Empresas terão que encontrar nova fórmula de negociar os reajustes de combustíveis com os clientes
Fretes baixos e diesel em alta dificultam a vida dos transportadores
A política da Petrobras de revisar os preços dos combustíveis de acordo com o mercado internacional mensalmente preocupa o setor de transportes do Paraná. As empresas, que antes negociavam contratos levando em consideração um reajuste do diesel a mais longo prazo, agora terão que buscar novas alternativas de negociação com o valor do insumo flutuando mês a mês.
De acordo com o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar), Marcos Egídio Battistella, a preocupação do setor é grande. "Não estávamos acostumado com esse formato da Petrobras de sobe e desce de preços. Trabalhávamos com seis ou dez meses sem reajustes e conseguíamos negociar com os clientes os aumentos quando eles ocorriam. Agora, teremos que rever a mecânica de negociação com os clientes", comentou Battistella.
Para ele, será preciso estudar uma fórmula de repasse automático desses reajustes. As negociações serão de cada empresa com seus clientes. "É mais um complicador na nossa vida. O setor já está sufocado", afirmou.
Segundo ele, está difícil negociar o repasse dos reajustes para o preço do frete. "O jeito é absorver uma parte e tentar negociar com os postos e fornecedores", afirmou o presidente. Ele disse que na sua empresa, o aumento da semana passada, já representa um impacto de 3% a 4% no seu custo.
O reajuste de 6,1% nas refinarias, anunciado na quinta-feira (5), chegou na manhã seguinte às bombas de combustíveis. Em Londrina, as distribuidoras estão praticando um aumento entre R$ 0,10 e R$ 0,11 por litro. E essa diferença está indo direto para as bombas.
"A redução de preço em novembro foi imperceptível,mas o aumento sentimos no dia seguinte e terá que ser absorvido pelas transportadoras, só podemos repassar na renovação dos contratos. Dos dois últimos aumentos, acumulo uma defasagem de 2,8% na tarifa do frete", afirmou o empresário Gilberto Cantú, da Transportes Diamante.
O Grupo G10, de Maringá, dono de posto de combustível e de uma transportadora, está sentindo duplamente o impacto dessa nova política da estatal brasileira. "Não tivemos chance de nos preparar para fazer uma compra antes do reajuste. Num primeiro momento, a distribuidora aumentou em R$ 0,9 o litro do diesel, mas já informou que nos próximos dias pode chegar a R$ 0,12. A margem de lucro do posto está caindo. Mas, como transportador, a situação é mais grave", avaliou Claudio Adamuccio, diretor do grupo G10.
Adamuccio afirmou que os custos são imediatos, mas a empresa não consegue cobrar de imediato dos clientes. "É um dos piores momentos para o setor de transportes dos últimos 10 anos. Precisamos discutir com os nossos clientes o impacto da precificação", disse.
SEM FRETE
"Estamos pagando para trabalhar. Não tem luz no fim do túnel", comentou Carlos Roberto Delarosa, presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Londrina, Carlos Roberto Delarosa.
Para os caminhoneiros autônomos, a situação é ainda mais complicada, de acordo com Delarosa. Além do aumentos dos combustíveis, o valor do frete vem baixando, quando há frete. "Um frete de Londrina para Paranaguá está custando entre R$ 48 e R$ 50 a tonelada. Só de pedágio pago mais de R$ 400. Em Rondonópolis (MT), o frete está saindo R$ 80 a tonelada, mas o diesel lá está na faixa de R$ 3,20", reclamou o sindicalista.
Ele também ressalta que quando a Petrobras anuncia redução, a queda não chega na mesma velocidade que os aumentos às bombas. "Toda vez que houve baixa no diesel nem chegou para nós." Como os caminhoneiro abastecem com carta-frete, o preço do combustível costuma ser 10% mais caro para eles do que é praticado na bomba.
"Está ficando inviável. Ainda não tem frete na nossa região. Vamos esperar mais uns 10 dias para que a situação mude no Mato Grosso com o início da colheita da soja. Daí, vamos tentar repassar os custos", disse Delarosa.