Após registrar receita de 203 milhões de euros em ano de pandemia global, a portuguesa Rangel Logística prepara expansão no continente americano priorizando setores e países que a empresa vê demandantes de serviços logísticos especializados.
Partindo da estrutura atual na região, que compreende um escritório em São Paulo desde 2013 e outro no México, aberto em 2020, a meta é chegar a 2025 com bases também na Colômbia, no Peru, totalizando unidades em 9 países da Europa, África e das Américas.
“Chegamos à conclusão de que estávamos focados demais nos negócios gerados em Portugal, que é hora de destacar no mercado latino-americano os diferenciais pelos quais a Rangel é conhecida no mundo, explorar as oportunidades do agronegócio brasileiro e atacar outras geografias”, resume Enrique Garcia, diretor de desenvolvimento de negócios para América Latina da Rangel.
Com a ampliação concluída, a expectativa é que a empresa tenha um crescimento substancial na região já a partir de 2024. A projeção divulgada pela Rangel é operar até lá 20% da movimentação de contêineres de vintes pés de carga seca originados em Portugal e Espanha com destino ao Brasil. Atualmente, a empresa movimenta 2,1% desse volume.
A meta é conservadora e não inclui cargas originadas no Brasil, nem em outros países. Garcia explica que, na Colômbia e no Peru, países-alvo da expansão, a expectativa é ampliar a captação de carregamentos de alimentos e têxteis já exportados regularmente para o mercado brasileiro.
O Brasil também deve se tornar um polo originador de carga de maior importância. O executivo acredita que o país pode bater em 2021 o recorde de superávit de US$ 50 bilhões obtido no ano passado, com a demanda global por alimentos intensificada pela pandemia, a desvalorização histórica do real a facilitar exportações e a expectativa de safra recorde para o ciclo 2021/22.
O coração da expansão, no entanto, é o reposicionamento do portfólio no mercado latino-americano, que passa a atender de forma mais incisiva as necessidades de pequenas e médias empresas em processo de internacionalização.
Garcia quer disponibilizar os mesmos serviços que já habilitam os clientes da Rangel em outras regiões a participarem de fluxos internacionais sem ter necessariamente departamento de exportação. A proposta de valor une, portanto, expertise em logística e assessoria efetiva de comércio exterior.
Um passo crucial nesse objetivo é a estruturação até o fim do ano da Rangel 2 Supply, empresa de importação e exportação em Extrema (MG) a serviço dos clientes da Rangel. A Rangel 2 Supply vai prestar serviços de compra e venda de mercadorias, demanda por clientes não presentes no Brasil, mas com parceiros por aqui. Embora esse tipo de serviço raramente seja prestado por operadores logísticos, a expectativa é que se torne um recurso estratégico também dos clientes brasileiros em busca de mercados no exterior.
Em linha com essa iniciativa, a Rangel põe no ar em março um sistema de Big Data para orientar clientes sobre o momento de comprar ou vender produtos considerando sazonalidades de produção e consumo. Além disso, as cargas nas Américas serão monitoradas em tempo real por um sistema conectado à operação global da Rangel, ligada a 220 países e territórios.
“A Rangel cresceu movida por desafios lançados pelos seus clientes. É mais importante que nos vejam como um parceiro de negócios, até mais que um prestador de serviços logísticos”, afirma Garcia. “Esperamos que nossa expertise nos mercados africanos, onde também temos estrutura proprietária, motive o interesse dos brasileiros em desbravá-los”.
Nos planos da Rangel para o Brasil também está a criação de outra empresa de logística voltada aos varejos físico e eletrônico. Segundo Garcia, o foco será atender São Paulo e o interior paulista. Numa segunda etapa, a operação será expandida para as outras capitais, e não estão descartadas aquisições para facilitar a inserção da Rangel no segmento, que recebeu investimento em diversas frentes com o boom do e-commerce na pandemia.
Mesmo com uma operação ainda modesta no Brasil, a Rangel, em apenas quatro décadas de atuação, está entre os maiores operadores logísticos de cargas entre Europa e o país. No segmento de frutas, verduras e legumes (FLV), está entre os três primeiros da lista.
A Rangel também representa a Fedex em Cabo Verde, Moçambique e Angola. Tem ainda operações nos setores de autopeças, farmacêutico, vestuário, eletrônicos, feiras e obras de arte, esta última recém-implantada também no Brasil.