Rastreamento e monitoramento: dois setores distintos, que ainda provocam confusão

Publicado em
15 de Outubro de 2012
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O mercado confunde a definição de rastreamento e monitoramento, assim como sua real aplicação em termos de tecnologia, apontam alguns dos participantes desta matéria especial. Enquanto o rastreamento visa à recuperação de carros roubados, o monitoramento reporta, em tempo real, a posição do veículo.

Wanderley Gonelli Gonçalves para o Portal Logweb

Antes de tudo, vale destacar que, ao focarmos os temas rastreamento e monitoramento nesta matéria especial de Logweb, encontramos posições diferenciadas com relação à distinção dos termos por parte de alguns entrevistados. Ou seja, eles têm conceitos operacionais bem independentes.

Por exemplo, Avelino Rocha, diretor de negócios da Autocargo (Fone: 0800 600 3800), diz que este assunto da suposta distinção entre “rastreamento” e “monitoramento” está mais associado a um determinado fornecedor no Brasil que opera com radiolocalizador (localização por radiofrequência), desejando criar esta diferença por questões de estratégia comercial. “Eu mesmo, com mais de 12 anos de experiência nesse segmento, não entendo desta forma, ou seja, não observo esta distinção, aliás, até hoje, pelo que me recordo, ninguém nos contatou para falar de monitoramento, mas, sim, de rastreamento de veículos e frotas”, diz ele.

E aproveita para analisar o segmento. “Estima-se, no Brasil, em cerca de 500 as empresas prestadoras de serviços para rastreamento/monitoramento de veículos, com menos de 10% certificadas por alguma entidade reconhecida pelo mercado, como o CESVI – Centro de Experimentação e Segurança Viária ou a GRISTEC – Associação Brasileira das Empresas de Gerenciamento de Riscos e de Tecnologia de Rastreamento e Monitoramento. Pela falta de regulação e ausência de critérios objetivos, o diferencial competitivo para a maioria restringe-se ao preço de seus produtos e serviços. Os tomadores de serviços, sejam eles transportadores, frotistas ou pessoas físicas, possuem demandas diferenciadas. Cada vez mais as empresas que possuem veículos têm despertado para a importância do uso de ferramentas para redução de custos e aumento da produtividade, exigência para se tornar competitivo em um mercado cada vez mais aguerrido”, completa o diretor de negócios da Autocargo.

Já para Vagner Falconi, diretor operacional da Buonny Projetos e Serviços Securitários (Fone: 11 5079.2500), os dois setores, apesar de utilizarem basicamente a mesma ferramenta, têm conceitos operacionais bem independentes – o rastreamento, inclusive, conta, também, com duas vertentes bem específicas, a rastreabilidade de veículos e cargas. A de veículos, bem conhecida do público em geral, envolve os rastreadores instalados nos próprios veículos que serão rastreados e contam basicamente com localizador GPS, um comunicador GPRS, um botão de pânico, alarme audiovisual e bloqueador remoto. A outra vertente é a rastreabilidade de cargas através de equipamentos móveis camuflados na carga. Nessa modalidade, basicamente são equipamentos muito pequenos, que contam com baterias que duram de 7 a 30 dias, localizador GPS e comunicador GPRS ou, então, localizador GPS e comunicação via RF.

“Hoje em dia já existem equipamentos mais sofisticados que unem esses dois meios de comunicação e ampliam a capacidade de localização, também via antenas repetidoras do sinal de celular (ERB´s). Esses dois mercados estão em franco crescimento – o primeiro conta com o apoio da Resolução 245/07, que tornará o rastreador um item de série nos veículos, e a outra conta com a necessidade cada vez maior do segmento de cargas em adotar medidas contingenciais à ferramenta de monitoramento de cargas”, explica Falconi.

Já o monitoramento – ainda segundo o diretor operacional da Buonny – tem características mais complexas, com regras atreladas às normas de cobertura securitária das cargas, conceitos comportamentais do motorista, regras de viagem definidas, como horários de início e fim das viagens, rotas e pontos de parada, entre outras. O monitoramento visa, também, colaborar com o cliente no processo logístico, pois com a ferramenta ele obtém todas as informações pertinentes ao status da viagem.

“Também é um mercado em franco crescimento, e os fatores são diversos, desde prover a cadeia logística de informações, passando pela segurança dos bens transportados, até a garantia securitária das cargas seguradas. O mercado de rastreamento e monitoramento sofre hoje com a especialização das quadrilhas de roubo de veículos e cargas que se utilizam cada vez mais de aparatos tecnológicos para burlar o sistema. As empresas que produzem os equipamentos, bem como as gerenciadoras de riscos, estudam e investem em formas de tornar o processo cada vez mais seguro – esse é um dos maiores desafios do setor hoje”, completa Falconi.

A analise de Marcelo Orsi, gerente de marketing do Grupo Tracker (Fone: 0300 400 5000), também faz uma distinção entre rastreamento e monitoramento: por ser pouco explorado, o mercado confunde a definição dos termos, assim como sua real aplicação em termos de tecnologia.

Segundo ele, o rastreamento com tecnologia de radiofrequência tem como principal objetivo a recuperação de carros roubados. Sua eficácia gira em torno de 90%, dependendo do tempo de aviso do cliente. Já o monitoramento, baseado na tecnologia GPS/GPRS, possibilita interatividade com o dispositivo, além de sensores e atuadores, e reporta em tempo real a posição do veículo, através de plataforma via web. Por exemplo, quando um cliente busca uma solução contra roubo e furto e contrata uma solução de monitoramento, o mesmo não utilizará todos os recursos oferecidos pelo produto, já que não é isso que ele busca. Além disso, para casos de roubo/furto, a tecnologia contratada não será tão eficiente como deveria, já que sofrerá com áreas de sombra e inibidores de sinais, entre outros fatores.

“Atualmente, o mercado de rastreamento e monitoramento no Brasil vem ganhando força. As quadrilhas, cada vez mais especializadas, trabalham para burlar as tecnologias e as empresas deste segmento investem cada vez mais para oferecer uma solução contra este problema”, completa Orsi.

Ainda segundo ele, o mercado de monitoramento está em alta. Cada vez mais as empresas de transporte e logística percebem que a aquisição destes serviços deixou de ser um custo e passou a ser um investimento, pois, através do gerenciamento logístico, economiza-se muito em combustível e pneu, entre outros itens.

Para Orsi, no mercado de rastreamento, a tecnologia de radiofrequência vem incomodando os bandidos, já que não sofre com a ação de inibidores de sinais, como jammer ou “capetinha”, por exemplo. “A aproximação da polícia com as empresas do segmento de rastreamento ajudou a aumentar os índices de recuperação, mas ainda há muito a ser feito”, completa o gerente de marketing do Grupo Tracker.

A análise de Fabio Nonis, diretor comercial corporate e montadoras da Ituran Sistemas de Monitoramento (Fone: 0300 77 37682), também enfoca os setores separadamente, considerando que o rastreamento e o monitoramento no país têm apresentado um crescimento bastante acentuado, mesmo diante das adversidades econômicas apresentadas no Brasil e no mundo.

“O setor é formado por dois grandes subssetores: rastreamento e monitoramento com finalidades de controle logístico; rastreamento e monitoramento com finalidade de prevenção e/ou ação a furto/roubo (de veículos e/ou cargas). Além destes, na cadeia logística encontram-se as empresas de gerenciamento de risco, que não são propriamente empresas de tecnologia de rastreamento ou monitoramento, mas utilizam maciçamente esta para sua atividade fim.”

Neste contexto, vale destacar a opinião de Marcelo Porlan, gerente nacional de marketing da Autotrac (Fone: 61 3307.7000): além do gerenciamento de riscos, as empresas estão cada vez mais preocupadas com fatores como logística, comunicação móvel de dados e telemetria das suas frotas. Dessa maneira, tais fatores são determinantes para o direcionamento dos investimentos das empresas nesse setor.

Ele também salienta que, em função dos problemas de roubo de carga, distâncias percorridas muito grandes, tamanho da frota, custos elevados da operação, dentre outros fatores, foi preciso inovar em muitos aspectos, como telemetria, estratégias de gerenciamento de riscos, softwares especialistas, acessórios de segurança, etc. Além disso, as empresas dessa cadeia produtiva trabalham muito próximas entre si (seguradoras, corretoras, gestoras de risco, embarcadores, fornecedores de tecnologia e transportadores).

Retomando, Nonis, da Ituran, salienta que as exigências são cada vez maiores – a tecnologia torna-se mais ‘popular’ e disponível, a concorrência no setor aumenta e, com isso, crescem na mesma proporção que as exigências para o setor. Este ainda enfrenta grandes dificuldades com infraestrutura necessária, principalmente no que diz respeito às redes de telefonia móvel GSM, já que a maioria dos equipamentos utiliza-se desta tecnologia. “Em função disto, empresas no mercado que utilizam soluções de radiofrequência, ao invés de tecnologia baseada em redes GSM, têm notória vantagem e apresentam destaque no setor, tanto em volume comercializado quanto em eficiência e competitividade. O setor vem investindo em larga escala no Brasil, principalmente na preparação para operação sob a Resolução 245 do CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito e ampliação da disponibilidade de sistemas para atendimento das demandas do mercado”, aponta o diretor comercial da Ituran.

Também analisando o setor de rastreamento e monitoramento, Fabiano Luis Rogatto, diretor executivo da Omniloc Rastreamentos (Fone: 19 3813.3412), acredita que, no primeiro caso, houve uma evolução considerável, com vários produtos destinados a cargas e à logística. “Observo que as principais características do setor de rastreamento, hoje, são em termos de veículos particulares e iscas (equipamento para cargas), além de haver crescimento de redundâncias: um segundo rastreador no veículo para aumentar a segurança, servindo de apoio ao rastreador principal. Em outras operações, noto grandes transportadores investindo em duas tecnologias, uma para carga e outra para casco.”

No que diz respeito ao monitoramento, Rogatto vê um mercado com várias exigências e voltado ao atendimento de gerenciadoras e seguradoras em geral. “Esse mercado é onde os rastreadores fazem a diferença, pois é através deles que as gerenciadoras podem executar seu trabalho no monitoramento de cargas, e onde seguradoras fazem uma maior exigência sobre a tecnologia instalada. A dificuldade encontrada por todas as empresas do segmento ainda é o atendimento em nível Brasil, onde todos buscam a terceirização da mão-de-obra e podemos perceber erros nas operações e um distanciamento em relação ao cliente”, explica o diretor executivo da Omniloc.

Na opinião de Horacio Rabelo Pereira, diretor-presidente da BySat Automação e Controle (Fone: 31 3057.4401), os dois segmentos podem ser analisados como um só setor, que apresenta crescimento, com relativamente poucas empresas oferecendo produtos com elevado grau de maturidade e eficiência. “Foi criado inicialmente com foco em segurança da carga, do veículo e do condutor contra roubos, mas hoje já atinge, também, as funções de gerenciamento e otimização da logística de transporte e controle da utilização dos veículos e equipamentos e, também, dos hábitos de condução do motorista ou operador. Um grande facilitador para este mercado foi a introdução, no inicio da década de 2000, da comunicação celular GSM/GPRS. Uma das dificuldades é a necessidade de uma capilaridade grande para atendimento a pós-venda, uma vez que os veículos (principais objetos dos serviços de monitoramento e rastreamento) se movimentam por todo o pais”, salienta Pereira.

Décio Segreto, diretor da Panorama Rastreamento (Fone: 12 3204.4686), também volta no tempo. Até 2004 – aponta – o mercado de rastreamento no Brasil era quase totalmente focado na “segurança de cargas e veículos”. De lá para cá, a competitividade gerada pela globalização trouxe aos embarcadores a necessidade de negociar melhores valores junto aos transportadores. Como consequência disso, esses transportadores passaram a precisar de informações dos rastreadores instalados em sua frota para controlar dados até então “desprezados” no aspecto logístico, mas que interferem diretamente na gestão financeira do negócio, como desvios de rota, paradas indevidas, horas extras indevidas, entre outros.

“Podemos considerar, então, que o setor de rastreamento e monitoramento de frotas no Brasil está hoje cada vez mais abrangente em suas soluções tecnológicas. O mercado está até, muitas vezes, antecipando as necessidades e exigências de seus clientes e isso ocorre devido às influências externas e internas que uma organização está sujeita a sofrer. É neste momento que algumas empresas de rastreamento e monitoramento de veículos podem sobressair-se: quando ela é a primeira a oferecer os melhores recursos, com seus diferencias competitivos no mercado”, acredita Segreto.

Por último, Marcio Webber, diretor de produtos e mercado da Sascar (Fone: 0800 648 6004), acredita que cada vez mais o Brasil está se profissionalizando e prestando mais atenção à qualidade de seus serviços e aos custos. Isso tem ocorrido em diversos setores, inclusive no de transporte e logística. Com isso, as novas tecnologias de gestão passam a ser importante aliadas para que as empresas conquistem esse diferencial competitivo.

“Além disso, considerando a frota brasileira, o total rastreado só chega a 6% do total, demonstrando que há um grande universo ainda a ser conquistado. Isto é, há um grande mercado potencial e querendo o serviço”, completa.

TENDÊNCIAS
Com relação às tendências nestes dois segmentos, Falconi, da Buonny, diz que é de se desenvolver ferramentas de telemetria que visam aprimorar a forma de condução dos motoristas e buscar maior eficácia do veículo com menor consumo de combustível e demais componentes, bem como desenvolver ferramentas voltadas ao setor logístico que possibilitem desde a mera rastreabilidade de uma carga até mesmo promover sua baixa na entrega, adicionando o item ao estoque do comprador e baixando o item do estoque do vendedor. Ainda de acordo com ele, existem estudos que visam atrelar essas informações aos setores fiscais e tributários para evitar a fuga de arrecadação e simplificar o processo de fiscalização em torno da movimentação de cargas.

“A principal tendência é a extensão dos produtos e serviços prestados, saindo do foco em segurança (que já está muito bem atendido) para as áreas de gerenciamento e otimização da operação em geral. Esta extensão de atuação é facilitada, hoje, pela oferta de novos equipamentos e novas tecnologias”, completa Pereira, da BySat Automação.

Segreto, da Panorama, também fala em serviços como tendência. Para ele, devem ser aprimoradas ainda mais as soluções em serviços, além de hardware e software para atender às mais diversas necessidades e exigências dos clientes, que nem sempre buscam apenas segurança. Os clientes necessitam, cada vez mais, de soluções específicas, como a telemetria embarcada, por exemplo.

Outra aplicação fez-se necessária devido à nova legislação de carga horária dos motoristas, que obrigou os transportadores a controlar o tempo de atividade de seus colaboradores com um severo rigor.

“Nos recursos tecnológicos fornecidos por algumas empresas que integram sistemas é possível gerar dados necessários, através do equipamento de rastreamento. Em um sistema antifurto, para segurança dos veículos, já dispomos de recursos identificadores de motoristas, onde o software irá registrar”, completa o diretor da Panorama.

Orsi, do Grupo Tracker, lembra que as tecnologias embarcadas estão cada vez mais presentes nos caminhões. As transportadoras, os embarcadores e as gerenciadoras de riscos estão apostando neste segmento, que auxilia na segurança e aumenta o controle logístico. Com tantas tecnologias, como travas, cercas, botões de pânico e controle de ignições, entre outros, é possível diminuir consideravelmente os alarmes falsos, tendo certeza de um eventual problema através da leitura de todos os sinais que a tecnologia transmitirá.

Diariamente – ainda de acordo com o gerente de marketing do Grupo Tracker – as empresas de rastreamento vêm trabalhando para criar novas possibilidades, diminuindo, assim, os riscos das operações.

Já para Nonis, da Ituran, nos últimos anos tem-se verificado uma enorme popularização e proliferação de equipamentos e plataformas de software para rastreamento e monitoramento. “A telemetria passou de sonho, item de ficção científica, para a realidade; as plataformas de software de rastreamento e monitoramento via web tornam-se cada dia mais completas, sofisticadas e poderosas; e a gama de aplicações possíveis para a tecnologia sofreu um ‘boom’ sensacional. Hoje, o cliente dispõe desde sistemas simples, mas eficientes, que possibilitam apenas a localização do veículo, até completos sistemas totalmente integrados com a arquitetura eletrônica dos veículos e vários acessórios de controle e interface homem-máquina instalados. O controle do motorista – a forma e qualidade em termos de segurança e economia de combustível de sua direção são avaliadas e pontuadas regularmente num intuito educativo, bem como o controle de sua jornada de trabalho de acordo com recente regulamentação –, o controle do veículo e a prevenção de acidentes são os novos carros-chefes da tecnologia, já bastante difundidos na Europa e nos Estados Unidos que desembarcam no Brasil num movimento sem volta”, proclama o diretor comercial da Ituran.

Rogatto, da Omniloc, tem pensamento semelhante. De acordo com ele, as tendências no mercado de inteligência embarcada vão ser o dinamismo no conceito das macros embarcadas, configuráveis e nativas do rastreador. “Trata-se de um diferencial imenso para empresas do segmento. Por se tratar de uma tecnologia de segurança de carga, acredito que as possibilidades que a macro configurável abre ao embarcador e as gerenciadoras são imensas, e é o que vai fazer a diferença no final, dando a possibilidade para que cada cliente e operação possam ter sua macro e roteiros exclusivos, independente da operação, fugindo do padrão de mercado, que é a mesma macro para todos os tipos de operação.”

No monitoramento – continua o diretor executivo da Omniloc – as principais evoluções são os softwares que têm uma plataforma totalmente Web, o que traz agilidade ao processo e às empresas clientes, que podem acessar seu sistema em qualquer lugar. Outro ponto em destaque para o mercado de transportes é uma solução mais dinâmica e direcionada à logística, diferente da tela de monitoramento e indo para uma tela de informações e controle da frota e, o que mais interessa no decorrer do processo logístico, onde a mesma abre um leque de informações sobre o veículo em tempo real.

“Acredito que em 2013 haja novidades em termos de controle de jornada, reportadas pelo rastreador sobre as horas trabalhadas, e vejo uma evolução nas questões de telemetria para ter um melhor desempenho sobre os veículos e controle de gastos, assunto esse que há anos as empresas de rastreamento vêm aperfeiçoando para melhorar os resultados em campo”, completa Rogatto.

Webber, da Sascar, destaca que duas novas regulamentações devem modificar significativamente o universo do transporte e da logística do país. A primeira é a Lei 12.619, já em vigor e que regulamenta a profissão do motorista, estabelecendo o tempo máximo de trabalho diário. O objetivo é diminuir os índices de acidentes na estrada, que têm relação direta com excesso de tempo de direção. A maioria dos acidentes com caminhão (cerca de 60%) é resultado de desatenção do motorista e excesso de jornada. “Esse é um custo que a cadeia não estava observando com a devida atenção.”

Além disso – continua o diretor de produtos e mercado da Sascar –, após cinco anos de discussão, o CONTRAN definiu as regras para tornar obrigatória a presença de kits antifurto nos veículos vendidos em todo o país, a Resolução 245. O governo definiu um calendário no qual, a partir de janeiro de 2013, os automóveis e caminhões novos terão de ter instalados sistemas homologados pelo Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN). O objetivo da medida governamental é diminuir o número de furtos de veículos e, consequentemente, do valor dos seguros. Os sistemas deverão estar instalados nos carros, mas será opção de cada proprietário decidir se irá ou não pagar para manter o serviço de rastreamento.

FATORES IMPULSIONADORES
Já quando o assunto envolve os fatores que impulsionam este segmento hoje, Rocha, da Autocargo, aponta a busca incessante pela redução de custos e aumento da produtividade, ou seja, a necessidade de maior competitividade das empresas, independentemente de seu ramo de atividade. “O setor de rastreamento e monitoramento no Brasil tem como mola propulsora a busca constante por eficiência e consequente redução de custos para o setor de embarcadores logísticos. Empresas mais eficientes, com menores custos, com motoristas constantemente treinados e avaliados quanto à economia de combustível e segurança na direção e que apresentem sistemas de segurança contra acidentes rodoviários têm notória e certa vantagem sobre seus concorrentes. O segmento, no passado, foi impulsionado pela segurança – a prevenção e ação contra roubos/furtos eram a necessidade básica dos sistemas de rastreamento e monitoramento. Hoje já são completos sistemas de gestão logística ou, pelo menos, uma importante ferramenta para tanto”, completa Nonis, da Ituran.

“Os principais fatores que impulsionam os setores são segurança pública, controle de frota e informação logística, pois, apesar dos esforços governamentais, os níveis de criminalidade não reduzem, e como a distribuição de renda vem melhorando nos últimos anos, os mercados consumidores se desenvolveram em outras regiões do país, pulverizando, assim, as ações marginais em locais onde antes a incidência de crimes, como roubo ou furto de veículos, era bem menor. O mercado é cada vez mais competitivo, tanto em qualidade como em custos, e investir no controle de frotas e controle logístico é aumentar, ainda mais, essa competitividade, diminuindo custos de manutenção e aumentando a vida útil dos equipamentos, ou seja, diminui os custos de transporte e melhora a qualidade de entregas, bem como oferecer maior rapidez e eficiência a essas entregas. Atrelado a isso vem a necessidade de se investir em sistemas que tornem o processo de entrega visível ao cliente, que tornem o processo mais previsível, que busquem na informação também um diferencial.” A análise, agora, é Falconi, da Buonny. “Além do controle logístico, através do qual uma empresa monitora sua frota e evita perdas, a corrida contra as ações dos criminosos também faz com que as empresas do segmento invistam no desenvolvimento das novas tecnologias”, completa Orsi, do Grupo Tracker.

Para Pereira, da BySat Automação, uma vez atendida a necessidade de aplicações ligadas à segurança, o principal impulsionador do segmento é o maior conhecimento, pelo mercado em geral, da tecnologia disponível e dos serviços que podem ser prestados a partir da mesma, focando níveis mais avançados de gestão remota dos recursos, incluindo telemetria e outros serviços. Por seu turno, Rogatto, da Omniloc, lembra que um fator que está impulsionando o mercado de rastreador é a procura por parte de empresas fora do segmento de transportes, que possuem frotas de veículos própria ou locada para realizar seu trabalho diário e que querem otimizar e trazer a redução de custos operacionais. Ainda segundo ele, outro fator que impulsiona o mercado são os localizadores para grupos de associações de caminhoneiros e rastreadores para clientes particulares, onde a procura aumenta cada vez mais, tornando o rastreador um produto mais acessível a todos os tipos de mercado.

Segreto, da Panorama, fala em informação em tempo real e redução de custos. “Um sistema de telemetria embarcada, por exemplo, tem como principal característica a redução de gastos nas operações logísticas, principalmente na prevenção de acidentes e no desgaste dos veículos.” E Webber, da Sascar, aposta na profissionalização do setor e na busca por redução de custo constante das transportadoras e empresas de logística. “Com todas as novas necessidades (Resolução 245 e Lei 12.619), e levando em conta o número de caminhões em circulação sem sistemas de rastreamento e de inteligência logística (cerca de 1 milhão), a Lei pode incentivar um mercado potencial de R$ 1,5 bilhão.

FATORES NEGATIVOS
Mas, apesar do otimismo, o segmento também enfrenta fatores negativos. “A ausência de critérios técnicos e operacionais, dificultando a análise pelo contratante e permitindo a existência e, até, o crescimento de fornecedores sem capacidade de atendimento pode ser considerado um fator que inibe o crescimento do setor. No transporte de cargas, a falta de padronização nas operações entre as diversas Gerenciadoras de Risco, fruto, provavelmente, da falta de padrões para os PGRs (Plano de Gerenciamento de Riscos), é outro entrave”, aponta o diretor de negócios da Autocargo.

Falconi, da Buonny, fala que carga tributária, infraestrutura precária no segmento de transporte e telecomunicações são alguns fatores, aliados à dificuldade de encontrar mão-de-obra especializada no segmento de Gerenciamento de Riscos.

“Trata-se de um mercado com baixo nível de consolidação, com um número pequeno de grandes empresas. Como as pequenas empresas nem sempre conseguem atender com qualidade às exigências dos clientes, às vezes o setor como um todo acaba sofrendo com a publicidade negativa advinda destas situações”, revela Pereira, da BySat.

Nonis, da Ituran, afirma que os maiores problemas específicos do setor são com cobertura insuficiente das redes GSM em território nacional, total inexistência de um SLA (Service Level Agreement) das operadoras de telefonia móvel para as empresas de rastreamento e monitoramento e preços cobrados pelo tráfego dos dados ainda muito longe dos preços praticados internacionalmente. São itens que afetam sobremaneira a operação dos equipamentos de rastreamento e monitoramento, assim como exercem uma pressão no custo das empresas do setor. Obviamente o setor também é afetado diretamente pelo ‘Custo Brasil’.

“Também a popularização da tecnologia dos rastreadores trouxe ao mercado um viés – os sistemas inibidores de rastreamento, conhecidos tecnicamente por ‘jammers’ e popularmente por ‘chupa-cabra’ ou ‘capetinha’. São equipamentos que, de maneira semelhante aos inibidores de telefonia celular que devem ser instalados nos presídios, mas em versão portátil, têm a capacidade de interferir na comunicação GSM e/ou GPS dos equipamentos de rastreamento, inutilizando-os. O setor busca freneticamente tecnologia ‘a prova de jammer’, hoje só possíveis através de alguns poucos rastreadores que se utilizam da tecnologia RF, ao invés de GSM e GPS”, completa o diretor comercial da Ituran.

Rogatto, da Omniloc, aponta que o que afeta negativamente o mercado são os planos de comodatos ilusórios, equipamentos vendidos sem preparo a clientes e, também, algumas empresas que não querem perder suas bases de clientes e fazem uma renovação de contrato, e não de equipamento, “onde o cliente irá ter um equipamento desatualizado, que não o atenderá e trará futuros problemas na operação”.

Outro fator negativo – continua o diretor executivo da Omniloc – é o despreparo das empresas que entram no mercado hoje. “Às vezes, as mesmas são iludidas por fabricantes que fazem com que adquiram uma quantidade de rastreador para ser um representante comercial da região e acabam vendendo ao cliente um produto que não o atende, trazendo futuramente uma imagem negativa sobre as empresas de rastreamento. O que venho notando nesses anos são algumas marcas sendo adquiridas por bancos privados, trazendo uma filosofia comercial de banco e diferente do mercado de rastreador, onde você vende um produto e serviço, levando ao cliente insatisfação e o amarrando em contratos que não os atenderá”, completa Rogatto.

Segreto, da Panorama, tem pensamento semelhante: o mau atendimento nos momentos “pós-venda” das grandes empresas que comercializam tecnologias de rastreamento tem deixado a desejar.

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