Projeto técnico para movimentação de cargas deve respaldar a operação com guindastes e gruas no canteiro. Tudo em nome da segurança e da eficiência
Texto: Juliana Nakamura
A maior adesão a sistemas construtivos industrializados associada à demanda por obras mais rápidas e econômicas induz o uso de peças pré-fabricadas de grandes dimensões que, por sua vez, demandam operações de içamento cada vez mais sofisticadas. Tais atividades, que envolvem o uso de gruas e guindastes, devem ser precedidas pela elaboração de um plano de rigging, que consiste em um projeto técnico do içamento de cargas com equipamentos de transporte verticais móveis.
Guindaste içando peças pré-fabricadas (Roman023_photography/ Shutterstock.com)
O QUE É O PLANO DE RIGGING?
É um projeto que define as especificações para realização das operações de içamento, através de desenhos técnicos, memórias de cálculo, memoriais descritivos e outros documentos. Ele tem importância fundamental, pois garante um nível mínimo de segurança, além de otimizar recursos. “Com o plano de rigging, o risco de acidentes é reduzido graças à previsão do comportamento real dos componentes, à utilização de equipamentos e acessórios bem dimensionados e às ações lógicas de operação e comunicação sobre o que deve ser executado em campo”, afirma o engenheiro Leonardo Roncetti, diretor daTechCon Engenharia e Consultoria.
“Diante do tamanho do risco que uma operação de içamento apresenta, tal planejamento é indispensável”, acrescenta Ricardo Sávio Marques Mendes, engenheiro de Segurança do Trabalho e instrutor do Instituto Opus da Sobratema. Ele conta que sobrecarga dos equipamentos, problemas com a fixação do equipamento no solo, contato com rede elétrica energizada, ação do vento inesperada e ruptura de acessórios de amarração da carga são alguns fatores de risco que precisam ser neutralizados com a elaboração do plano de içamento.
RESPONSABILIDADE TÉCNICA
A elaboração de um plano de rigging requer o levantamento de informações, uma visita técnica ao local do içamento e a posterior consolidação dos dados levantados para elaboração do projeto. Em todas essas etapas, é preciso a coordenação de um rigger, profissional capacitado em curso de içamento, que pode ser técnico ou engenheiro.
A responsabilidade técnica pelo plano, contudo, deve ser sempre de um engenheiro, conforme as atribuições do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia). “É muito importante que o plano de rigging seja desenvolvido por engenheiros. Do contrário, o projeto torna-se sem efeito. Isso significa que, em uma eventual demanda judicial em virtude de acidente, é como se a empresa não tivesse elaborado tal projeto”, esclarece Roncetti.
ASPECTOS CRÍTICOS
Escassez de informações confiáveis e a pouca disponibilidade de profissionais com capacitação são desafios enfrentados cotidianamente na elaboração de planos de rigging. Os riscos que podem decorrer dessas carências são variados. Entre os mais perigosos, Leonardo Roncetti lista: falhas na análise correta do solo para patolamento, erros na consideração do peso da carga, negligência quanto à presença de rede elétrica na área de operação, erros no dimensionamento de lingas hiperestáticas e a falta de entendimento da tabela de cargas do guindaste.
Em contrapartida, a tarefa pode ser auxiliada pela tecnologia da informação, seja para apoio na elaboração de cálculos, seja para o desenvolvimento de desenhos tridimensionais utilizados na apresentação do projeto. Programas desenvolvidos pelos fabricantes de gruas e guindastes e que ajudam na configuração da máquina, assim como softwares específicos para cálculos de amarração, são importantes aliados dos riggers. “Embora úteis, esses instrumentos devem ser utilizados com cautela, pois as situações de içamento são as mais diversas e é impossível prever todas em um único programa de computador”, alerta Roncetti.
ETAPAS DE UM PLANO DE RIGGING
Etapa 1 – Levantamento de informações, cronograma e histograma. Nesse momento, são descritos o serviço a ser realizado, a equipe de trabalho e os equipamentos disponíveis
Etapa 2 – Visita técnica para avaliação e definição de:
- Interferências no solo (canaletas, bueiros, valas, tubulação etc.) e aéreas (redes elétricas, prédios, pipe rack etc.)
- Condições climáticas
- Patolamento (fixação no solo) e locomoção da máquina
- Depósito da peça a ser movimentada
- Condição do terreno quanto à resistência e nivelamento
- Fatores adversos: iluminação da área (se o içamento for noturno), isolamento e sinalização, aterramento etc.
- Espaço disponível para o trabalho
- Pontos de pega e posicionamento da carga
- Altura máxima e raio necessário na operação
- Centro de carga da carga a ser içada, incluindo peso e dimensões, dimensionamento
- Ponto de aplicação das eslingas olhais etc.
Etapa 3 – Consolidação dos dados e elaboração do plano de rigging com:
- Especificação do guindaste
- Norma aplicada à tabela de carga que foi usada
- Especificação do serviço a ser realizado e do local onde ocorrerá o içamento
- Configuração do guindaste (comprimento máximo da lança, raio máximo de operação, altura máxima da lança, ângulo da lança com o solo, contrapeso, tipo de moitão e número de passadas de cabo do moitão)
- Composição da carga para o içamento
- Capacidade e porcentagem de utilização do guindaste
- Velocidade do vento com a carga
- Ação das sapatas no solo e dimensionamento da base de apoio
- Memorial de cálculo dos acessórios de içamento
*Leonardo Roncetti – Engenheiro civil, diretor da TechCon Engenharia e Consultoria. É mestre pela COPPE/UFRJ em engenharia com ênfase em estruturas offshore e coordenador de cursos de plano de rigging
*Ricardo Sávio Marques Mendes – Engenheiro de Segurança do Trabalho. É instrutor do Instituto Opus da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração)