Tráfego nas estradas reduz expansão e caminha para a estabilidade

Publicado em
20 de Maio de 2014
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A análise sobre o tráfego de veículos nas rodovias sob concessão da iniciativa privada no país tem gerado um tipo de gráfico diferente recentemente. O crescimento no fluxo de automóveis e caminhões tem ficado mais fraco e, nos últimos meses, deu lugar a um movimento de estabilidade.

O fluxo nas rodovias é o maior responsável por gerar receitas nas concessionárias de rodovias. É possível enxergar a perda do fôlego no movimento com base na média móvel semestral do Índice ABCR de Atividade (compilada pela Tendências Consultoria Integrada). Esse indicador reúne a média de tráfego dos últimos seis meses e tem movimentos mais lineares - por isso, dá uma ideia mais clara da tendência do tráfego.

Em janeiro, o crescimento dessa média (contra a média terminada no mês imediatamente anterior) foi de 0,42%. No mês seguinte, evoluiu menos: 0,22%. Depois, variou 0,19% e, em abril, cresceu só 0,09%. Os dados são dessazonalizados.

 

Os números mostram que os veículos pesados (como os caminhões), historicamente ligados à atividade industrial do país, são os que mais têm puxado o movimento para baixo. Em janeiro, o tráfego da média móvel semestral foi negativo: caiu 0,18% contra o mês imediatamente anterior (considerando também dados dessazonalizados). Depois, subiu 0,23%, mas voltou a cair nos meses seguintes: menos 0,40% e menos 0,38%.

Rafael Bacciotti, economista da Tendências, diz que os dados sobre os pesados refletem a situação da atividade industrial. "O que está mais claro é a fraqueza da atividade. A indústria tem mostrado nos últimos três trimestres queda em relação ao período imediatamente anterior", diz ele. "A gente vê setores importantes, como o automotivo, puxando esse movimento. O segmento vem acumulando estoque e ainda sofre com a exportação limitada para a Argentina", afirma.

Os dados na movimentação de pesados só não são piores por causa de um efeito não recorrente nas estradas do Estado de São Paulo, que impulsiona o tráfego desse tipo desde agosto de 2013. Na época, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) cancelou o reajuste de preços nas praças de pedágio e, em troca, autorizou as concessionárias a cobrarem pelos eixos suspensos dos caminhões. Como cada eixo conta como uma unidade de veículo equivalente, o tráfego aumentou.

Arthur Piotto, diretor financeiro e de relações com investidores do grupo de concessões CCR, diz que, atualmente, o tráfego ainda continua mais forte que no ano passado - mas os números são impactados por efeitos não recorrentes. Ele acredita que, recentemente, a tendência vista nos números da empresa confirma a linha de raciocínio observada nos resultados da ABCR.

A EcoRodovias, que tem concessões de rodovias em corredores de exportação e importação, vê correlação com a situação do agronegócio. "Imagino que nossos produtores estejam esperando o melhor preço para as commodities. Mas podemos ter ’surtos’, à medida que haja valorizações do real e os preços melhorem, e isso propicia a vontade de exportar pela maneira mais rápida, que é a rodovia", disse Marcelino Rafart de Seras, em teleconferência recentemente.

Atualmente, são os veículos leves que têm salvado o desempenho nas rodovias. De janeiro a abril, só houve crescimento mensalmente, contra o mês imediatamente anterior (considerando ajuste sazonal): 0,65%, 0,35%, 0,40% e 0,32%, respectivamente. Mesmo assim, os números positivos são cada vez menores - em um movimento contínuo desde outubro de 2013.

Para o resto do ano, a Tendências acredita que não haverá melhora. "Para leves, a tendência também não é muito favorável. A gente trabalha com pressões inflacionárias no segundo semestre, inclusive com inflação superando o teto da meta. Por isso, a renda deve perder fôlego", afirma. Para caminhões, o cenário também é pessimista. "Não conseguimos ver uma recuperação nos pesados. O nosso cenário de atividade, principalmente industrial, é de pouco dinamismo, principalmente por condicionantes como a confiança do empresários", diz ele.

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