Só em 2016, os roubos de carga no estado trouxeram um prejuízo de R$ 619 milhões, um valor que daria para pagar um mês de toda a folha de pagamento da Polícia Militar do Estado e de seus inativos do estado com folga. Estudo divulgado nesta quinta-feira pelo Sistema Firjan, revelou que em seis anos, aumento das ocorrências no estado foi de 220,9% e prejuízo chegou a R$ 2,1 bilhões. De janeiro da dezembro do ano passado, o Rio registrou 9.862 roubos de cargas, o terceiro recorde consecutivo em 25 anos. De acordo com o estudo “O impacto econômico do roubo de cargas no estado do Rio de Janeiro”, das 139 delegacias da Polícia Civil no estado, 12 concentram mais da metade das ocorrências. O Sistema FIRJAN ressalta que estes locais ficam no entorno das principais rodovias (Avenida Brasil, BR-040, BR-101-Norte e BR-116) e possuem trechos dominados pelo crime organizado, notadamente o tráfico de drogas.
De 2011 a 2016, foram mais de 33,2 mil ocorrências - uma a cada 1h35. A Região Metropolitana concentrou 94,8% do total estadual (31,5 mil). O avanço nestes seis anos foi mais acentuado na Baixada, na capital e no Noroeste Fluminense. Em Guapimirim, o crescimento foi de 2.600%. Japeri teve aumento de 1.700%, Mesquita de 1.031% e Itaguaí de 1.000%.
Para a Federação, o roubo de cargas afeta negativamente o setor produtivo, elevando os custos relativos ao frete e gerando perda de competitividade, e também para a sociedade, por conta do aumento do preço final das mercadorias. A Federação destaca ainda que regiões com grande incidência passam a ser evitadas e a população local enfrenta o risco de desabastecimento ou de se tornar refém do crime organizado, que controla o comércio local.
Ao comentar o impacto dos roubos na economia do estado, Riley Rodrigues, gerente de Estudos de Infraestrutura do Sistema Firjan, lembra que a conta levou em consideração apenas o valor da carga:
— O prejuízo total na indústria, no transporte, nos revendedores, no consumidor e no governo (que é a perda de arrecadação) ele é bastante superior a isto.
Riley usou como exemplo o custo de um fogão, desde o momento que sai da indústria até a compra pelo consumidor:
Você tem um fogão que todo o processo desde a fabricação até a colocação no ponto de venda e preço final ao consumidor é de R$ 1mil. Só que como o fabricante está tendo suas cargas roubadas, ele coloca uma taxa, um sobrepreço para poder se proteger da eventualidade do roubo. Isto pode ser através de seguro ou preço. As transportadoras que estão inclusive com dificuldade para poder fechar seguros aqui no estado do Rio de Janeiro, em especial na Região Metropolitana, elas têm que aumentar o investimento, que se chama gerenciamento de risco de transportes, ou seja, monitoramento, escolta, armada muitas vezes, e o próprio seguro. Isto pra transportadora dá um impacto em torno de 12,35% . Este valor é jogado em cada carga. Depois tem o revendedor, que já recebeu o impacto do aumento do produto no fabricante e o aumento do frete e transforma isto para o consumidor. Quando o consumidor chega para fazer a compra, aquele produto que, se não tivesse a questão do roubo de carga, sairía a R$ 1mil . acaba tendo um sobrepreço de 30 a 40%. Isto afeta todos os produtos, são alimentos e bebidas, eletro eletrônicos, medicamentos, de todos os produtos.
RIO PAGARÁ TAXA EXTRA POR ROUBOS DE CARGAS
Segundo Riley Rodrigues, um novo impacto será sentido pelo consumidor a partir de agora, com a criação pelas empresas transportadoras de uma taxa diferenciada para o Rio de Janeiro:
— No final da semana passada houve uma reunião em Goiás,as federações de transportes do Brasil inteiro decidiram que vão cobrar, de toda carga com origem ou destino no Rio de Janeiro, uma taxa excepcional extraordinária, esta taxa vão cobrar de 0,3% a1% do valor da carga transportada ou um valor mínimo que vai de R$ 10 a R$ 15 a cada cem quilos. Então no caso de um Bitren que carrega até 75 toneladas, o a taxa custará R$ 11.250 reais. É claro que este preço recairá sobre o dono da carga e vai reverberar no consumidor final . E isto é perda de competitividade. Estes são custos que não estão na conta dos R$ 613 milhões. São custos indiretos. E há outros. Quando a carga é roubada, ela já foi vendida, aquele cliente que comprou pagou imposto por ela. Ao mesmo tempo esta carga roubada, que não é vendida em qualquer esquina, ela tem um sistema de distribuição em estabelecimentos, alguns deles, com fachada legal, onde ela é vendida. E carga roubada vendida não recolhe impostos. Ou seja tem a perda do fabricante, do transportador, do revendedor, do consumidor e do estado que não arrecada. Este é o impacto sobre a economia.
Entre os motivos para o crescimento dos casos de roubos, em especial no Rio de Janeiro, o gerente de Estudos de Infraestrutura do Sistema Firjan listou o fato das organizações criminosas que lidam com tráfico de drogas e contrabando de armas passarem a usar o roubo de cargas para se financiarem e também o encolhimento da capacidade da segurança, em razão da calamidade financeira do estado:
— Se olhar a questão da inteligência e da segurança no Estado, entre 2014 e 2015, o Rio reduziu as despesas de segurança pública na função policiamento em 54,6%. A grosso modo, o orçamento caiu de R$ 512 milhões para R$ 432 milhões. Em inteligência, que é investigação, passou de R$ 39,8 milhões para R$ 21,6 milhões. Ou seja, caiu 45,7%. No momento em que você tem a criminalidade crescendo, você diminui seu investimento em policiamento e em investigação, por causa da crise — criticou.
No Mapa do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro 2016-2025, lançado pelo Sistema FIRJAN no ano passado, o combate ao roubo de cargas é apontado como uma das prioridades. Por isso, a Federação sugere uma série de ações que precisam ser implementadas simultaneamente.
Entre elas estão o aumento do efetivo policial nas áreas de maior incidência e a adoção de modelo de “Dação em Pagamento”, que pode permitir que empresas inscritas na dívida ativa do estado realizem pagamentos através da dação de equipamentos e da realização de serviços destinados a garantir o bom funcionamento das forças policiais. Além disto, a Firjan defende que recursos oriundos de Termos de Ajustamento de Conduta por questões ambientais e trabalhistas possam ser utilizados para equipar as forças policiais; e a redução do mercado de cargas roubadas aumentando a punição aos crimes de receptação, armazenamento e venda de produtos roubados, através da cassação da inscrição no CNPJ e no cadastro de contribuintes do ICMS, além da recomposição do quadro da PRF no estado do Rio de Janeiro e dos postos de fiscalização rodoviária, como postos da PRF, barreiras fiscais e balanças, em especial nas principais fronteiras estaduais.