Setor de locação se adapta para mudanças pós-crise

Publicado em
05 de Julho de 2016
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O setor de locação enfrenta baixa demanda de trabalho, carga tributária de 38% e concorrência predatória a preços aviltantes. De acordo com especialistas esse mercado encolheu para o patamar de dez anos atrás e precisa de um forte posicionamento dos locadores junto aos agentes políticos.

Texto: Santelmo Camilo


Equipamento locado para escavação de material (TFoxFoto/ Shutterstock)

O setor de locação enfrenta baixa demanda de trabalho, carga tributária de 38% e concorrência predatória a preços aviltantes. De acordo com especialistas esse mercado encolheu para o patamar de dez anos atrás e precisa de um forte posicionamento dos locadores junto aos agentes políticos.

O 4º Congresso Nacional de Valorização do Rental, realizado em São Paulo no dia 16 de junho pela Associação Brasileira dos Sindicatos e Associações Representantes dos Locadores de Máquinas, Equipamentos e Ferramentas (Analoc), indica que o mercado de obras passará por transformações. A partir do ano que vem, quando os grandes contratos para construção de infraestruturacomeçarem a ser licitados, eles possivelmente serão subdivididos entre várias construtoras de pequeno e médio porte, que deverão usar tecnologia e equipamentos antes mais concentrados no escopo das grandes construtoras.

PESQUISA SINDILEQ-MG

Durante o congresso foi apresentada a Pesquisa de Mercado 2016, elaborada pelo Sindicato das Empresas Locadoras de Equipamentos, Máquinas, Ferramentas e Serviços Afins do Estado de Minas Gerais (Sindileq-MG). Embora ela tenha considerado somente dados de locadoras mineiras, o presidente do Sindileq-MG, José Antônio Souza de Miranda Carvalho, esclarece que essa pesquisa pode ser considerada um retrato da locação brasileira porque a recessão e a falta de obras atingem todas as regiões.

A pesquisa mostra que 63% dos locadores não pretendem investir em suas empresas até o fim de 2016 e 13% vão investir até R$ 100 mil. Com relação a empregos, 51% das locadoras pesquisadas demitiram funcionários no primeiro trimestre e 24% preveem novas demissões até dezembro.

É preciso adequar o tamanho da empresa para esse período de recessão econômica. Isso significa reduzir o tamanho da frota, conter investimentos e deixar a folha de pagamento em 25% do faturamento
Eurimilson Daniel

O faturamento também chamou a atenção: 70% das locadoras declararam ter faturado até R$ 1 milhão no ano de 2015 e 20,47% de R$ 1 a R$ 5 milhões. E para 2016 as previsões não são muito positivas. “A expectativa de 84% das empresas é que o faturamento diminua ou fique estagnado até o final do ano”, observa Carvalho.

“Se o empresário de locação não repensar os preços praticados vai trabalhar de graça nos próximos meses. Alguns contratantes se aproveitam da grave situação econômica para pressionar os locadores a reduzir os preços do custo horário do equipamento. E alguns colegas praticam valores tão baixos que não cobrem os custos operacionais, impostos ou mão de obra, prejudicando a concorrência”, conta o presidente do Sindileq-MG.

FROTA E INADIMPLÊNCIA

Das empresas locadoras pesquisadas, 44% possuem frota com idade de três a seis anos, e 8%, até dois anos. Mas por enquanto, arenovação de frota não é cogitada por locadores. “Nossos equipamentos vão ter de trabalhar e envelhecer um pouco mais, e os contratantes devem ficar mais flexíveis nas exigências por locarem máquinas novas, já que o país não está investindo em obras que justifiquem irmos às compras”, declara o locador Eurimilson Daniel, secretário da Analoc.

Uma preocupação das locadoras é ainadimplência que tem assolado a programação financeira. 32% dos entrevistados declararam que este ano ela está 5% mais alta. Porém, de acordo com o Serasa Experian, a inadimplência cresceu 12,1% no primeiro trimestre no país.

Para minimizar o problema o advogado Charbel Elias Maroun, especialista em direito empresarial e tributário, apresentou aos locadores a proposta de alteração da lei das duplicatas que tramita no congresso e dará às empresas uma melhor ferramenta de cobrança em instâncias judiciais. “A atividade de locação de bens móveis e equipamentos é relativamente jovem no Brasil. Por isso algumas mudanças ainda precisam ser feitas nas instâncias legais, o que exige dos locadores representatividade no congresso nacional. Locação não é considerada prestação de serviço pela lei, e a duplicata somente pode ser emitida para contratos de compra e venda mercantil, ou de prestação de serviços, conforme estabelecido na Lei 5.474/68”, explica Maroun.

DICAS PARA OS LOCADORES

Para o jornalista e comentarista de economia Luiz Arthur Nogueira os locadores precisam enxugar custos e buscar profissionais talentosos com regimes diferenciados de contratação. Eurimilson Daniel complementa: “É preciso adequar o tamanho da empresa para esse período de recessão econômica. Isso significa reduzir o tamanho da frota, conter investimentos e deixar a folha de pagamento em 25% do faturamento. Quem está com dívida e financiando equipamentos precisa conversar com os bancos e refinanciar, optando por taxas de juros e prestações reais e não estimadas”.

OBRAS DE INFRAESTRUTURA X RETOMADA

Luiz Arthur Nogueira conta que, em todo o mundo existe U$ 1,2 trilhão para investimentos diretos, e 13% desse total está previsto para ser aportado na América Latina. O Brasil tem 40% da região, ou seja, U$ 64 bilhões, e continua sendo o sexto país no mundo que mais atrai investimentos. Mas para voltar a crescer precisa retomar com urgência as obras de infraestrutura, como geração de energia, malha rodoviária e ferroviária, abastecimento, entre outras. “No setor da construção pesada, as grandes construtoras vão buscar acordos de leniência, as médias e pequenas devem ganhar espaço e as empresas estrangeiras podem participar mais dos contratos”, adverte Nogueira.

Para ele, as multinacionais que montaram fábrica de equipamentos no Brasil terão motivos para comemorar, porque nos próximos cinco anos a economia vai reagir, e o crescimento será retomado em função da infraestrutura. Para que os prazos sejam cumpridos será necessário incentivar o investimento privado, oferecer segurança jurídica, garantia de qualidade nos investimentos públicos e renovação das frotas. “Quando a crise passar, todos sairão mais fortes. Há dinheiro sobrando no mundo esperando o momento certo de entrar no Brasil”, conclui Nogueira.

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