Quem quer ser caminhoneiro? Profissão, paixão... e grandes desafios

Publicado em
11 de Maio de 2010
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Existem muitas vagas abertas para motoristas no transporte de cargas - e poucos candidatos para preenchê-las. Investigando esta situação, a Carga Pesada fez um levantamento dos prós e contras da profissão de caminhoneiro. Nesta reportagem, o passado e o presente se encontram, de forma que o leitor caminhoneiro encontrará, nas próximas páginas, caminhos para crescer na atividade. E aquele que está procurando o que fazer na vida poderá refletir sobre a pergunta: vale a pena ser motorista de caminhão? 
 
Os motoristas costumam reclamar, mas o pessoal de recursos humanos das empresas tem certeza de que o fator que mais atrai profissionais para o transporte rodoviário de cargas é o salário. Por uma razão muito simples: levando em conta a escolaridade exigida (em geral, 1º grau completo), o salário da categoria é um dos mais altos do mercado.

Essa é a constatação da psicóloga e diretora do Centro de Treinamento e Qualificação no Transporte do Grupo G10, de Maringá (PR), Adriana Calvo. "É pelos bons salários que muita gente ainda quer ser caminhoneiro. E muitos que deixaram a profissão acabam voltando, porque não conseguem o mesmo ganho em outro lugar", diz ela.

O problema, segundo Adriana, é que os ganhos razoáveis dos motoristas de caminhões de cargas também atraem aventureiros. "Muitos não têm consciência do que esse trabalho realmente exige. Por isso falta gente capacitada."

Além do salário, tem o sonho. Muita gente traz da infância a vontade de ser motorista de caminhão, e entrar na atividade representa uma realização pessoal enorme, difícil de ser encontrada em outras profissões. É o que diz a coordenadora pedagógica da Binotto S/A, Márcia Senger da Silva, responsável pela formação e qualificação de motoristas da empresa. "Temos motoristas que fizeram faculdade para agradar a família, mas depois vieram trabalhar naquilo que sempre sonharam", afirma.

Salários razoáveis, sonhos realizáveis... A psicóloga Adriana, do G-10, acrescenta outro fator à opção por ser caminhoneiro: "Em geral, é uma pessoa que não consegue ficar parada em casa. Até sente saudade da família quando está na estrada, mas não aguenta ficar muitos dias parado no mesmo lugar. Sem essa característica, muitos que tentam ser caminhoneiros acabam desistindo".

O outro lado dessa moeda diz respeito à atitude e às qualidades técnicas que uma pessoa tem que ter para entrar na profissão. De início, afirma Adriana, "a pessoa deve saber o que é direção defensiva e deve estar livre do álcool e outras drogas". Isso é o mínimo que se exige de um "profissional consciente da responsabilidade exigida pela função". E tem mais: tem que saber usar bem o caminhão, respeitando as orientações do fabricante para gastar menos pneus e combustível.

Aí o bicho começa a pegar... Aparentemente, não existe muita gente interessada em ir atrás da qualificação necessária para ser caminhoneiro. É o que se vê na escola da Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte), em Mairinque (SP) e Concórdia (SC), onde existem vagas sobrando. Segundo a gerente Salete Marisa Argenton, a primeira turma paulista, no início do ano, só formou 16 alunos. Havia 40 vagas.

Salete diz que surgem poucos motoristas novos, e as empresas têm investido na requalificação dos antigos. "Senão a empresa perde posição a cada dia", comenta. Na visão dela, hoje em dia está bem mais difícil realizar o sonho de ser caminhoneiro, mesmo com a baixa exigência de escolaridade: "Os caminhões trazem uma tecnologia embarcada que exige bons conhecimentos para operá-la. Sem contar os valores envolvidos na operação: um caminhão custa até R$ 500 mil e certas cargas ultrapassam R$ 1 milhão. É preciso preparo para cuidar de tudo isso, observando aspectos de segurança, cuidados com o meio ambiente etc."

Não é fácil, mesmo para quem já está na profissão. Na Binotto, são oferecidos cursos para quem deseja entrar na empresa, tendo ou não experiência. A coordenadora pedagógica Márcia Senger da Silva diz que é comum encontrar profissionais com a autoestima baixa. "Acostumaram-se a pensar que seu trabalho vale pouco. Mas a gente mostra que, sem eles, a empresa não existiria. Quando passam a acreditar nisso, o resultado das aulas práticas melhora e eles se tornam mais responsáveis."

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