Seca afeta hidrovia e poderá gerar mais filas de caminhões em Santos

Publicado em
20 de Fevereiro de 2014
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A estimativa é que a redução da navegabilidade na Tietê-Paraná transfira por mês 126 mil toneladas para as rodovias, ou 3,6 mil caminhões do tipo bitrem

Em um momento em que ocorrências pontuais de filas de caminhões destinados ao porto de Santos (SP) voltam a causar transtornos em rodovias paulistas, um problema adicional pode causar mais congestionamentos. A estiagem que durou quase um mês diminuiu em cerca de um terço a capacidade de transporte da Hidrovia Tietê-Paraná, o que está já obrigando algumas empresas a migrar suas cargas para as carretas.

Os 18 comboios atualmente em operação na hidrovia estão operando, cada qual, com até 4 mil toneladas. Em condições normais, eles podem transportar 6 mil toneladas. A estimativa é que a redução da navegabilidade na Tietê-Paraná transfira por mês 126 mil toneladas para as rodovias, ou 3,6 mil caminhões do tipo bitrem. São 120 carretas a mais por dia.

Segundo o Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo, as chuvas dos últimos dias não foram suficientes para melhorar a situação. "Pelo contrário, o nível dos reservatórios das usinas de Ilha Solteira e Três Irmãos diminuiu hoje [ontem]. E a programação é que até sexta chegue a uma cota de esvaziamento que compromete a hidrovia", afirmou o diretor do Departamento, Casemiro Carvalho.

Para ele, é necessário dividir o ônus com o governo federal. "Estou com um problema na hidrovia em função da geração". Procurado para se manifestar sobre o problema, o Ministério de Minas e Energia não retornou até o fechamento desta edição. Já a Secretaria de Portos (SEP) disse que está empenhada em construir uma solução com as agências reguladoras de transportes terrestres e aquaviário (ANTT e Antaq) e com o Ministério dos Transportes para minimizar os impactos do excesso de caminhões.

O agronegócio é o principal usuário da Tietê-Paraná, ocupando 12 dos 18 comboios disponíveis. As empresas combinam o transporte hidroviário ao ferroviário para acessar o porto de Santos, por onde é exportada 30% da soja e 50% do milho nacionais. As barcaças são carregadas em São Simão (GO) e navegam até Pederneiras (SP), num trajeto de quase 650 quilômetros. De lá, a carga é colocada na ferrovia que chega a Santos. Para não perder o navio, os donos de cargas têm de recorrer de última hora ao frete rodoviário no mercado spot, geralmente mais caro.

Na semana passada a Caramuru Alimentos, maior usuária da hidrovia, sentiu na pele o problema. A empresa foi obrigada a transferir para carretas parte da soja programada para usar o sistema intermodal. Como resultado, alguns de seus caminhões chegaram ao cais santista sem o agendamento prévio - exigência do governo federal -, congestionando um trecho do porto.

Cerca de 80% das exportações da Caramuru são realizadas pelo sistema intermodal. A empresa disse ter investido ao longo dos últimos anos mais de R$ 100 milhões para concretizar esse projeto de transporte. Ontem, caminhões destinados ao porto voltaram a travar a entrada de cidades da Baixada Santista pela manhã. Houve 30 quilômetros de congestionamentos se somados todos os trechos com problemas nas rodovias que ligam São Paulo ao litoral.

Segundo a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), houve excesso de caminhões. Mas, conforme a Ecovias, concessionária rodoviária, o volume que desceu a Serra do Mar até o meio-dia de ontem estava dentro do esperado para o período. A Codesp também disse que alguns terminais descumpriram o agendamento prévio e que outros chamaram as carretas antes da data.

O governo ainda está fechando os dados para emitir os autos de infração contra as empresas. Eles poderão resultar em multas que variam de R$ 1 mil a R$ 20 mil por veículo, conforme prevê resolução da Antaq. Até lá, a SEP disse que não divulgará os nomes dos terminais nem a quantidade de carretas que quebraram as regras.

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