Qualidade tem preço*

Publicado em
29 de Setembro de 2016
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Em 2015 a indústria de fármacos gastou R$ 765 milhões (3% do custo total) com o transporte de medicamentos, tendo gerado, em contrapartida, 18 mil empregos diretos e indiretos.
 
A estimativa faz parte do estudo “Transporte de Medicamentos no Brasil: Cenários Atual e Futuro”, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas para a Câmara Técnica de Transporte de Produtos Farmacêuticos (CTFarma), da NTC&Logística.
 
Com um faturamento tão expressivo, seria de se esperar que a qualidade do medicamento na ponta da cadeia (consumidor final) não deixasse a desejar. No entanto, não é isto que acontece. “A logística do setor farmacêutico não está tão bem regulada quanto as demais etapas da cadeia”, diz o consultor Nelson Libbos. “Como somos um país tropical e continental, há situações em que a mercadoria transportada em caminhões isotérmicos (e não refrigerados) e permanece no veículo por quatro a cinco dias, exposta a temperaturas de até 50º C. Isso leva a uma degradação do princípio ativo, com redução ou perda de eficácia do medicamento”.
 
Culpa de transportadora? Não. Os responsáveis são os laboratórios, que passaram a exigir cada vez mais serviços adicionais (paletização, espera em filas, mais auxiliares etc) mas nem sempre são sensíveis aos aumentos necessários das tarifas para melhorar o serviço. “Se só tivermos somente uma visão de custos, com certeza, perderemos a visão da qualidade. É preciso ter um equilíbrio entre ambas. Serviço barato qualquer um pode oferecer. Mas não vai oferecer o melhor serviço”.
 
A distribuição de medicamentos o setor está sujeita a uma legislação que exige altos investimentos em frota, qualificação e equipamentos, o que torna este transporte  mais custoso do que os demais.
 
Para o consultor, no entanto, talvez custe muito pouco para aumentar a eficiência da cadeia e evitar a falência das empresas de transporte. ”O país perde muito mais com a  perda de eficácia dos medicamentos no transporte e na armazenagem do que com um custo adicional de 0,5% na cadeia.”
 
Considerando que é possível encontrar nas farmácias descontos de 70% a 80% nos genéricos, este 0,5% na logística não faria diferença substancial.
 
Outra dificuldade para o avanço do transporte de medicamentos é a deficiência da infraestrutura de transportes. “Os investimentos na área são fortemente decrescentes. Em 1975, eram de 1,85% do PIB; em 2014 este percentual foi reduzido para 0,29%;”
 
A falta de um piso salarial para os motoristas constitui outra dificuldade do setor, que contribui para o emprego de mão-de-obra despreparada. Apesar disso, os gastos com pessoal das transportadoras cresceram de 26% para 32%, enquanto as demais despesas aumentar 3%.
 
A frota das empresas do setor é relativamente nova. A idade média e de seis anos, contra uma idade média de dez anos para o mercado em geral e de 17 anos para o caso dos transportadores autônomos.

*Neuto Gonçalves dos Reis
Diretor Técnico Executivo da NTC&Logística, membro da Câmara Temática de Assuntos Veiculares do CONTRAN e presidente da 24ª. JARI do DER-SP.

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