Sem transportes é complicado, por Alfredo da Mota Menezes

Publicado em
17 de Maio de 2010
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O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) publicou estudo que mostra que a soja do norte de MT levada até os portos tem um frete três vezes maior que nos EUA. Para os produtores de Sorriso, distante 2.280 km do porto de Paranaguá, o frete fica em 97 dólares por tonelada transportada por rodovia.

Os produtores de Iowa, EUA, distante 1.580 km dos portos, gastam menos de 34 dólares por tonelada, sendo dez dólares de frete de caminhão e mais 24 dólares de transporte pela barcaça.

Tenho números mais antigos que mostravam que no Brasil a hidrovia é usada para transportar apenas 5% da produção no campo. Na Argentina seriam somente 2%. Os EUA, por sua vez, transportam 61% de sua produção agrícola por hidrovia.

Por hidrovia uma carga de quatro mil toneladas precisaria de 111 caminhões com 222 tripulantes. Por hidrovia seria um só veículo com talvez oito tripulantes.

Por ferrovia o Brasil transportava 28% dos bens agrícolas, a Argentina 16% e os EUA 23%. Por rodovia, o meio mais caro de transportes, o Brasil levava 67% da produção agrícola, a Argentina 82% e os EUA só 16%.

Mais ainda: a distância média até os portos no Brasil fica entre 900 e 1.000 km, na Argentina, entre 250 e 300 km e nos EUA em 1000 km. A desvantagem maior está com o Brasil: transporta-se mais por rodovia e numa distância maior.

Esse estudo refere-se ao Brasil inteiro. No caso de MT a coisa é ainda pior. A alta produtividade no campo faz com que a produção do estado seja ainda competitiva. Mas outros lugares já começam a ter também alta produtividade. Quando essa distância na maneira de produzir diminuir, como é que ficaria a produção do estado?

O mesmo estudo do Imea está sendo usado pela Associação de Produtores de Soja de MT para defender investimentos na hidrovia Teles Pires-Tapajós. Mostra que o frete do norte de MT cairia para algo como 56 dólares por tonelada, sendo 37 dólares do caminhão até a hidrovia e mais 19 de frete das barcaças.

Quer mais dúvidas? Me disseram que para essa hidrovia ser viável seria necessário algo como doze bilhões de reais para eclusas, dragagens e vertedouros especiais. Alguém acredita que o outro Brasil permitirá que o governo invista o equivalente a seis bilhões de dólares para viabilizar uma hidrovia num estado com menos de dois milhões de eleitores?

Fui informado também que seria quase impossível transformar a hidrovia Araguaia-Tocantins em via para transporte. O serviço de dragagem é tão monumental para dar calha o ano inteiro que é sonho acreditar que um dia ela se torne realidade. Sobraria a hidrovia Paraguai-Paraná e seus eternos embates jurídicos. Assim mesmo, ela nunca seria usada para transporte em larga escala de bens agrícolas in natura.

Se MT tem dificuldade de transporte da produção bruta do campo, imagine na agroindústria. Setor econômico que é o sonho de dez entre dez pessoas deste estado. Como competir, por exemplo, com a carne industrializada de suíno produzida em Chapecó com mercado consumidor e meios de transportes a um tiro de espingarda?

Tem hora que dá para achar que é sonho querer ser um estado com agroindústria desenvolvida com mercados consumidores longe e sem transporte adequado que torne os bens aqui produzidos competitivos com outros lugares do país.

ALFREDO DA MOTA MENEZES é articulista político em Mato Grosso.
[email protected]
www.alfredomenezes.com

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