Representantes do agronegócio vão ao governo pedir solução para os gargalos logísticos

Publicado em
28 de Novembro de 2012
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As diretorias da Associação Brasileira de Agronegócio (Abag) e da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) vão encaminhar à ministra-chefe da Casa Civil, Gleise Hoffmann, um documento solicitando medidas para solucionar ou atenuar as sérias consequências da crônica deficiência de infraestrutura logística do País para o escoamento da safra de grãos que está sendo colhida. Essa foi a principal decisão tomada após as discussões e debates durante o Fórum Safra Recorde de Grãos: os Desafios da Logística, realizado pelas duas entidades nesta quarta-feira (28), em São Paulo.

O documento deverá ter a adesão de outras entidades que participaram do encontro, como a Associação do Transporte Rodoviário de Carga do Brasil (ATR) e do Movimento União Brasil Caminhoneiro. “Quanto mais gente aderir, mais força teremos para mostrar ao governo que a situação é grave e ficará ainda mais crítica no ano que vem, com a colheita da safra recorde de grãos, que deverá alcançar 180 milhões de toneladas”, diz Carlos Lovatelli, presidente da Abiove.

“Nós temos urgência numa solução de curto prazo para uma situação que é insustentável, sobretudo por afetar o agronegócio, segmento que tem sustentado o equilíbrio no comércio externo brasileiro”, completou Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Abag. “Essa situação é, nitidamente, uma consequência de não ser o agronegócio tratado com prioridade pelo governo”, acrescentou Carvalho.

Além das questões ligadas à precariedade da estrutura de transporte do País, o documento a ser encaminhado ao Governo Federal tem também a incumbência de cobrar do governo a resolução dos problemas imediatos decorrentes da aplicação da Lei 12.619/12, que disciplina sobre a jornada de trabalho dos caminhoneiros e que foi suspensa até março de 2013 por força de uma decisão da própria Casa Civil. “O governo não se deu conta das graves consequências dessa lei para a cadeia do transporte”, afirmou Nélio Botelho, do Movimento União Brasil Caminhoneiro.

De acordo com um estudo comparativo feito pela ATR, a aplicação da nova legislação para os caminhoneiros provoca uma perda de 30% na produtividade das empresas de transporte. O comparativo levou em conta exemplos práticos de dois motoristas de uma transportadora que atuam numa mesma rota. A constatação é de que o motorista que seguiu a nova lei fez sete viagens, contra dez do profissional que seguiu a legislação anterior. Quanto a quilômetros rodados, pelo método novo foram percorridos 7.700 km, contra 11 mil do que seguiu a lei antiga. Já em termos salariais, o motorista que rodou seguindo a nova lei teve um ganho mensal de R$ 2.472,20, contra R$ 3.536,00 daquele que seguiu o método antigo.

Caos em plena safra recorde – Em relação às deficiências da infraestrutura de logística do País, os palestrantes demonstraram bastante preocupação, principalmente com relação aos gargalos para o escoamento da esperada safra recorde de grãos que está sendo colhida. “O ano de 2013 deverá ser um dos piores em termos de logística para o agronegócio brasileiro”, disse Ricardo Nascimbeni, da comissão de logística da Abiove.

Segundo ele, o problema deve se agravar com a falta de caminhões, pois “nós fechamos 2012 com queda de 30% nas vendas de caminhões, num modelo logístico baseado no modal rodoviário”. Segundo Nascimbeni, nossa situação é tão caótica, com deficiências em todos os níveis. “Estamos neste momento, por exemplo, com cerca de 5% a 10% da frota nacional de caminhões de transporte de cargas parados por falta de motorista”, afirma ele. Para acelerar a formação de motoristas, Rogério Martins, diretor da ATR, informa que estão sendo criados vários centros para formação técnica em diversas regiões do País. Salienta, porém, que essa medida tende a dar frutos no longo prazo.

Durante o Fórum Abiove-Abag, vários palestrantes enfatizaram a necessidade de um planejamento integrado entre as diversas instâncias ligadas à área de logística e também os vários níveis governamentais para solucionar os gargalos. O representante do Ministério dos Transportes no evento, Luiz Carlos Rodrigues Ribeiro, coordenador geral de Planejamento da Secretaria Nacional de Política de Transporte da pasta disse que esse planejamento existe e detalhou todo o plano de investimentos recentemente anunciado e que prevê aplicação de R$ 42 bilhões em rodovias e R$ 91 bilhões em ferrovias nos próximos 25 anos.

Na opinião de Nascimbeni, o planejamento estratégico de longo prazo do governo, que prevê desconcentração do transporte no modal rodoviário é correto e com ele todos concordam. “Nosso problema está no curtíssimo prazo”, diz ele. “Nós estamos estarrecidos é com a situação atual, quando teremos, no mês de dezembro, filas de caminhões no Porto de Paranaguá para transportar fertilizante. Fico imaginando como estará a situação durante o escoamento da próxima safra”, completou Lovatelli.

Para outro palestrante do evento, o vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamento e Manutenção (Sobratema), Eurimilson João Daniel, a chave para a solução do problema está não só em construir novas estradas, mas também conservar as já existentes. “Temos cerca de 50 mil quilômetros de estradas que necessitam de manutenção que não é realizada. Essa é uma das razões para o fato de que, na última reunião do Fórum Mundial, as estradas brasileiras tiveram classificação de 2,9, contra uma média mundial de 4,0 e de 3,4 da América Latina”, informou Daniel.

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