Setores farmacêutico e veterinário: exigências legais ditam as atividades dos OLs e das transportadoras

Publicado em
12 de Agosto de 2014
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Além disto, estes prestadores de serviços precisam manter instalações especiais e executar o transporte de modo segregado.

Características bem distintas, em relação à distribuição em outros segmentos, marcam a logística nos segmentos farmacêutico e veterinário.

João Fico, gerente comercial da 2 Alianças Transportes e Logística (Fone: 21 2139.9316), aponta algumas delas: leis severas, como Lei 6360/1976, que dispõe sobre a Vigilância Sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e outros produtos; Lei 9782/1999, que definiu o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e criou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária; RDC 17/2010 – Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos; e RDC 16/2013 - Boas Práticas de Fabricação de Produtos para a Saúde, pois são responsáveis em fiscalizar controles de lotes. Além destas, outras características se aplicam a estes dois segmentos, ainda de acordo com Fico, da 2 Alianças: garantia nos processos de fabricação/normas de procedimentos de armazenagem do produto, rastreabilidade, problemas de corresponsabilidade, ou seja, a responsabilidade passa a ser igual ao do laboratório, e necessidade de manter o nível do serviço elevado, garantindo a qualidade dos produtos nos pontos de dispensação.

“Outra característica nestes segmentos é o alto custo do investimento, pois são requeridos galpões muito bem estruturados, piso elevado, pé direito acima de 10 m, investimentos em sistemas operacionais, planos de contingência, como energia, umidade, temperatura e backup de maquinário.O plano de contingência tem como objetivo principal a formalização de ações a serem tomadas para que, em momentos de crise, a recuperação, a continuidade e a retomada possam ser efetivas. Por exemplo: utilização de geradores com alta capacidade para o fornecimento de energia, temperatura e umidade”, completa o gerente comercial da 2 Alianças.

Marcio Schelmam Velten, diretor comercial da Velten Transportes e Logística (Fone: 27 3064.7450), também lembra que veículos especiais, com isolamento térmico, higienização semanal e dedetização trimestral, veículos rastreados e motoristas 100% cadastrados em gerenciadora de risco, com cadastro e consulta a cada 6 meses, também são características da logística nos segmentos farmacêutico e veterinário.

A estas análises se junta a de Sonja Helena Madeira Macedo, gerente farma da Ativa Distribuição e Logística (Fone: 11 2902.5000). Ela diz que estes dois setores são altamente regulados pelos órgãos vigentes. Além disso, requerem um serviço especializado devido aos diferentes modelos de distribuição existentes no mercado brasileiro, e com profissionais qualificados que conheçam profundamente o escopo do negócio. Segundo Sonja, estes setores são exigentes nos critérios de qualidade, que são norteados pelas boas práticas farmacêuticas. “Uma das principais características destes segmentos é a exigência e o esforço para preservar a segurança e eficácia do produto, e é necessário um controle logístico desde a saída dos laboratórios até a entrega final na farmácia ou hospital”, acrescenta Jesus Claros, gerente de marketing – Brasil do Grupo RDA Transportes (Fone: 11 2452.7536).

De fato, como também revela Thessa Tozzi, gerente regional de pharma da Kuehne + Nagel (Fone: 11 3468.8000), o transporte de produtos para saúde tem exigências e necessidades especiais de manuseio em toda a sua cadeia logística, sendo necessário seguir as exigências da vigilância sanitária de cada país, no caso do Brasil, daANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que são embasadas nas regras de boas práticas da Organização Mundial da Saúde. Ainda segundo Tozzi, essas exigências são constantemente atualizadas e têm aumentado significativamente nos últimos anos, como, por exemplo, a necessidade do controle de temperatura no transporte internacional, que deve ser mantida de 15° a 25° C durante todo o embarque. Isto pode ser um grande desafio em muitos países da América Latina, se a carga não possuir embalagens e manuseios especiais.

“O transporte de medicamento está em crescimento no Brasil e isso é devido às suas peculiaridades e sazonalidades que encontramos num pais com tamanha imensidão. O diferencial desses segmentos é que envolvem produtos que demandam cuidados especiais por serem, em sua maioria, sensíveis a diversas intempéries climáticas, como temperatura, umidade e sensibilidade a luz, entre outras. Com isso se faz necessário certo investimento que, evidentemente, impacta em seu custo, e isso tem que ser muito bem compreendido entre os gestores. Afinal, estamos transportando saúde, e o que precisa ser avaliado na hora da contratação é a qualidade do transporte, uma vez que a maioria dos gestores contratantes tem um pensamento de redução de custo.” A avaliação, agora, é de Gustavo Vidal Vianna, farmacêutico e consultor comercial da Restitui Transporte e Logística (Fone: 11 2085.0860).

A análise da logística nestes segmentos feita por Gilson de Faria, gerente comercial da Rodovisa Cargas Especiais e Serviços (Fone: 19 3728.8888), não é muito diferente das anteriores. Ele lembra que a principal característica para exercer o transporte na cadeia farmacêutica é o cuidado, a consciência de que para esta atividade ele deve ser redobrado, aliado aos requisitos básicos que devem ser seguidos. “A atividade requer a presença de um farmacêutico responsável pelo controle da cadeia de distribuição dos produtos, e ele deve orientar e adequar as estruturas da empresa, objetivando o cumprimento da legislação sanitária em vigor e das Boas Práticas de Transporte (BPT)”, lembra Faria. E ele continua: “o transportador rodoviário deve possuir, primeiramente, AFE (Autorização de Funcionamento), Alvará Sanitário, Responsável Legal e Responsável Técnico e elaborar um Procedimento Operacional Padrão e um Manual de Boas Práticas de Transporte que sejam compatíveis com as normas e legislações vigentes e certificações pertinentes à ANVISA”.

Por sua vez, André Luiz Kolher, gerente administrativo da Translog Transportes (Fone: 41 3248.7002), lembra que, como o material transportado é de primeira necessidade, a entrega em um prazo menor que 24 horas é item básico para o setor, independente da distância do fornecedor e cliente. Por conta disso, hoje, hospitais e farmácias têm um estoque com um ciclo menor e contam com a velocidade da logística no transporte. Em um mercado que é regulado pela ANVISA, esses segmentos se transformaram com adaptações nos carros e CDs para atender às exigências sanitárias.

Já a análise de Raul R. Maudonnet, diretor de vendas da Transportadora Americana (Fone: 19 2108.9000), é feita por tópicos. Ele relaciona as características da logística nestes segmentos: existem poucas empresas de logística especializadas nesses segmentos, capazes de desenvolver, implantar e operar soluções de maior alcance e complexidade; operação com alta complexidade na estocagem e no picking (separação de pedidos), exigindo diversas licenças por parte da ANVISA; infraestrutura diferenciada, automatizada ou semimecanizada para a movimentação e armazenagem de mercadorias em diferentes lotes (paletes, caixas e unidades); utilização de soluções WMS, código de barras e RFID (etiquetas inteligentes); rastreabilidade das mercadorias; solução de segurança patrimonial de alto nível; gerenciamento de risco forte e atuante; mercadorias altamente sensíveis; produtos de diferentes valores agregados (alguns muito caros e outros muito baratos); projetos logísticos (desenvolvimento de embalagens, por exemplo); e logística reversa.

“O transporte e a logística para esses segmentos possuem algumas características diferenciadas, como a necessidade de maior espaço físico nos terminais, segregação da carga, áreas com refrigeração e veículos refrigerados, não deixando de mencionar a importância do prazo – a malha rodoviária deve ser muito eficiente e a agilidade é muito importante, pois se trata de carga perecível, característica de medicamentos, onde não existe estoque.” Agora quem aponta as características é Elisangela Souza Krentz, supervisora comercial corporativa da Transportadora Minuano (Fone: 51 2121.0999). E ela continua: estes segmentos possuem um diferencial muito significativo no que diz respeito à eficiência da entrega, além de todo um cuidado diferenciado quanto ao manuseio e à armazenagem desta carga. Valdomiro Fellippe, gerente operacional da Via Pajuçara Transportes (Fone: 11 3585.6900), também fala da necessidade de ser rápido para atender à demanda nestes dois segmentos. Segundo ele, estes setores são exigentes e requerem rapidez na entrega com integridade. “Como se tratam de produtos relacionados à saúde e à vida, a rastreabilidade da carga é fundamental, portanto, a disponibilidade da informação ao cliente de forma rápida também e imprescindível (site, EDI, Relatório robô, e-mail, etc.)”, completa.

Finalizando esta análise das características da logística nestes segmentos, Giuseppe Lumare Júnior, diretor-comercial da Braspress (Fone: 11 2188.9000), diz tratar-se de um segmento que não se preocupa em inovar em termos logísticos, pois não precisa fazê-lo, dadas as características de seus produtos. No mais das vezes, as mudanças sempre são motivadas pela legislação. “Por isso, mesmo sendo um segmento muito importante na economia nacional, muitas empresas com capacidade técnica e de investimento abdicaram dele. A Braspress, por exemplo, decidiu apenas focá-lo em casos particulares, em que seja viável uma aderência comercial e operacional, especialmente no que se refere à gestão eficaz dos riscos inerentes que ele traz às operações em geral, sobretudo quanto à atração de assaltos aos veículos de transferência e distribuição, como também, em menor medida, aos armazéns. Temos todas as condições para transportar farmacêuticos, pois possuímos as autorizações da ANVISA e seguimos as melhores práticas para tal”, explica Lumare Júnior.

Tendências
E quais seriam as tendências, de um modo geral, para a logística nos segmentos farmacêutico e veterinário?

Uma delas, apontada por Fico, da 2 Alianças, é um crescimento considerável nas regiões Norte/Nordeste em virtude da localização e, também, pelo aumento do negócio, gerando maior necessidade na região. “A partir dos nossos relatórios, percebemos que há um crescimento estável, em média de 23,6% ao mês, e assim podemos afirmar que a logística nestes setores poderia melhorar muito, e se houvesse uma contribuição do Estado nas diversas normas regulatórias, o mercado farmacêutico triplicaria seu tamanho em aproximadamente dois anos. O Brasil é muito exigente neste setor, de certa forma é bom, pois garante segurança e qualidade, mas há exigências que divergem muito umas das outras para nós, Operadores Logísticos, em diversas regiões do país – cada município tem uma exigência diferente sobre o transporte daquela carga –, e isto é muito complicado, dificulta a nossa padronização de qualidade”, acrescenta Claros, do Grupo RDA Transportes.

Tozzi, da Kuehne + Nagel, também lembra que o mercado farmacêutico é uma indústria ainda em crescimento e que, atualmente, vem se adequando à mudança do tipo de modal utilizado na movimentação de cargas, passando a realizar, também, embarques marítimos. Ainda segundo o gerente regional de pharma da Kuehne + Nage, há diversas empresas investindo em pesquisa e desenvolvimento de produtos para doenças mais complexas, como câncer e diabetes, produtos considerados biológicos e, devido às exigências da ANVISA, há também uma atenção ao desenvolvimento de embalagens especiais e de altíssimo valor agregado.

Para Vianna, da Restitui, de modo geral, as indústrias estão produzindo mais, devido ao fato de ter expirado o prazo patentário de medicamentos importantes. “É significativo o crescimento de transporte, incluindo novas apresentações e formas farmacêuticas em sua linha (genéricos). Com isso aumenta o cuidado na qualidade do transporte, e novas tecnologias, equipamentos e embalagens de transporte devem chegar, aliados à redução de custo, uma vez que o medicamento transportado de forma adequada minimiza o número de ocorrências – com isso, todos ganham em produtividade e eficiência”, avalia o farmacêutico e consultor comercial.

Não muito diferente desta é a análise das tendências feita por Faria, da Rodovisa. Ele destaca que se trata de uma logística muito tendenciosa, onde a necessidade de especialização dos transportadores é contínua. A forte expansão do mercado farmacêutico, em virtude do constate lançamento de novos produtos farmacêuticos, médico-hospitalares e correlatos, contribui com o crescimento exponencial dos volumes transportados – diz o gerente comercial da Rodovisa. E tem mais. Ainda segundo ele, outra forte tendência é o rigoroso controle e gerenciamento da temperatura dentro de limites pré-definidos, os famigerados ranges de temperatura, que devem ser respeitados, garantindo a integridade da carga e o principio ativo do medicamento. “A pronta resposta com a confirmação da entrega é fundamental para um mercado que exige velocidade de entrega, e para isso é necessário o uso de tecnologias mobile ou via rastreador”, completa Kolher, da Translog.

E o diretor de vendas da Transportadora Americana também lista as tendências para o logística nestes dois segmentos: alto crescimento de medicamentos genéricos; setor em forte expansão; a velocidade de avanço tecnológico deverá ser refletida diretamente no segmento farmacêutico, na inovação e no lançamento de novos produtos; Licenças de Funcionamento da ANVISA, principalmente a pertinente ao transporte de produtos controlados, não só na matriz, como também em diversas filiais dos OLs/transportadores; exigência de áreas segregadas para o manuseio dos produtos farmacêuticos em todos os pontos por onde a carga tem passagem; e presença de farmacêuticos responsáveis pela operação em todos os sites por onde a carga for passar.

“A ANVISA está exigindo veículos totalmente com isolamento térmico, farmacêuticos em períodos de no mínimo 4 horas para transportadora e 8 horas para Operador Logístico”, acrescenta Schelmam, da Velten, enquanto que Elisangela, da Transportadora Minuano, lembra que, “a cada ano que passa o mercado se moderniza, assim como aumentam as exigências dos órgãos regulamentadores. Creio que a tendência é de inovação, pois assim como transporte, o segmento possui muita concorrência. No que cabe ao transporte, é se tornar cada vez mais eficiente em relação ao prazo, e estrutura se mantendo atualizada quanto à automação e exigências legais”. Também na visão de Sonja, da Ativa, a tendência é o rigor das exigências regulatórias e adequação dos processos para alcance dos requisitos de qualidade, conforme sua abrangência.

E Fellippe, da Via Pajuçara, acrescenta: em razão da fiscalização específica para esses segmentos por parte dos órgãos de saúde, as empresas estão cada vez mais convergindo suas cargas para fornecedores que possuem estrutura, condições e autorizações para o transporte, além de exigirem destes integridade de suas entregas, entregas com rapidez e dentro do negociado, bem como rastreabilidade de toda a cadeia.

Neste contexto, o diretor-comercial da Braspress lembra que, cada vez mais, as entregas são direcionadas a grandes distribuidores, pois os laboratórios entenderam – nos últimos 30 anos – que esse seria o melhor caminho para reduzir custos e garantir fornecimentos mais rápidos. “De nossa parte, discordamos dessa abordagem, pois isso passou a concentrar os riscos e prejudicou a produtividade dos transportadores especializados, afastando grandes transportadoras do segmento. Por outro lado, potencializou o mercado de falsificação e a receptação de produtos roubados. Sabemos que é difícil essa tendência se inverter, pois notamos que os laboratórios não estão sensíveis ao aumento dos custos logísticos. Porém, essa suposta economia gera menor oferta de transporte, uma vez que a maioria das transportadoras que ainda continua a atender o segmento optou por terceirizações de frota e não têm filiais próprias, mostrando uma tendência de degradação de seus ativos. Há quem tenha intenção de oferecer soluções diferenciadas para uma distribuição mais fracionada e dirigida às farmácias, porém, a demanda desse tipo de transporte representa, hoje, exceção de mercado”, completa Lumare Júnior.

Abradilan tem nova denominação
A Abradilan – Associação dos Distribuidores de Laboratórios Nacionais (Fone: 11 5533.5305) passa a se chamar Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos. A entidade explica que a nova identidade deu-se em função das mudanças impostas pelo mercado, pois hoje os 136 associados espalhados em 24 estados brasileiros não distribuem somente produtos de laboratórios nacionais, mas, também, medicamentos de vários laboratórios nacionais e internacionais e produtos de higiene e beleza. Além disso, muitos já fazem operações logísticas. Hoje a Abradilan é responsável pela distribuição de 19% das unidades de medicamentos vendidos no país e de 26% das unidades vendidas de genéricos.


Brasil vai produzir medicamentos biotecnológicos
Apartir de 2017, o Brasil vai produzir medicamentos biotecnológicos 100% nacionais para o tratamento de câncer, artrite e outras doenças, segundo informações da Agência Brasil. O termo de cooperação foi assinado entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto Vital Brasil e a joint venture Bionovis (laboratórios Sem, Aché, Hypermarcas e União Química) e prevê a construção de uma nova fábrica, no campus da Fiocruz, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. A fábrica, que será privada, receberá incentivos fiscais e deve estar concluída no final de 2016.

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