamente com as mercadorias ou clientes que vem retirar. Exigimos que todos entrem de máscara na empresa. Aliás, entregamos gratuitamente máscaras para todos os colaboradores. Colocamos álcool em gel 70% em todos os ambientes, não estamos fazendo reuniões ou treinamentos presenciais, tudo é feito de forma virtual, como videoconferências”, explica.
Cincos relata, ainda, que não demitiram funcionários, mas fizeram acordo de redução de carga horária e salário para alguns, suspensão temporária do contrato para quem tem mais de 60 anos de idade ou tiveram, inevitavelmente, baixa considerável no fluxo de suas atividades. “Fizemos alguns ajustes nas linhas de transferências, mas não deixamos de atender nenhuma cidade para que nossos clientes e principalmente a sociedade de modo geral não fiquem desabastecidos neste momento tão crítico”, comenta.
Rigor com a saúde também na Scapini Transportes, cuja matriz fica em Lajeado. “Hoje, só entra na matriz e nas outras 24 unidades espalhadas pelo Brasil quem passar pela medição de febre. Logo após, a pessoa tem que responder a um questionário, seja funcionário, prestador de serviço ou visitante. Não ingressa sem medir a temperatura”, explica o diretor comercial da empresa, Lucas Scapini. “Todos estão 100% instruídos e treinados para evitar o Covid-19. Todos. Motoristas, pessoal do administrativo, financeiro, logística, enfim, todos, não importa o setor. Orientações, kits de higiene, máscaras, álcool em gel 70%. A empresa oferece tudo isso”, completa.
Sugestões do TRC ao governo gaúcho
O setor do TRC faz parte do Gabiente de Crise do Governo do Rio Grande do Sul deste o início pandemia, por meio da FETRANSUL. O presidente da entidade, Afrânio Kieling, participou e participa de vários videoconferências, sempre defendendo a importância do setor, as dificuldades, e a necessidade de retomar as atividades econômicas gradualmente. Justamente pelo fato de as transportadoras terem adotado medidas rígidas de segurança e proteção à saúde, a entidade foi uma das que enviaram sugestões de protocolos para que o executivo estadual elaborasse o modelo de distanciamento social controlado, que está em vigor, por decreto, desde segunda-feira (11 de maio).