Rodovia é a primeira opção para transporte

Publicado em
27 de Maio de 2014
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Estimativas do setor de transportes dão conta de que 62% das cargas transportadas utilizam o sistema rodoviário no Brasil. É o mais extenso modal brasileiro, com 1.713.885 km de rodovias, o que o coloca como primeira opção para os transportadores. Mas a escolha pelas rodovias se deve muito mais à falta de alternativas do que ao ganho logístico. Dados do Sistema Nacional de Viação (SNV) revelam que apenas 202.589 km são pavimentados, o que representam 11,8% da malha. Entre as rodovias pavimentadas, 64.921 km são de responsabilidade federal e somente 8% delas têm pista dupla (5.203 km) e 2,1% (1.376 km) estão em fase de duplicação. As demais (89,9%) são de pista simples.

Para Bruno Batista, diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), apesar de ampla, a malha rodoviária é insuficiente e custosa. "O maior problema é a qualidade, muitas foram construídas nos anos 70, são inseguras e com geometria defasada, gerando altos custos operacionais. A malha não cresceu para se adequar ao ritmo da economia e não houve os investimentos necessários", afirma.

Hoje, os principais corredores rodoviários federais e estaduais das regiões Sul e Sudeste estão sob administração de concessionárias privadas, política adotada na década de 90 e reforçada por programas do governo federal. Lançado pela presidente Dilma Rousseff em 2012, o Programa de Investimentos em Logística (PIL) estabelece a concessão de 7 mil quilômetros, divididos em 9 lotes, com investimentos previstos de R$ 46 bilhões. O critério adotado é o de menor tarifa de pedágio. O período de concessão é de 30 anos. Dos 9 lotes (distribuídos em rodovias das regiões Sudeste, Centro Oeste e Nordeste) quatro já foram leiloados - BR 050 (GO/TO), BR 060/153/262 (DF/GO/MG), BR 163 (MT) e BR 163 (MS) - sendo que o trecho de 628 km da BR-153, entre Anápolis (GO) e Aliança do Tocantins (TO), teve seu leilão realizado no dia 23 de maio passado.

Estradas em mau estado de conservação elevam o custo operacional do transporte e o preço do frete, gerando efeito cascata que cai no colo do consumidor. De acordo com a "Pesquisa CNT de Rodovias 2013", que avaliou o estado de conservação de 96.714 quilômetros de rodovias federais e estaduais pavimentadas, 63,8% apresentaram problemas no pavimento, sinalização ou na geometria da via. No geral, 29,4% dos trechos pesquisados foram classificados como ruins ou péssimos.

De acordo com o estudo, o custo operacional - aumento no consumo de óleo, desgaste dos freios, maior reposição de peças e demora no trajeto - dos caminhões vai de 18,8% em rodovias com bom estado de pavimentação até 91,5% nas de péssimo estado. Na média, as rodovias provocam um aumento operacional de 25%. As rodovias em piores condições de pavimentação estão no Nordeste (39,5%) e no Centro Oeste (26,8%).

Para Batista, há no governo federal um descompasso nos investimentos entre as necessidades do transporte de carga e as providências adotadas. Ele critica a urgência do governo em asfaltar o trecho de 1.010 km da BR 163, entre Cuiabá (MT) e Santarém (PA), apesar de ser considerado um corredor estratégico para o transporte de soja com destino ao porto de Vila do Conde (PA).

Para Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, os investimentos em transportes no Brasil não são executados de forma planejada, o que resulta em uma saturação de importantes corredores rodoviários que poderiam ter seus benefícios otimizados caso atuassem integrados com ferrovias e hidrovias. O modelo ideal data dos anos 30, nos Estados Unidos, nas imediações das bacias dos rios Mississipi e Tennessee. O complexo Tennessee Valley Authority agregou um sistema de multimodalidade entre rodovias e cabotagem para transportar milho voltado à exportação. Empresas como a Cargill montaram unidades na região e o TVA é o mais importante polo do agronegócio americano. "No Brasil, a logística é amparada em projetos e não em conceitos visando a formação de corredores logísticos planejados".

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