QUANDO O TRANSPORTE DE TRANSFORMADORES DEIXA DE SER UM DESAFIO TÉCNICO E PASSA A SER UM PROBLEMA DE NATUREZA INSTITUCIONAL

Publicado em
17 de Dezembro de 2025
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E PASSA A EXIGIR MEDIAÇÃO DIRETA DO GOVERNADOR DE SÃO PAULO

O transporte de grandes transformadores fabricados no Estado de São Paulo deixou de ser um tema restrito à engenharia, à logística ou à burocracia administrativa. Ele escancarou um problema mais profundo, mais grave e impossível de ser ignorado: a combinação entre deficiência estrutural de infraestrutura e um vazio de coordenação institucional.

Não estamos diante de um caso isolado. Tampouco de uma divergência regulatória pontual. O que se revela é um sistema que opera no limite — e, em alguns pontos, além dele.

O CASO CONCRETO QUE ILUSTRA O PROBLEMA SISTÊMICO

Mais um episódio dessa série evidencia os limites da logística brasileira — e, em especial, paulista.

Trata-se do deslocamento de um transformador com 850 toneladas de PBTC, a carga mais pesada já transportada na rodovia que conecta as duas regiões mais populosas do país, em direção ao Porto de Itaguaí (RJ).

Uma via que:

  • recebe diariamente milhares de veículos;
  • encontra-se em obras de ampliação e modernização;
  • não foi concebida para esse tipo de operação.

No dia 16/12/2025, a operação avançou 58 km, de Caçapava/SP até Roseira/SP.

Um feito técnico.
Um esforço extraordinário.
Uma operação conduzida com responsabilidade extrema.

Mas é preciso ser honesto: isso não é normalidade operacional — é resistência logística.

O CALVÁRIO NÃO É TÉCNICO. É INSTITUCIONAL.

Transportar uma carga dessa magnitude, nessas condições, é uma operação gigantesca, repleta de sacrifícios — muitos deles evitáveis.

E evitáveis por quê?

Porque São Paulo, apesar:

  • do tamanho da sua economia,
  • da sua vocação industrial,
  • e da sua importância logística,

não dispõe de infraestrutura rodoviária e portuária compatível com desafios dessa escala, nem de um modelo de governança capaz de coordenar decisões excepcionais.

Não temos:

  • porto próximo devidamente preparado para esse tipo de movimentação (Santos ou São Sebastião);
  • ligação rodoviária dedicada ao Porto de Santos para cargas excepcionais;
  • gabaritos verticais adequados — a Rodovia dos Tamoios, recém-modernizada, não comporta sequer 6 metros de altura.

O que existe são soluções improvisadas, inversões de pista, operações em contramão, conflitos com o turismo, custos elevadíssimos e riscos crescentes.

O ACÚMULO DE RESTRIÇÕES QUE PARALISA

A esse cenário estrutural soma-se um conjunto de restrições administrativas fragmentadas, que, isoladamente, podem parecer defensáveis — mas, em conjunto, tornam a operação inviável:

  • restrições de circulação por dia da semana;
  • vedações em feriados e feriados prolongados;
  • limitações impostas por concessionárias que extrapolam a lógica estritamente técnica;
  • ausência de previsibilidade para planejamento logístico.

Na prática, essas medidas:

  • comprimem janelas operacionais já escassas;
  • elevam custos de forma exponencial;
  • aumentam riscos operacionais;
  • comprometem transportes estratégicos para o sistema elétrico e para a economia do Estado.

QUANDO A ENGENHARIA SE ESGOTA

É fundamental registrar: o setor técnico já fez a sua parte.

Há:

  • estudos de viabilidade,
  • análises estruturais,
  • planos operacionais,
  • propostas de mitigação de risco,
  • alternativas técnicas exaustivamente avaliadas.

O que falta não é engenharia, nem conhecimento, nem experiência operacional.

O que falta é coordenação institucional.

Quando concessionárias operam sob lógicas próprias, órgãos públicos atuam de forma compartimentada e não existe uma instância clara de arbitragem, o problema deixa de ser técnico — e passa a ser político-administrativo.

A MEDIAÇÃO É INEVITÁVEL — E TEM ENDEREÇO CERTO

Diante desse cenário, é preciso dizer o óbvio, ainda que desconfortável:

👉 Essa mediação não pode ser feita por outro agente que não o Governador do Estado de São Paulo.

Somente o governador possui:

  • autoridade política para alinhar interesses divergentes;
  • capacidade institucional para convocar concessionárias, agências reguladoras e órgãos estaduais e federais;
  • legitimidade para estabelecer diretrizes claras, excepcionais e temporárias quando o interesse público assim exige.

Esperar que essa solução emerja espontaneamente de níveis intermediários da administração é apenas adiar o inevitável, enquanto os custos — econômicos, operacionais e reputacionais — continuam se acumulando.

NÃO SE TRATA DE “AFROUXAR REGRAS”

É essencial afastar qualquer leitura equivocada.

Não se trata de:

  • flexibilizar segurança,
  • ignorar critérios técnicos,
  • ou “passar por cima” da legislação.

Trata-se de reconhecer que:

  • o transporte de grandes transformadores é operação crítica de infraestrutura;
  • exige tratamento extraordinário, não rotineiro;
  • demanda decisões coordenadas, e não fragmentadas.

CONCLUSÃO: O MOMENTO É DE DECISÃO

O caso dos transformadores é emblemático porque revela um problema maior:
sem governança clara, até operações tecnicamente viáveis tornam-se inviáveis na prática.

Empresas globais instaladas em São Paulo perdem competitividade não por falta de tecnologia ou capacidade industrial, mas por logística improvisada.

A pergunta que se impõe é simples e inadiável:

👉 Até quando São Paulo aceitará ser um estado industrial com infraestrutura incompatível com sua própria ambição?
👉 Até quando operações críticas acontecerão apesar do sistema — e não graças a ele?

Essa decisão não será técnica.
Ela será política.

E precisa ser tomada no lugar certo, com urgência e com responsabilidade institucional.

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