Restrição viária isola zona sul

Publicado em
13 de Setembro de 2010
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Há menos de duas semanas, a Prefeitura de São Paulo começou a multar os motoristas de caminhões que circulam pela marginal Pinheiros - entre as pontes do Jaguaré e Morumbi - e pelas avenidas dos Bandeirantes, Afonso D escragnolle Taunay e Roberto Marinho. A restrição da circulação de caminhões nessas vias, de segunda a sexta-feira das 5h às 21h, e aos sábados das 10h às 14h, já funcionava em caráter educativo desde o começo de agosto. A medida, no entanto, traz transtornos para empresários do extremo sul da cidade. Os empreendedores reclamam que ficaram isolados e sem rotas de acesso ao rodoanel Mário Covas, via apontada como alternativa para o tráfego.

Caminhões são proibidos de trafegar na marginal Pinheiros (à esquerda) e na avenida dos Bandeirantes (à esquerda, abaixo). As multas já começaram. Abaixo, a avenida jornalista Roberto Marinho, sem caminhões, um VUC, o modelo que está liberado, e Ivan da Silva, diretor da Help Transportes, empresa de Interlagos que ficou isolada no bairro.A medida restritiva da Prefeitura já apresenta resultados positivos, segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). No horário de pico, por exemplo, houve queda de 58% no volume de caminhões na marginal Pinheiros e 68% na avenida dos Bandeirantes, com relação a março, mês anterior à abertura do trecho sul do Rodoanel. A meta é de redução de 80% no número de veículos pesados nessas vias. A multa para quem descumprir a lei é de R$ 85,12, além de quatro pontos na carteira de habilitação.

Com a restrição de circulação, a alternativa para os caminhoneiros é seguir pelo Rodoanel ou entrar na cidade nos horários permitidos. Outra possibilidade é substituir os caminhões de grande porte pelos Veículos Urbanos de Carga (VUCs), com até 6,3 metros de comprimento e que seguem o rodízio municipal de veículos. Para circularem, os VUCs devem se cadastrar no Departamento de Operação do Sistema Viário (DSV) pelo site www.prefeitura.sp.gov.br.

Prejuízos

Embora a restrição de caminhões atinja empresários de toda a cidade, talvez os mais prejudicados sejam os que trabalham no extremo da zona sul. Márcio Ivan da Silva, diretor da Help Transportes, empresa especializada no transporte de máquinas pesadas e equipamentos industriais, localizada em Interlagos, diz que a situação se complicou. "No horário restrito não temos por onde sair. Estamos ilhados", diz. Segundo ele, os empresários usam, para deixar a zona sul, a marginal Pinheiros e a avenida 23 de Maio, que também é restrita à circulação de caminhões.

As mesmas dificuldades são apontadas para acessar o trecho sul do Rodoanel. Uma das alternativas seria a rodovia Régis Bittencourt. No entanto, para acessá-la, os veículos de transporte de carga passariam pela marginal Pinheiros. Os 20 caminhões da empresa de Márcio desde o início da fiscalização passaram a usar uma rota alternativa, passando por dentro dos bairros do Morumbi, Butantã e Jaguaré. "Esses locais não foram projetados para o transporte de cargas pesadas. Simplesmente estamos transferindo o trânsito de local, da marginal para a paralela mais próxima", afirma o empresário.

Pelo perfil da carga que a empresa de Márcio transporta, não é possível a utilização do VUC. A possibilidade de trabalhar fora do horário de restrição de circulação também não agrada ao empresário. Muitos de seus clientes, principalmente de pequeno porte, exigem a entrega no horário comercial. "Eles não têm estrutura para expedir ou receber mercadorias no período noturno. Dessa forma, é pegar ou largar".

Na loja de materiais de construção de Luís Augusto Barbosa, coordenador de Política Urbana da Distrital Santo Amaro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o valor do frete já aumentou 60% nos últimos 30 dias. Ele conta que um caminhão de grande porte, muitas vezes, é substituído por cinco VUCs quando não pode circular, o que encarece o frete. O empresário não vê muitas vantagens em utilizar o trecho sul do Rodoanel. Além do pedágio, ele ressalta que a via possui iluminação e policiamento deficientes. Também não há postos de combustíveis e o sinal de celular é fraco em muitos trechos.

Estagnação

Para o presidente da Associação Empresarial da Região Sul (Aesul), Ronaldo Farias, a medida está afetando mais de 200 empresas da região, que, pelo perfil das mercadorias, não podem substituir seus caminhões por VUCs. "A restrição está fazendo com que a região fique ainda mais estagnada, devido à dificuldade de acesso. Corremos o risco de perder algumas empresas", diz.

De acordo com o dirigente, praticamente todas as 20 empresas filiadas à Aesul estão traçando caminhos alternativos. "A prefeitura poderia nos dar mais atenção, criando uma opção para podermos acessar o Rodoanel ou mesmo implantando uma licença especial".

O aumento no custo do frete e no preço dos produtos é inevitável para Ronaldo. Muitas variáveis são levadas em consideração. Além de gastos maiores com mão-de-obra, no período noturno aumentam os riscos com roubo de mercadoria, o que é levado em conta pelas seguradoras. Ao optarem por caminhos alternativos, geralmente mais longos, os gastos com combustíveis também são maiores.

Segundo estimativas do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo (Setcesp), o custo final dos fretes na capital pode aumentar 80% em algumas regiões. A Prefeitura ainda estuda levar a restrição de caminhões para a marginal Tietê e as avenidas do Estado e Salim Farah Maluf. Mas só depois da entrega do novo trecho da avenida Jacu Pêssego. 

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