Quedas recorrentes de energia têm exposto um problema grave nas grandes cidades brasileiras: semáforos que simplesmente param de funcionar. Em São Paulo, o resultado é imediato e visível: cruzamentos caóticos, aumento do risco de acidentes, congestionamentos e agentes de trânsito improvisando soluções emergenciais.
O que chama atenção é que esse não é um problema novo nem insolúvel. Em vários países, a falta de energia não significa apagar os semáforos. Significa apenas mudar automaticamente a fonte de alimentação.
Nos Estados Unidos, no Canadá e em cidades europeias, é comum que cruzamentos críticos sejam equipados com sistemas de backup por baterias (UPS). Quando a rede elétrica falha, o semáforo continua operando normalmente por horas, sem piscar, sem desligar e sem exigir intervenção humana imediata. A transição é automática e imperceptível para o usuário da via.
Há também experiências bem-sucedidas com semáforos híbridos, alimentados por energia solar com armazenamento local. Nesses casos, mesmo apagões prolongados não comprometem o funcionamento da sinalização, especialmente em corredores estratégicos, áreas hospitalares e vias arteriais. Em regiões com infraestrutura de cidades inteligentes, esses sistemas ainda são monitorados remotamente, permitindo gestão ativa do tráfego mesmo durante falhas na rede elétrica.
Quando o backup fixo não existe, alguns países adotam semáforos portáteis com bateria ou gerador, instalados rapidamente em cruzamentos afetados, evitando o colapso total da circulação.
O ponto central é simples: não se trata de tecnologia futurista, nem de inovação experimental. Trata-se de soluções maduras, amplamente utilizadas, com custo previsível e impacto direto na segurança viária.
Em uma metrópole como São Paulo, onde eventos climáticos extremos e instabilidades elétricas já fazem parte da rotina, insistir em semáforos totalmente dependentes da rede elétrica é aceitar o risco como política pública. Multar concessionárias ou discutir rompimento de contratos não substitui aquilo que realmente importa para o cidadão: plano, prevenção e resposta operacional.
Enquanto outras cidades tratam semáforos como infraestrutura crítica, com redundância energética e planejamento de contingência, aqui seguimos reagindo ao caos depois que ele acontece.
Talvez esteja na hora de a pergunta mudar. Não é mais “quem é o culpado?”, mas sim: por que ainda não adotamos soluções que o mundo já usa há anos?