Sindicato que diz representar operários nega alerta sobre guindaste

Publicado em
29 de Novembro de 2013
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 Diretor afirmou que documento sobre risco é ’mito’.

Nesta quinta, outro sindicato disse que recebeu alerta sobre guindaste.

Letícia MacedoDo G1 São Paulo

Diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada, Infraestrutura e Afins Flávio Ferreira, que diz representar os operários da obra da Arena Corinthians, na Zona Leste deSão Paulo, afirmou na manhã desta sexta-feira (29) que nunca recebeu qualquer documento com alerta sobre problemas no guindaste.

“O técnico e engenheiro de segurança nenhum deles nos informou ou mostrou qualquer documento sobre o risco do guindaste. Essa informação eu acredito que deve ser um mito", disse Ferreira.

Cachorro descansa próximo em canteiro de obras do estádio do Corinthians (Foto: Letícia Macedo/ G1)Cachorro descansa próximo em canteiro de obras
do estádio do Corinthians
(Foto: Letícia Macedo/ G1)

O diretor afirmou ainda que não teve contato com o motorista do guindaste. Na quarta-feira, a queda de uma estrutura metálica de mais de 400 toneladas e de um guindaste que a içava deixou dois operários mortos.

Nesta quinta-feira, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon) e deputado estadual, Antonio de Sousa Ramalho, afirmou  que um técnico de segurança suspeitou que o içamento da última peça da cobertura da Arena Corinthians poderia apresentar problemas.

Questionado, o presidente do Sinacon e deputado não deu detalhes sobre qual seria o risco apontado pelo técnico e não deu nome do funcionário. Entretanto, ele afirmou que a comunicação da suspeita do técnico e do engenheiro de segurança foi protocolada na obra.

A Odebrecht negou ter recebido aviso prévio relatando problema no guindaste envolvido no acidente que matou dois operários, conforme disse Ramalho.

Segundo Ramalho, o funcionário sinalizou, por algum motivo, que o guindaste tinha indício de problemas. “O técnico disse eu chamei o meu engenheiro de segurança, que concordou comigo que estava inseguro, que havia sinais de que esta torre iria tombar. O nosso engenheiro chamou o engenheiro de produção para dizer que estava muito perigoso", disse Antonio de Sousa.

"O engenheiro perdeu um certo tempo conversando com ele e ainda brincou: você é engenheiro de segurança do trabalho eu sou engenheiro civil. Isso é responsabilidade da engenharia civil e eu acho que isso aqui está 100% seguro, não há risco nenhum.”

Em nota, construtora e clube rebateram a denúncia de Ramalho.  "(Odebrecht e Corinthians) esclarecem que não houve nenhum alerta prévio ao acidente e negam a ocorrência dos eventos relatados pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo", aponta o texto divulgado na quinta.

Investigação da Polícia Civil
Falha humana, defeito no guindaste e instabilidade do terreno são as principais hipóteses investigadas pela Polícia Civil de São Paulo para tentar encontrar a causa do acidente que matou dois operários na quarta-feira (27) nas obras do estádio do Corinthians, em Itaquera, Zona Leste, local escolhido para a abertura da Copa do Mundo, em junho de 2014.

“Tem que apurar se houve falha humana, problema mecânico ou instabilidade do terreno”, disse nesta quinta-feira (28) ao G1 o delegado Luiz Antonio da Cruz, titular do 65º Distrito Policial, Artur Alvim.

O delegado e seus investigadores apuram as circunstâncias e eventuais responsabilidades pela queda de parte da cobertura do estádio que era içada por um guindaste que tombou, derrubando a peça de cerca de 400 toneladas sobre dois funcionários. O motorista Fábio Luiz Pereira, de 41 anos, que estava dormindo num caminhão, e o montador Ronaldo Oliveira dos Santos, 43, que estava perto de um banheiro químico, foram atingidos e morreram.

MAPA desabamento Arena Corinthians (28/11) (Foto: Editoria de Arte/G1)

Inquérito policial apura o crime previsto nos artigos 256 e 258 do Código Penal que tratam, respectivamente, de "causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo de vida, a integridade física ou patrimônio de outrem", e "se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço”.

No caso de condenação, o artigo 256 determina que a pena vai de um a quatro anos de prisão.

Para tentar esclarecer as causas do acidente, a polícia vai ouvir depoimentos, entre eles de testemunhas, sobreviventes, operários, representantes das empresas responsáveis pela obra, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil. Também irá requisitar documentos técnicos da construção e aguardar o resultado dos laudos periciais da Polícia Técnico-Científica.

Peritos do Instituto de Criminalística (IC) deverão ir ao estádio para analisar e determinar o que provocou o acidente. Geralmente, o resultado dos trabalhos é feito em 30 dias. Quem determina a causa da morte dos funcionários é o Instituto Médico Legal (IML), que deverá apontar esmagamento das vítimas.

Cinco pessoas já foram ouvidas pela polícia na quarta-feira, segundo o delegado: três empregados da Odebrecht, empresa responsável pela construção da obra, e dois policiais militares que realizaram os primeiros atendimentos no local do acidente.

“Desses depoimentos, o mais importante foi de um engenheiro que informou que esse guindaste já havia colocado todas as outras peças e iria colocar a última parte da peça metálica”, disse o delegado Luiz Antonio da Cruz, que também ouviu uma administradora e um técnico de segurança do trabalho da Odebrecht.

Ele não pretende ouvir depoimentos nesta quinta. Para tentar saber se houve falha humana, a polícia quer falar, entre esta sexta-feira (29) e segunda-feira (2), com o operador do guindaste, José Walter Joaquim, de 56 anos. Procurada pela equipe de reportagem, a assessoria de imprensa da Locar, dona da máquina, o funcionário trabalha na empresa, mas “está abalado e só irá falar com a polícia”.

“Para apurar a hipótese de falha humano quero saber do maquinista se ele ficou nervoso, se errou no içamento da peça, no cálculo etc”, comentou o delegado, que também apura a possibilidade de falha mecânica no guindaste e de instabilidade do terreno, na hipótese de ter havido movimentação de terra, por exemplo, que fez a máquina tombar de derrubar a peça.

“Mas quem dirá mesmo à investigação qual foi a causa do acidente será a perícia. Por isso é importante aguardar o laudo”, disse Antonio da Cruz.

’Falha de procedimento’
O coordenador da Defesa Civil em São Paulo, Paca de Lima, afirmou que, ao inspecionarem o chão onde o guindaste que desabou estava apoiado, não foi possível perceber qualquer tipo de falha no solo.

Para ele, o mais provável é que tenha ocorrido "uma falha de procedimento", mas Paca de Lima não deu mais detalhes da suspeita. "A perícia que vai dizer a causa do acidente", ressaltou Lima.

Fábio Luiz Pereira, de 42 anos, motorista e operador de guindaste do tipo munck da empresa BHM, e Ronaldo Oliveira dos Santos, 44 anos, montador da empresa Conecta, morreram no acidente, quando um guindaste erguia uma peça de 420 toneladas. Cerca de 30 funcionários trabalhavam na operação, enquanto os outros estavam em horário de almoço.

Apurações
Além da Polícia Civil, o Ministério Público Estadual (MPE) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) investigam as causas e prováveis responsabilidades pelo acidente com mortes no estádio do Corinthians.

Nesta quinta-feira, a Defesa Civil realiza uma nova vistoria no canteiro de obras da arena. Os trabalhos começaram por volta das 10h30.

A Defesa Civil já havia interditado 30% de uma das alas do estádio, uma área de cerca de 5 mil metros quadrados. Apesar da interdição e da nova vistoria, o coordenador do órgão, Jair Paca de Lima, tinha dito na quarta que as obras poderão continuar nos demais setores.

O MPE também informou que fará uma vistoria nos próximos dias e exigirá laudos da Polícia Técnico-Científica para avaliar se pedirá à Justiça a paralisação total das obras do estádio.
Na manhã desta quinta-feira, nenhum funcionário foi visto funcionário no canteiro de obras e as máquinas estavam paralisadas. A Odebrecht e o Corinthians, parceiros responsáveis pelo estádio, informaram em nota, que as obras da Arena Corinthians serão retomadas na segunda-feira (2).

O corpo do operador de caminhão Fábio Luís Pereira, que morreu no acidente foi liberado do IML na manhã desta quinta e levado a Limeira, cidade no interior paulista onde Pereira vivia com a mulher e três filhas.

O corpo de Ronaldo Oliveira dos Santos também já foi liberado pelo IML. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) não informou o local do enterro.

Odebrecht e Corinthians
Segundo a Odebrecht, o acidente ocorreu na 38ª vez em que um módulo da estrutura da cobertura era içado. "Uma peça de igual proporção foi instalada há pouco mais de uma semana no setor sul do estádio", informou a empresa em nota.

O ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez afirmou na quarta que Odebrecht e o clube de futebol não têm estimativa de qual será o impacto do desabamento no cronograma das obras do estádio. "Não estamos nem pensando nisso, as autoridades vão fazer o que precisa ser feito. O que menos estamos preocupados é cronograma, prazos. Estamos preocupados em atender as famílias das vítimas", disse Sanchez.

Odebrechet e Corinthians também afirmaram na quarta, em pronunciamento conjunto, que somente a perícia vai determinar a causa do acidente.

O gerente operacional da obra, Frederico Barbosa, afirmou que todo o procedimento para colocação da estrutura envolvida no acidente foi feito conforme os procedimentos indicados. "Essa peça está içada desde ontem. As condições eram favoráveis", disse.

Barbosa disse que checou pessoalmente as condições de vento e temperatura para autorizar o içamento da peça de 420 toneladas – o guindaste tinha capacidade para erguer cerca de 1,5 mil toneladas.

“A operação estava correta, faz parte do procedimento, nada fora do que estava programado, tinha acabado de chover, tínhamos esperado uma semana para fazer o procedimento”, afirmou.

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