Suprindo o vazio público

Publicado em
04 de Outubro de 2011
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No mundo todo, a logística é uma solução. No Brasil, é um problema. Não raro, um problema exclusivo da cadeia produtiva que deve suprir, por sua conta e risco, as imensas crateras – também não raro, literalmente – deixadas pela falta de uma política pública consistente de investimentos em infraestrutura de transporte. Nesse contexto, o segmento de mineração é um dos mais afetados, seja porque os sistemas logísticos disponíveis são deficientes, seja porque simplesmente inexistem e devem ser incorporados, desde a fase de projeto, aos novos empreendimentos.

Ferrovias e portos, os modais mais adequados ao transporte de minério são também os mais limitados: pelo número reduzido, pela baixa capacidade e pela obsolescência, entre outros fatores. De outro lado, a estrutura viária, mesmo com seu alto custo de utilização, é impraticável pelas condições de trafegabilidade. Não é sem razão que os minerodutos tem se multiplicado como alternativa que, embora cara na implantação, se mostrou mais viável no cômputo final de custo-benefício. Também cresce o número de terminais portuários exclusivos, assegurando auto-suficiência e competitividade às empresas em suas operações de embarque.

Visão macro

Na opinião de Hércules Scwether, gerente de logística da Alcoa, “o Brasil tem uma malha ferroviária ineficiente para o escoamento da produção, uma estrutura portuária com custos elevados e baixa produtividade, pouco investimento na construção de navios graneleiros do tipo Panamax, que também tem custos altos de produção no País, se comparados aos do mercado internacional, e pouca oferta de estaleiros capazes de produzir este tipo de embarcação”. Para o gerente, ainda, falta também mão de obra capacitada para o setor e condições de trafegabilidade nas estradas do País.
 
A avaliação é compartilhada por Gilberto Mascarenhas Meira, gerente geral de Logística da Votorantim Metais, que concentra os problemas em três grupos: pessoas, processos e organização. “São os gargalos e desafios logísticos de sempre, com a falta de investimentos em infraestrutura, principalmente rodovias, ferrovias e portos, acarretando para as empresas custos adicionais para o escoamento de sua produção”, define Arão Portugal, vice-presidente de Administração e Country Manager para o Brasil da Yamana.

Osnir Reinaldo Montin, gerente geral de Supply Chain das Unidades de Negócio Níquel, Nióbio e Fosfato da Anglo America, diz que “as ferrovias brasileiras possuem baixa confiabilidade, lead time excessivamente alto e custos elevados. Quanto aos portos, além dos custos também elevados de operação, possuem infraestrutura insuficiente e estão sempre congestionados”. Especificamente quanto à Usina de Barro Alto (GO), o gerente critica a demora na conclusão da Ferrovia Norte-Sul nos trechos próximos à unidade, impossibilitando a redução de custos pelo uso desse modal.

Para Eduardo Bartolomeu, diretor executivo de Operações Integradas da Vale, um dos grandes desafios do setor é o licenciamento ambiental, devido à complexidade da legislação, elevado número de projetos e falta de técnicos qualificados nos órgãos envolvidos, restringindo sua capacidade de análise.
Essa qualificação falta também no dia-a-dia das operações. “Temos a ampliação do Terminal Portuário de Ponta da Madeira (TPPM), o maior projeto de logística da América Latina, que vai gerar 3,5 mil empregos para sua operação em 2012 e precisamos de pessoal capacitado para lidar com essa tecnologia de ponta”, exemplifica o diretor.

Gargalos pontuais

Para Iracema Sacramento, coordenadora de logística da Mirabela Mineração do Brasil, a produtora de níquel que iniciou suas exportações este ano enfrenta as deficiências do porto de Ilhéus (BA). “Com a demanda de novas cargas, Ilhéus já tem a necessidade de ser incluído como rota de navios para os principais destinos no exterior. Além disso, é importante viabilizar áreas não consignadas para a estocagem do concentrado de níquel, visto que a maioria das cargas que operam nesse porto é sazonal. É necessário um plano operacional que viabilize essas questões”, explica.

No caso da Mineração Vale Verde, o presidente Carlos Horácio Bertoni cita como principais obstáculos ao desenvolvimento do projeto Serrote da Laje, em Alagoas, a indisponibilidade de água, energia elétrica e transporte ferroviário para a produção prevista (12 Mtpa de minério de cobre, ferro e ouro, a partir do 1T12), assim como falta de mão de obra qualificada na região. 

No projeto Minas-Rio, da Unidade de Negócio Minério de Ferro do Brasil da Anglo American, os desafios ainda estão vinculados às obras de implantação. “Temos serviços com características diferenciadas, como os de terraplenagem e montagem dos dutos, que devem ser realizados em diversas frentes simultaneamente”, explica Marcos Milo, gerente geral de Engenharia do Mineroduto. A logística dessas operações implicou na construção de 13 pátios entre os quais foram distribuídas cerca de 133 t de dutos, três canteiros principais de obra, bases das empresas contratadas nas frentes de serviço e divisão da terraplanagem em três frentes de trabalho, distribuindo de forma igualitária o volume de material movimentado (24,8 milhões m³). No porto, continua Milo, outro desafio será a construção do quebra-mar.

Já no Sistema Amapá, onde a mineradora investe R$43 milhões na Estrada de Ferro Amapá, o gerente geral de Logística e Engenharia, Mivaldo Paz, conta que os grandes complicadores estão por vir: a redução do ciclo ferroviário quando a revitalização da via permanente for concluída e a garantia de segurança operacional da ferrovia.

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