Quando transportar 850 toneladas vira um calvário logístico — e não um feito de engenharia

Publicado em
16 de Dezembro de 2025
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Mais um episódio de uma série que escancara os limites da logística brasileira no transporte de cargas indivisíveis.

Sim, mais um capítulo do deslocamento de um dos 14 transformadores com 850 toneladas de PBTC, em direção ao Porto de Itaguaí (RJ) — a carga mais pesada já transportada na rodovia que conecta as duas regiões mais populosas do país.

Estamos falando de uma via por onde circulam diariamente milhares de carros e caminhões e que, para agravar ainda mais o cenário, encontra-se em obras de ampliação e modernização.

Neste dia 16/12/2025, a operação avançou 58 km, de Caçapava/SP até Roseira/SP.

Um feito técnico.
Um esforço enorme.
Um trabalho de altíssima responsabilidade.

Mas não nos enganemos: isso não são flores.

Transportar uma carga desse porte, nessas condições, é uma operação gigantesca, repleta de sacrifícios — muitos deles evitáveis.

E evitáveis por quê?

Porque o Estado de São Paulo, apesar de:

  • o tamanho da sua economia,
  • sua importância logística,
  • e sua vocação industrial,

não dispõe de infraestrutura rodoviária, nem portuária minimamente compatível com desafios dessa magnitude.

Não temos:

  • um porto próximo devidamente preparado para esse tipo de movimentação (Santos ou São Sebastião);
  • uma ligação rodoviária dedicada ao Porto de Santos para cargas excepcionais;
  • gabaritos verticais adequados — a Rodovia dos Tamoios, recém-modernizada, não comporta sequer 6 metros de altura.

O que existe são soluções improvisadas, operações em contramão, inversões de pista, conflitos com o turismo e custos elevadíssimos.

Resultado?

Empresas globais como Andritz, Hitachi e Siemens, instaladas em São Paulo, perdem competitividade não por falta de tecnologia ou capacidade industrial — mas por falta de infraestrutura logística.

E o cenário tende a se agravar.

Nos próximos dias entram em vigor bloqueios prolongados em corredores críticos, como o Sistema Anchieta–Imigrantes, com mais de 30 dias de restrição à circulação de cargas especiais.

A pergunta que precisa ser feita é simples — e inevitável:

👉 Até quando São Paulo aceitará ser um estado industrial com logística improvisada?
👉 E qual é o papel das concessionárias e dos órgãos reguladores para reduzir — e não ampliar — esse calvário operacional?

Este transporte está acontecendo apesar do sistema, não graças a ele.

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