Restrição a caminhões na cidade de São Paulo já provoca mudanças no trânsito

Publicado em
09 de Março de 2012
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Nos horários em que caminhões foram proibidos de circular, o tráfego na Marginal Tietê fluiu bem melhor do que antes.

A restrição à circulação de caminhões em alguns horários em São Paulo, que acabou motivando a greve, já provocou mudanças no trânsito da cidade. Nesta quinta-feira (8), o repórter José Roberto Burnier percorreu, em horários diferentes, uma das áreas afetadas diretamente pela medida.

No horário de pico, às 8h, a Marginal Tietê tinha trânsito bom. Na Avenida Salim Farah Maluf, importante corredor de acesso à Zona Leste, a mesma situação.

Desde segunda-feira (5), caminhões não podem circular pela Marginal Tietê e vias de acesso das 5h às 9h e das 17h às 22h.

Às 11h, com o trafego liberado, os caminhões apareceram, e o trânsito piorou.

“Quando voltam, piora bastante”, conta um jovem.

Às 15h40, o trânsito estava liberado e vários caminhões trafegavam pela Marginal Tietê. Em um dia de semana como este, neste horário, o trânsito costuma estar mais pesado. Provavelmente isso já seja reflexo da medida da prefeitura, já que uma hora e pouco depois, o tráfico seria proibido para os caminhões e muitos motoristas já deviam estar buscando rotas alternativas.

O frentista Adriano Siqueira trabalha de cara para a Marginal Tietê. Ele conta que, no mesmo horário em um dia de semana, o trânsito estaria parado.

O taxista Adriano Santana faz uma ressalva: “Melhorou para nós que andamos direto. Só que o volume de carros é maior também”.

A partir das 17h, voltou a valer a restrição aos caminhões na Marginal Tietê, e o tráfego se resumia a automóveis e veículos menores. O trânsito ficou bem melhor do que antes.

O urbanista Cândido Malta de Souza, que estuda o tema, diz que em uma cidade que ganha 800 veículos por dia, a prefeitura está empurrando o problema para a frente: “Está havendo uma preferência pelo automóvel. As soluções que têm sido empregadas são paliativos que adiam o problema”.

Com restrição na marginal, caminhões desviam por ruas pequenas (Folha.com)
 
Uma rua totalmente residencial, cheia de sobrados, com apenas cem metros de comprimento e oito de largura, virou uma das rotas de acesso de alguns caminhões que decidiram arriscar pelas ruas da zona norte de São Paulo em vez de seguir pela marginal Tietê.
"A casa trepida, as janelas vibram, a gente consegue perceber a passagem dos caminhões --e eles não andam devagar", diz a dona de casa Claudia Machado, 45, que mora ali na rua Caraná, na Vila Guilherme.

Seu temor é que surjam mais buracos na via, já toda remendada, e haja mais acidentes na esquina com a movimentada Chico Pontes --há uma semana, um caminhão cegonha se desequilibrou na curva e bateu num poste.

Segundo Claudia, o movimento de caminhões cresceu há uma semana em sua rua e há cerca de um mês na rua Chico Pontes, que hoje recebe grande fluxo de veículos.

Bonifácio Santos, 63, dono de uma loja de conveniência na rua Curuçá, Vila Maria, também notou um aumento do fluxo de caminhões desde segunda. "Às 6h50 cheguei aqui e já tinha fila de caminhões. Eles saem por aqui para evitar os guardas."

Detalhe: algumas dessas ruas usadas de desvio, como a Maria Cândida, também têm restrição nos horários de pico --mas a Folha não viu agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) para fiscalizar o cumprimento.

Na rua Voluntários da Pátria, em Santana (zona norte), o fluxo também parece ter aumentado há cerca de duas semanas, quando as vendedoras Nadir de Abreu, 57, e Natália Costelini, 18, perceberam mais picos de congestionamento causados por carretas tentando fazer curvas em ruas estreitas.

"Na semana passada pensei que o caminhão não ia conseguir virar na rua Racionalismo Cristão", diz Natália. "Parou os carros todos atrás."

"A restrição na marginal vai levar caminhões para vias de bairros que não têm a menor condição de suportar tráfego pesado; o pavimento vai começar a trincar", diz o consultor em engenharia de tráfego e transporte Horácio Figueira.

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