Montar uma loja virtual própria parece tentador para empresários iniciantes. Há uma grande variedade de plataformas gratuitas para vender produtos online e, aos poucos, o país está saindo de um período de recessão, o que encoraja as pessoas a comprarem mais. Abrir um ecommerce próprio, porém, é um enorme desafio logístico, principalmente para quem não tem experiência, alertam consultores em empreendedorismo.
A concorrência no setor é grande: segundo levantamento realizado pela BigData Corp, encomendado pelo PayPal, no ano passado o número de lojas online no Brasil cresceu 37,59% —o maior aumento desde 2014. Atualmente, existem cerca de 930 mil sites dedicados ao comércio eletrônico no país. Estruturar uma boa logística para se diferenciar de competidores não é fácil: é preciso ter um controle de estoque eficiente, estudar as opções de serviços de frete que existem no mercado e garantir uma comunicação transparente com o cliente sobre prazos de entrega e de devolução.
Para Edilene Loiola, fundadora da empresa de logística Soulog e especialista com 15 anos de experiência no setor, a primeira preocupação do lojista deve ser oferecer seus produtos com uma margem de segurança para a entrega. “Logística é puro cálculo e responsabilidade. Não adianta falar que vai entregar o produto no dia 24 de dezembro e ele chegar no dia 27”, afirma Loiola.
“O empreendedor precisa entender que está lidando com os sonhos das pessoas, e que a logística é a ponta final disso”, diz. Para evitar dores de cabeça, o lojista deve trabalhar, então, com pelo menos três dias de margem na entrega. “Se a minha entrega tem previsão para o dia D, eu digo para o cliente que deve chegar em até D+3. Assim eu surpreendo se chegar antes”, sugere Loiola.
Manter um bom controle do estoque também é fundamental. Loiola recomenda que, no início das vendas online, o empresário não disponibilize todos os seus produtos. Iniciar a operação vendendo sob demanda ou, pelo menos, oferecendo os produtos com maior saída garante um início mais estável.
Quando o volume de vendas cresce, é possível recorrer ao auxílio de softwares de gestão.
O casal Gisele e Leandro Almeida resolveu usar uma ferramenta do tipo em seu ecommerce, Lojinha da Mamãe. A loja virtual, que atende 400 pedidos por mês, começou nas redes sociais, vendendo principalmente pelo Instagram. O casal importa desde 2014 roupas e produtos infantis e revende os itens na internet. Como os pedidos eram feitos pelos seguidores, o casal fazia as compras e entregas de acordo com a demanda.
Com o crescimento das vendas, os sócios precisaram adaptar o modelo de gestão e as formas de entrega. Leandro, que já trabalhou no setor de logística, diz que, a partir do momento que a empresa passou a fazer mais de cinco vendas por dia, o software passou a ser essencial. “Existem muitas plataformas voltadas para pequenos negócios no mercado e, quando chegamos nessa marca de vendas, percebi que precisava automatizar o controle”, diz.
Pela plataforma, os empreendedores conseguem cadastrar seus produtos, emitir nota fiscal e fazer o acompanhamento do frete, o que agiliza o processo e garante um prazo de entrega eficiente “A partir daí, a responsabilidade fica com a empresa de frete.
Nós trabalhamos com os Correios na maior parte das vezes. No começo, saía caro, mas depois que atingimos um volume de vendas maior, dá para negociar valores melhores”, afirma.
Embora tenha bons resultados com os Correios, Almeida recomenda que o lojista sempre tenha outra opção de envio disponível para não passar por nenhuma surpresa —outro desafio de um ecommerce é depender do serviço de outras companhias“Em 2017, tivemos que recorrer a outra transportadora porque os Correios estavam constantemente em greve. Isso foi um sério problema para nós”, afirma. Embora haja alternativas, os Correios ainda são considerados por especialistas em logística como uma das melhores opções para envio de produtos, principalmente para pequenos empresários. “Até existem fretes com preços menores, que são boas opções quando você precisa fazer uma entrega não muito distante.
Mas quando eu precisei enviar um produto para o interior da Bahia, por exemplo, só os Correios ofereciam a entrega no prazo necessário e com código de rastreio”, diz Gisele Gomes, dona do ecommerce de moda Manola, que recebe cerca de 150 pedidos por dia. Ao escolher como irá entregar os produtos, o empresário também precisa prestar atenção em como funciona a logística reversa —em caso de trocas, como o produto será devolvido. “O lojista precisa estar pronto para a devolução, porque ela vai acontecer sempre e é um processo que sai caro”, diz Gisele.
Os Correios, por exemplo, oferecem um sistema simplificado para essa logística. Por estar no segmento de moda, Gisele diz que seu índice de devolução é alto. “Estou em 8%, sendo que o mercado fica, em média, em 5%”. Para diminuir os problemas causados por trocas e devoluções, Gisele diz manter uma comunicação constante e aberta com o cliente e dar brindes, como cupons de compra. Isso porque, dependendo do endereço, muitas vezes o frete de devolução sai mais caro que o produto.
“É comum eu receber peças com sinais de mau uso, que, sinceramente, eu não trocaria por outra nova. Mas sai mais barato dar um cupom de desconto na loja do que enviar a peça de volta recusando a troca”, afirma ela.