Reduzir custos de transporte através da otimização da rede*

Publicado em
29 de Março de 2010
compartilhe em:

O custo de transporte é um componente significativo nos custos logísticos das empresas, principalmente em empresas que operam em mercados altamente competitivos em termos de preços e margens de lucro, bem como nas empresas que operam com produtos de baixo valor agregado.

Esta ocorrência é potencializada na medida em que a empresa embarcadora possui um volume elevado de carga.

O gestor de logística que administra empresas com esse perfil de embarque, sofre pressões freqüentes da alta gerência para reduzir os custos de transporte.

Tenho recebido uma boa quantidade de mensagens desses profissionais, solicitando orientação sobre como proceder para reduzir esses custos.

Em razão disso, pensei que seria útil a esses profissionais (e outros tantos que tem o mesmo problema), dar algumas dicas de como o custo de transporte pode ser reduzido através da utilização de técnicas de otimização de redes. O resultado que pode ser obtido beira os 30% de redução de custos. Se você acha que isto serve (e quem não acharia), leia abaixo algumas rápidas orientações sobre como iniciar o processo de otimização:

Primeira Parte: Levantamento de Dados do Cenário

1 - Realize uma análise completa da demanda por serviços de transporte:
Faça um levantamento do seu volume de carga (em peso e dimensões), das características dos produtos embarcados (embalagens, risco, obsolescência, valor), e da ocorrência da demanda (quê produto, para onde, com que intensidade, com que sazonalidade, com que tendência). Procure documentar este levantamento.

2 - Escolha as redes mais significativas:
Faça uma classificação ABC das rotas que possuem custo mais elevado (se você não sabe, leia um livro de administração de materiais, o assunto é de fácil compreensão), e concentre-se na rede mais significativa (depois de otimizar a primeira rede da lista, faça o mesmo com as demais classificadas como "A").

3 - Explore as possibilidades de retorno de cargas:
Faça um levantamento exploratório junto ao destino das cargas da sua rede, com objetivo de levantamento das possibilidades de obtenção de carga de retorno para a empresa, que irá operar os serviços de transporte.

Tome o cuidado para que o perfil da carga de retorno seja compatível com o implemento que você utilizará na sua rede. Se não existir capacidade de gerar cargas no seu destino, verifique junto a pontos (cidades, regiões), próximas. Anote todos os dados possíveis (ver itens 1 e 2 acima e além disso a distância existente entre a sua cidade/região de destino e o ponto de retorno que você está examinando).

4 - Faça contato com os profissionais dessas empresas:
Lembre-se que o levantamento de dados pode ser mais fácil de obter quando a empresa fornece as informações. Analise o profissional de logística e veja se ele é favorável a este tipo de procedimento (e aproveite para aumentar a sua rede de relacionamento profissional). Não perca tempo com empresas e/ou profissionais avessos a práticas de parceria.

5 - Faça um anteprojeto daquilo que você pretende:
Antes de ir adiante, verifique a relação custo versus benefício de tempo e dinheiro envolvido no projeto. Apresente o anteprojeto ao profissional de logística da empresa que você deseja, apontando as vantagens que podem resultar da parceria. O projeto não precisa ser exato no que diz respeito a valores de redução de custo, deixe para fazer isto após a otimização da rede.

Após a realização destas ações é possível iniciar a otimização da rede. A otimização é realizada através da utilização de modelos matemáticos obtidos nos métodos de pesquisa operacional. Se você ainda não sabe o que é pesquisa operacional, informe-se e principalmente, forme-se.

Se você acha que a parceria entre dois embarcadores com volumes e produtos semelhantes na em uma origem e um destino já é otimização, engana-se.

O próximo editorial terá como assunto a abordagem de otimização e implementação da  nova rede, além de aspectos relacionados ao desenvolvimento de fornecedores de serviços de transporte.

REDUZIR CUSTOS DE TRANSPORTE ATRAVÉS DA OTIMIZAÇÃO DA REDE (parte II)

A otimização dos recursos de transporte pode reduzir sensivelmente os custos, desde que o veículo seja aproveitado na sua plenitude de capacidade. Qualquer desvio de finalidade (transportar carga), é uma perda e, portanto deve ser erradicada.

Nesse contexto a premissa básica é calcular a capacidade dinâmica plena do veículo, conforme exemplificado a seguir:

Item

Valor

Capacidade de carga do veículo

30 toneladas

Velocidade plena nominal

80 quilômetros por hora

Tempo de disponibilidade plena do veículo

24 horas por dia

Total (multiplicação dos fatores)

57.600 toneladas*quilômetro/dia


Por óbvio que para alcançar esta capacidade dinâmica plena do veículo, existe certos fatores condicionantes. Dentre estes fatores cita-se: a demanda pelos serviços (deve existir carga tanto na origem quanto no destino), a sincronização dos carregamentos (tanto na origem quanto no destino), a troca de tripulantes no percurso. Este é o cenário perfeito, mas isso é rara exceção.

Mesmo obedecendo estes fatores condicionantes não é possível que o veículo atinja a sua plenitude dinâmica de utilização, pois existe a necessidade de paradas obrigatórias para a realização de manutenção,  paradas fortuitas e de força maior como acidentes nas estradas, acidente com o próprio caminhão, além de estradas sem capacidade de desenvolvimento da velocidade de "cruzeiro" do caminhão (apenas para citar os fatores mais comuns). Ainda assim, a capacidade plena de utilização do veículo é um indicador de desempenho que deve ser estabelecido como "meta perfeita" e inalcançável.

A otimização da rede de transporte passa obrigatoriamente pela ocorrência dos três fatores mencionados na tabela acima, mesmo que necessite de adaptações para torna-la perfeita.

Assim, quando você analisar a rede que deseja otimizar, leve em consideração que o veículo da transportadora (ou frotista), deve estar sempre com sua capacidade máxima, que você deve providenciar nos pontos de origem e destino, o transporte de cargas de modo sincronizado, docas especiais e dedicadas para carga e descarga (e com isso minimizar o tempo em que o veículo permanece parado), verificar in-loco a capacidade de desenvolvimento da velocidade de cruzeiro do veículo no percurso e por fim, estabeleça pontos de troca de tripulação (considerando o tempo máximo legal da jornada de trabalho do motorista).

Após a coleta e análise de dados dos possíveis parceiros da rede (mencionada no editorial do dia oito de março), e considerando as premissas mencionadas acima, é possível iniciar os estudos para otimização da rede.

Você pode ter vários tipos de redes de transporte com vários parceiros, desde uma rede simples com uma origem e um destino (dois pontos com ida e volta), redes triangulares (três pontos interligados em um só sentido), ou redes com mais pontos (quatro ou mais).

Sugiro porém que você inicie os estudos e a respectiva implementação em cenários simples, pois dessa forma é possível corrigir eventuais falhas de aderência entre o planejamento do projeto de otimização e sua efetiva realização. No editorial da próxima semana, mostrarei como uma rede vista como imperfeita, pode ser otimizada através do método de rede perfeita.

REDUZIR CUSTOS DE TRANSPORTE ATRAVÉS DA OTIMIZAÇÃO DA REDE (parte III)
 
É fato que os custos de transporte podem ser reduzidos com o uso de métodos de otimização de recursos, embora a sua aplicação seja algo incipiente em empresas de transporte de cargas.

Penso que isso se deva ao baixo nível de conhecimento científico por parte dos administradores dessas empresas. Certamente para os empreendedores de sucesso que construíram o seu negócio com base no conhecimento empírico, o conhecimento acadêmico é visto como algo impraticável ou inatingível.

Cabe salientar que os ganhos tecnológicos em gestão ocorrem quando o conhecimento empírico e o conhecimento científico se unem. Esta é a proposta de otimização de redes de transporte: unir o conhecimento empírico e científico em torno de um resultado de economia de custos.

Os editoriais dos dias 8 de 15 de março abordavam as primeiras etapas para otimização de redes (levantamento de dados e de capacidade de transporte plena). Este editorial abordará os tipos de redes e seus fatores de complexidade.

As redes de transporte passíveis de otimização devem ter como premissa básica que os veículos devem andar completamente carregados, a uma velocidade máxima legal (80 ou 90 quilômetros por hora), e 24 horas por dia. Esta é a "meta perfeita", que embora seja muito difícil ser alcançada, pode ser utilizada como indicador de desempenho máximo.

O que dificulta os cálculos de otimização está diretamente ligado a quantidade de pontos de carregamento e descarregamento. Quanto mais parceiros em locais diferentes você colocar na sua rede, maior será a complexidade de planejamento e principalmente de execução das operações. Veja abaixo uma breve exemplificação dos casos e respectivas redes que podem ser geradas.

1o - Rede com dois pontos:


Imagine por exemplo que você está sediado em São Paulo e tem uma boa quantidade de produtos que são embarcados para Porto Alegre. Digamos que você consegue um parceiro que tenha contrapartida de cargas em quantidades semelhantes (ou próximas), às suas, ainda que a dinâmica das cargas ao longo do tempo seja diferente, isto é, a linha do tempo em que as cargas do seu parceiro são expedidas. Este cenário é perfeito para a otimização e a rede possui o seguinte desenho:

2o - Rede com três pontos:

 

 
Imagine que você está no cenário acima, mas o seu parceiro não possui cargas de retorno para São Paulo, pois o destino mais denso de cargas ocorre para Belo Horizonte. Nesse caso você consegue um outro parceiro que possui cargas de Belo Horizonte para São Paulo. Esta rede assume maior complexidade, tanto para encontrar os parceiros quanto para planejar e implementar a otimização na rede.

Veja como a rede fica neste caso:

As redes podem assumir complexidade maior na medida em que outros pontos são inseridos. Isto não significa impossibilidade de otimização da rede, mas certamente a sua implementação será um grande desafio.

No próximo editorial, mencionarei como a rede pode ser otimizada em relação ao indicador de "meta perfeita".

REDUZIR CUSTOS DE TRANSPORTE ATRAVÉS DA OTIMIZAÇÃO DA REDE (parte IV) 

Otimizar a frota é altamente rentável na medida em que reduz os custos fixos, tais como remuneração sobre o investimento, depreciação e demais custos (licenciamento, eletrônica embarcada, etc.).

Isto pode ser obtido na medida diretamente proporcional a plena utilização do veículo (totalmente carregado, andando a plena velocidade legal e durante todo o tempo disponível para tal).

Desde o editorial do dia 8 de março venho desenhando cenários e explicações de como isto pode ser preparado, analisado e implementado. Este editorial mostra como isto pode ser obtido e calculado.

Para evitar a complexidade de compreensão dos vários cenários possíveis, segue abaixo a explicação de como otimizar a rede com dois pontos de embarque/desembarque de produtos.

Basicamente esta rede pode ser descrita como uma parceria entre duas empresas que possuem cargas recíprocas. Uma empresa possui carga em um ponto e destina a outro ponto (cidade/região), e o parceiro possui a contrapartida da carga em sentido contrário.

O volume de carga não precisa ser idêntico e nem na mesma sincronia de tempo, pois isto poderá ser tratado com a formação de estoques, mas é imprescindível que ambas as empresas possuam um bom tratamento de previsibilidade de demanda.

Isto significa que o produto deve ter um consumo continuado e o modelo do produto não pode se modificar no curto prazo (produtos do tipo built-to-order ou fazer para estocar, como é o caso de óleo vegetal, leite, etc.).

O design da solução é simples, bem como a sua explicação. Veja a rede abaixo:


É possível otimizar esta rede. O objetivo é fazer com que os veículos tenham plena utilização. Para tanto você deverá providenciar o preenchimento da rede com carga nos dois sentidos, mesmo que isto signifique a formação de estoques nos dois pontos (por falta de sincronia de demanda).

Coloque uma estação (ou duas dependendo do caso), como ponto de apoio para os motoristas, com um pequeno "estoque" de motoristas para cobrir as incertezas relacionadas relativas ao tempo de viagem. Exija veículos rastreados e com microcomputador de bordo (para manter o padrão de tempos e dirigibilidade).

O resultado do planejamento deve ser uma rede onde os veículos funcionem 24 horas por dia, carregados e esta rede deve ter menor custo e mesmo nível de serviço (ou melhor), que a rede de transporte anterior (um motorista por veículo e paradas para descanso).

Eventualmente sobrará uma quantidade de carga que não encontrará espaço na "rede perfeita". Esta carga deve ser transportada no modelo de rede tradicional.

O planejamento da rede deve ser realizado através dos seguintes passos:

1o - Determine o equilíbrio da rede: Determine a quantidade de carga recíproca entre as empresas, pois isto faz com que a rede permaneça equilibrada sob o ponto de vista de quantidade de cargas nos dois sentidos.

2o - Verifique a dinâmica da demanda: Saiba como os picos e sazonalidades de demanda da carga ocorrem nos dois sentidos. Isto vai determinar a quantidade de tempo em que a carga vai permanecer estocada e portanto vai custar espaço e dinheiro investido nos estoques.

3o - Tenha em mãos a distância do trajeto: A distância do trajeto vai determinar onde serão os pontos de troca de tripulantes dos veículos.

4o - Faça os cálculos de viabilidade da rede: Isto deve ser feito de forma comparativa com a rede anterior. O cálculo da nova rede deve levar em consideração a redução do custo da viagem (dado pela redução dos custos fixos com o veículo), mas também deve levar em consideração o aumento dos custos com espaço para armazenamento, manuseio e custo do dinheiro investido no tempo.

Já realizei cálculos e planejei redes onde havia cerca de 80% de possibilidade de "meta perfeita", com impactos de cerca de 20% na redução de custos. Algumas premissas devem ser analisadas, tais como as características dos produtos.

Produtos com elevado valor agregado tendem a necessitar de maior velocidade na rede e portanto a manutenção dos estoques pode inviabilizar a otimização da rede. Este tipo de rede é perfeito para produtos acabados de baixo valor e elevada demanda, ou então para matérias primas.

Por incrível que pareça o problema em implementar este tipo de rede nem sempre é técnico, é comportamental. A estúpida manutenção de independência e falta de espírito colaborativo entre as pessoas (e empresas), que poderiam decidir pela cooperação, impedem que a otimização seja implementada.

Por:
Mauro Roberto Schlüter
IPELOG
www.ipelog.com

Boletim Informativo Guia do TRC
Dicas, novidades e guias de transporte direto em sua caixa de entrada.