Sul desperdiça R$ 27 bi com logística ruim

Publicado em
06 de Novembro de 2013
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O desperdício causado pelas precárias condições da infraes-trutura de transporte na Região Sul do Brasil, como em regra ocorre no resto do País, vai atingir a cifra de R$ 27,2 bilhões de agora até o ano de 2020. Rodovias estreitas, ferrovias ineficientes e portos esgotados significam para quem precisa transportar seus produtos uma fatura anual de R$ 3,4 bilhões.

A situação é surreal. Embora diagnosticados, a região padece dos problemas da gestão pública que ora não consegue executar os projetos, ora não permite que sejam executados. Essa demora além de custar bilhões tor-nou-se uma conta superior ao próprio custo das soluções.

Levantamento feito pela consultoria Macrologística, autora de um estudo que foi atualizado recentemente, revelou que o dinheiro queimado com a ineficiência do transporte já representa o dobro dos recursos que seriam gastos com a conclusão de 49 obras consideradas prioritárias para o Sul do País. O investimento nesses projetos essenciais consumiria R$ 14 bilhões. Ou seja: para cada real não aplicado na solução dos problemas logísticos da Região Sul, a economia regional gasta dois para enfrentá-los.

"Em regra, o Sul padece do mesmo problema registrado em outras regiões do País. Há atraso crônico na execução dos projetos de Infraestrutura. Como a demanda pelo uso dos corredores cresce, a situação fica a cada ano mais dramática", afirma Olivier Girard, um dos coordenadores do estudo Sul Competitivo, um trabalho encomendado pelas três federações das indústrias da região.

De acordo com ele, o custo logístico para movimentar a produção da região - o que inclui de produtos primários a manufaturados, passando por insumos à indústria ou ao campo - alcançou R$ 30,6 bilhões conforme valores de R$ 2010, R$ 3,4 bilhões mais do que custaria se as obras prioritárias tivessem saído do papel e virado aço e concreto. Essa é uma conta que só cresce, dada a demanda que avança mais rápido do que a Infraestrutura ofertada. A previsão é que o custo da Logística no Sul, considerados o crescimento previsto para esta década, alcance a cifra de R$ 47,8 bilhões em 2020, ainda segundo o estudo da Macrologística.

Descompasso. Das 177 obras apontadas como fundamentais para a solução do transporte regional, apenas 10 foram concluídas, segundo o último relatório de acompanhamento do projeto Sul Competitivo. Treze obras seguem em ritmo considerado "bom", mas 44 projetos tiveram a evolução abaixo do ritmo definido em cronograma e outras 110 estão paradas. É uma contabilidade terrível.

Do rol de obras consideradas essenciais - e que resultariam numa economia de R$ 27,2 bilhões até 2020 a situação é ainda mais dramática. O coordenador do projeto informa que no último relatório de atualização das 51 obras apontadas como salvadoras, só duas foram concluídas.

O prognóstico contido no relatório é, óbvio, pessimista. O estudo aponta que não há mobilização efetiva para mudar a situação da Região Sul ao longo desta década. O descompasso entre o avanço da demanda e o ajuste da oferta tornou-se uma condição intransponível para a atual capacidade de gestão do Estado.

BR no limite. A Régis Bittencourt, rodovia BR 116 que liga o Sudeste e Sul do Brasil administrada pela Arteris, é hoje um retrato da situação Logística da região. Dados da Macrologística mostram que a capacidade diária de transporte na Régis já supera em 307% o limite para o qual foi dimensionada.

Em média, passam pela via diariamente 168 mil toneladas de mercadorias, embora a capacidade seja de 54,8 mil toneladas. Sem o ajuste da rodovia, em 2020, a Régis terá de suportar 258 mil toneladas de produtos passando diariamente. Ela não tem suporte para tanto, e embora concedida, os projetos estão atrasados.

O principal problema da rodovia está na Serra do Cafezal, região próxima a cidade de Miracatu (SP). O trecho de serra com 19 quilômetros de extensão foi fatiado para a duplicação. A obra j á deveria estar pronta, mas problemas com a concessão, a falta de fiscalização da Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) e a demora para definir um projeto ambientalmente adequado atrasaram a solução viária para um dos trechos mais perigosos da Régis.

Outro trecho considerado o maior gargalo rodoviário do País é o contorno de Florianópolis. Uma obra que deveria também estar pronta há mais de três anos e que agora talvez saia do papel apenas em 2018. Isso se a licença ambiental for finalmente concedida. A previsão para início da obra é março de 2014. Um Termo de Ajustamento de Conduta assinado entre Arteris (administradora da concessão) e ANTT impôs um prazo. Mas este ainda depende da aprovação do projeto no Ibama.

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