Qualificação logística, por Antonio Wrobleski Filho*

Publicado em
01 de Dezembro de 2011
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A falta de mão de obra qualificada continua sendo indicada pelas empresas de logística como um dos principais entraves para o crescimento do setor. Segundo um levantamento da Associação Nacional dos Transportes de Cargas & Logística (NTC&Logística), 42,7% dos empresários apontam a falta de profissionais como maior preocupação do segmento, à frente de questões como acesso a capital para investimento ou condições de estradas.
 
O problema não é uma exclusividade da logística, mas levando em consideração que o setor está crescendo em um ritmo três vezes superior ao PIB fica fácil entender porque a carência de mão de obra preocupa tanto os empresários: sem força de trabalho efetiva e especializada, os operadores logísticos simplesmente deixam de absorver boa parte da demanda do mercado.
 
Além dos evidentes prejuízos financeiros ou a impossibilidade de expandir os negócios, essa dificuldade gera perdas também para a economia do país, já que a logística é parte indissociável das estratégias comerciais da indústria e do varejo. Um déficit de mão de obra nessa área representa problemas sérios no desenvolvimento da cadeia produtiva. É fato também que a falta de profissionais gera, muitas vezes, uma “supervalorização” no mercado de trabalho, que parte das empresas não consegue incorporar.
 
Essa carência de profissionais se explica tanto pela rápida expansão da área, ligada, claro, ao crescimento econômico nacional, como pela complexidade da atividade logística em si. Hoje, as empresas são responsáveis por todo o gerenciamento do processo de movimentação, armazenagem e planejamento fiscal de seus clientes, adotam projetos cada vez mais elaborados e investem alto em novos equipamentos e tecnologias.

Em termos práticos, quando o empresário adquire um caminhão de última geração, com o objetivo de otimizar tempo e recursos, mas não consegue contratar alguém apto a conduzi-lo, todo o esforço da companhia pode cair por terra. O próprio perfil do profissional é igualmente um desafio. A atividade logística requer pessoas flexíveis ou criativas o bastante para encontrar soluções práticas diante de imprevistos, que, como sabemos, ocorrem o tempo todo.

Outro agravante dessa situação é a ausência, até pouco tempo atrás, de cursos especializados em logística, oferecendo conhecimento técnico em relação à operação portuária e à viabilidade de transportes em diferentes modais, por exemplo. Esse “buraco” educacional levou muitas entidades representativas do setor a desenvolverem cursos de especialização e capacitação na área.
E uma alternativa interessante para a questão é o envolvimento dos próprios operadores neste processo, com a implantação de treinamentos específicos e alinhados com as necessidades da empresa. Esse tipo de ação, elaborada internamente ou por serviço especializado, é uma forma de garantir a continuidade e qualidade do trabalho desenvolvido.

Mas, vale lembrar ainda, o problema de qualificação não se restringe a base da empresa. É mais comum do que se imagina a necessidade de uma reciclagem no escalão superior, responsável pelas decisões. Não estou questionando a capacidade do empresário de administrar seu próprio negócio, mas demonstrando como a evolução do processo logístico deixou muitas arestas a serem aparadas.

Prova disso, é que em um processo de compra, depois de uma análise detalhada da empresa, a oferta inicial pode cair em até 50%. Em geral, ocorre que o faturamento é alto, mas o lucro é baixo. Por isso, assim como é preciso investir nos funcionários, é necessário modernizar a gestão, debatendo novas ideias e competências que permitam a revisão das práticas adotadas pela companhia. Um período de co-gestão, onde o gestor divide a administração com consultores e especialistas que apontem soluções para as dificuldades da operação, é o caminho mais indicado. Muitas vezes, é preciso uma reformulação da operação para valorizar o negócio.

Enfim, um bom empresário ou profissional, independente do setor, é aquele que consegue, mesmo em meio à adversidade, encontrar alternativas adequadas para responder as exigências e desafios do mercado.


Antonio Wrobleski Filho – Presidente do Conselho de Supply Chain e Logística no ILOG – Instituto Logweb de Logística e Supply Chain e presidente da AWRO Associados Logística.
[email protected]
 

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