Produção industrial mantém ritmo de crescimento vagaroso em outubro

Publicado em
03 de Dezembro de 2010
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O crescimento de 0,4% da produção industrial em outubro, em relação a setembro, feito o ajuste sazonal, prolongou por mais um mês o período de expansão vagarosa da atividade. Desde o pico, atingido em março, a produção industrial caiu em quatro meses e cresceu em outros três, sendo o resultado de outubro o mais "forte".

Com exceção do segmento que produz bens duráveis, que experimentou em outubro uma elevação relevante - 2,8% em relação ao mês anterior - todos os outros segmentos da indústria registraram pequenas quedas, na comparação mensal. O grande ponto de divergência entre os economistas consultados pelo Valor é saber se o resultado dos bens duráveis, muito influenciado pelo salto de 1,6% na produção de veículos automotores, antecipa uma recuperação geral da indústria ou é apenas um ponto fora da curva.

Responsável por 18% da elevação de outubro, a produção de veículos e de equipamentos de transporte responde aos sinais dados pela demanda aquecida para as festas de fim de ano. "Quando estourou a crise, no fim de 2008, o segmento automobilístico foi o que mais cortou produção. Foi, no entanto, o setor que primeiro começou a se recuperar e acelerar, em 2009, e agora, depois do arrefecimento após o fim dos incentivos, ele antecipa um movimento geral", raciocina Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria, para quem a produção da indústria como um todo voltará a crescer fortemente a partir de janeiro.

Essa percepção não é consensual. Economista do Santander, Luiza Betina, avalia que, embora o resultado de outubro tenha sido muito influenciado pelo setor automotivo, isso não indica que a indústria em geral retomará a produção em níveis acelerados. "Esse resultado indica apenas que teremos o melhor Natal de toda a história, não que a produção vá retomar para aquele patamar do primeiro trimestre, quando a indústria estava contagiada por incentivos fiscais", diz. Luiza, no entanto, refuta a ideia de que o dado de outubro tenha sido fraco. Se anualizada, o resultado de outubro representa uma alta de 4,9% na produção. "Esse ritmo foi mantido em novembro e continuará assim até o começo de 2011", avalia.

Dentre os segmentos tradicionais da indústria, o resultado dos fabricantes de veículos em outubro foi exceção. As fábricas de têxteis, vestuário e calçados reduziram seu ritmo em 3,1%, 1,1% e 2,5% em outubro frente a setembro, respectivamente. O setor moveleiro também cortou a produção no mês, em 2,4%. Para Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, esses setores são os que mais sofrem os efeitos da valorização cambial, que afeta toda a indústria. "O câmbio tem segurado a retomada da produção por mais tempo do que se supunha", afirma Bicalho, para quem os fracos resultados da indústria observados a partir de abril podem ser explicados por uma combinação de estoques elevados, formados pelo forte ritmo observado no primeiro trimestre, e pelo câmbio valorizado, que barateia o produto importado.

Entre janeiro e outubro deste ano, a produção de máquinas e equipamentos foi 24% maior que em igual período do ano passado. Mas a importação cresceu muito mais - 42% em igual período. Na mesma comparação, a produção de bens intermediários aumentou 12,9% e a de bens de consumo duráveis 11,3%, neste ano, mas com saltos de 43,4% e de 51,9% no volume importado, respectivamente. "Mesmo que não acompanhasse o ritmo dos importados, incentivados pelo aumento do consumo derivado do incremento no emprego e nos salários, ao menos a produção deveria ir na mesma direção. Mas isso não está acontecendo", diz Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados.

A produção da indústria ainda estava, em outubro, 1,4 ponto percentual abaixo do registrado em março, o auge pós-crise, e um ponto percentual abaixo do verificado em setembro de 2008, o auge pré-crise. A diferença é maior entre os fabricantes de bens de capital, cuja produção ainda está 2,2 pontos longe do verificado em março e quase dez pontos percentuais abaixo do registrado no pré-crise.

Segundo Bicalho, essa folga vai acabar. O economista lembra o que ocorreu ao longo de 2006. Naquele ano, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 4%, puxado pelo consumo das famílias. "A produção da indústria andou de lado o ano inteiro e assistimos a saltos na importação e valorização do câmbio. Mas a partir de 2007 e depois também em 2008, o PIB passou a crescer ainda mais e a produção retomou com força, mesmo com importados e câmbio valorizado."

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