Saulo de Castro foi escolhido para fazer a ’faxina’ nos Transportes

Publicado em
10 de Dezembro de 2010
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A escolha de Saulo de Castro Abreu Filho para a secretaria dos Transportes no próximo governo de Geraldo Alckmin (PSDB), eleito em São Paulo, guarda mais relações com o bom trânsito do promotor e ex-secretário de Segurança junto aos órgãos de fiscalização pública do que com o conhecimento da área em que atuará. Escolhido cerca de dez dias antes do anúncio, Saulo terá como missão manter o diálogo com os ministérios públicos federal e estadual enquanto faz uma faxina na pasta, frequentemente alvejada por denúncias de corrupção e desvios em contratos e licitações de obras de grande porte.

Com fama de truculento e sem experiência na área, Saulo administrará recursos menores do que os que a Pasta teve este ano. Segundo o Orçamento 2011, em pauta na Assembleia Legislativa, Transportes receberá R$ 4,4 bilhões, 16% a menos que em 2010. Há uma semana, o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Estado recomendaram à Caixa Econômica Federal que não aprove ou suspenda a concessão dos financiamentos para a implantação de um sistema de monotrilho para a linha 17 (Ouro) do Metrô, por não haver sequer projeto básico de concorrência. A obra é uma dos empreendimentos de infraestrutura previstos pelo governo brasileiro para a Copa do Mundo de 2014.

No grupo de transição de Alckmin, a leitura é de que, apesar do bom trabalho do atual secretário, Mauro Arce, fugiram de seu controle as diversas ações da secretaria dos Transportes e seus braços administrativos - de portos, hidrovias, aerovias, aeroportos e a Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), responsável por tocar as grandes obras do Estado, além das concessões.

Arce diz que a secretaria busca responder a todas as acusações e dar cabo de todas as mudanças solicitadas. Exalta a situação tranquila no tocante ao andamento das obras que deixará para o sucessor: "Foram quase R$ 25 bilhões de investimentos em quatro anos. Recuperamos 12 mil km de vias municipais. Deixamos bem encaminhadas as obras . Já temos o compromisso do governo federal de custear 30% da obra do trecho Norte do Rodoanel e o trecho leste será concedido à iniciativa privada", afirma. Uma equipe de técnicos de Saulo está instalada na secretaria dos Transportes e tem tomado nota dos projetos em andamento. Arce se esquiva da questão política, tanto em relação às ações do ex-diretor de engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, quanto da nomeação de um sucessor sem experiência na pasta: "Eu mesmo era do setor elétrico quando entrei; deviam falar a mesma coisa de mim", diz.

As atribuições da Dersa também serão repensadas na nova administração. O processo de concessão de rodovias do Estado está consolidado. Dos 22 mil km de estradas paulistas, 5 mil km estão sob concessão.

Segundo tucanos próximos a Alckmin, a principal motivação para a escolha de Saulo de Castro é sua capacidade de se impor. Haveria algumas "bombas-relógio" para desarmar. Informações sobre superfaturamento ligados à pasta de transportes e estariam à mão do grupo de transição, que quer agir antes que eventuais denúncias vejam a luz do dia.

A passagem de Saulo de Castro pela Secretaria de Segurança foi apinhada de episódios controversos. Em 2006 defendeu a não divulgação da lista de mortos no confronto entre a polícia e a facção Primeiro Comando da Capital (PCC), durante a série de ataques na capital paulista. Em depoimento à Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa para falar sobre a crise na segurança pública no Estado, ofendeu vários deputados, mostrou o dedo médio e chamou um deputado para a briga. A passagem foi registrada em uma denúncia no MP-SP.

No mesmo ano, Saulo protagonizou um bate-boca via imprensa com o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que entregaria seu cargo, caso Bastos liberasse o dinheiro destinado ao sistema prisional do Estado. Se não fosse feito o envio, desafiava Bastos a fazer o mesmo.

A reportagem procurou Saulo de Castro, mas foi informada pela assessoria de Alckmin que nenhum dos secretários está autorizado a falar com a imprensa no momento. .

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