Principal desafio do Brasil é o crescimento

Publicado em
22 de Abril de 2014
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O principal desafio do Brasil nos próximos anos é crescer a uma taxa mais elevada e sustentável, afirma o diretor para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner.

Segundo ele, há questões importantes no mix de política fiscal e monetária a serem enfrentadas, mas o grande nó a ser desatado é como acelerar a expansão da atividade. ‘Quando você olha para a economia brasileira, com uma taxa de investimento de cerca de 19% do PIB e um avanço baixo produtividade, a taxa de crescimento esperada para os próximos anos não é espetacular’. Para mudar o quadro, é fundamental o país investir mais e se tornar mais produtivo. Na semana passada, o FMI cortou a projeção de expansão do Brasil para 2014 de 2,3% para 1,8%.

Para Werner, o nível de crescimento no país está próximo do potencial (aquele que não acelera a inflação). No mercado de trabalho, a desocupação está em níveis bastante baixos. A demanda, por sua vez, ainda cresce a um ritmo relativamente elevado, como evidenciado pela inflação alta e o aumento do déficit em conta corrente.

‘A economia tem pleno emprego, o setor de serviços está relativamente bem e o crédito continua a crescer. O consumo segue crescendo e isso gera algumas pressões sobre os preços e sobre o déficit em conta corrente’, diz Werner, notando que a piora nos termos de troca (a relação entre preços de exportação e de importação) também teve algum impacto para aumentar o rombo externo, que em 2013 ficou em 3,6% do PIB, acima dos 2,4% do PIB de 2012.

Nesse cenário, para crescer a taxas mais altas, é preciso investir mais e aumentar a produtividade, afirma Werner. ‘Algumas das medidas necessárias para isso terão efeitos de longo prazo, como educação, e outros podem ter impacto no curto prazo, como infraestrutura e na questão da regulação’.

O diretor do FMI observa que é preciso levar em conta que o Brasil tem historicamente um nível baixo de investimento. ‘É algo que vai além dos fatores de curto prazo. Parte dessa questão tem a ver com a baixa taxa de poupança e com a produtividade baixa. Se a produtividade é baixa, a rentabilidade do investimento é baixa’, diz Werner, segundo quem é fundamental melhorar o ambiente empresarial. ‘Quando se olha para os indicadores de ambiente de negócios, o Brasil não vai muito bem’.

Para Werner, o governo está fazendo a sua parte na questão de infraestrutura, um gargalo importante. Ele vê evolução nos detalhes do modelo de concessões, que passou a caminhar mais rapidamente. ‘Mas é preciso aumentar a taxa de investimento do setor privado. Isso virá por meio da criação de um ambiente de negócios mais amigável. A infraestrutura é parte disso, mas há muito a ser feito em toda a América Latina em relação à regulação, à política de comércio exterior, à questão da incerteza’, diz ele. ‘Mudanças frequentes em diferentes políticas geram um ambiente de incerteza, afetando o investimento’.

O comportamento menos favorável dos preços de commodities também teve um peso sobre o crescimento da economia brasileira. Enquanto os países mais ligados aos Estados Unidos, como México, os da América Central e do Caribe devem avançar com mais força, embalados pela recuperação americana, economias do cone sul, em que os produtos básicos são mais importantes, sofrem uma desaceleração, afirma Werner, citando também o Chile, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Ele nota, contudo, que as cotações desses produtos devem se manter em níveis altos em termos históricos.

Ao comentar o momento de tranquilidade dos mercados nos últimos dois meses, Werner considera que melhorou percepção das vulnerabilidades dos emergentes pelos investidores. ‘O mercado corrigiu parte do exagero nos preços de ativos e ‘spreads’ que ocorreram no ano passado e em janeiro deste ano’, diz ele. No cenário básico do FMI para a normalização da política monetária nos Estados Unidos, a redução das compras de ativos pelo Federal Reserve (Fed) será gradual, com os juros subindo em meados de 2015.

Além de um ambiente externo mais favorável aos emergentes, Werner acredita que algumas medidas tomadas pelas autoridades brasileiras ajudaram. ‘Quando você olha para a política monetária, o BC continuou o aperto até além do que se antecipava há alguns meses. As políticas de intervenção no câmbio tiveram um efeito estabilizador, e o mercado recebeu relativamente bem o anúncio fiscal para o resto do ano’.

Ao tratar da política monetária, Werner elogia a ação do BC, embora ressalte os desafios que há pela frente. ‘O que era planejado para ser um aperto para conter pressões inflacionárias domésticas, também sofreu pressões adicionais provenientes da (desvalorização) taxa de câmbio e agora dos preços de alimentos’, diz ele, para quem o choque recente sobre os alimentos deve ser transitório. Segundo Werner, a tarefa do BC é impedir que haja uma contaminação das expectativas por esse movimento. ‘As medidas tomadas pelo BC foram na direção correta’, afirma ele, acrescentando que cabe à instituição avaliar se novos ajustes nos juros serão necessários. Werner observa que, dados os choques adicionais recentes, as defasagens de mudanças na política monetária podem ser um pouco mais longas.

E há preocupação quanto ao fato de alguns preços administrados estarem controlados, como os de combustíveis e energia elétrica? ‘Esse é um desafio para o BC’, diz Werner, lembrando que o nível dos preços administrados tem sido significativamente baixo. ‘Mesmo se eles forem bem sucedidos com o resto dos preços, gerando uma desinflação importante, eles vão enfrentar algumas pressões da correção dos administrados’, afirma ele, ressalvando que, quando subirem, haverá um choque de uma só vez. O BC terá que impedir o alastramento dos efeitos secundários desses aumentos. ‘Mas isso está incorporado no cenário básico do BC’, diz Werner.

No caso das contas públicas, Werner afirma que é ‘importante ser muito claro que, no médio prazo, as metas fiscais levarão a uma redução importante da relação dívida/PIB. Para ele, numa situação de crescimento menor, é possível estabelecer alvos menos ambiciosos, com a garantia de que o esforço será aumentado no futuro. ‘Isso ajuda a sustentar a recuperação do crescimento, mas assegurando que, no médio prazo, a relação dívida/PIB estará em queda’.

Segundo Werner, a ‘desaceleração das atividades dos bancos públicos’ está na direção correta, numa referência aos empréstimos do Tesouro a instituições como o BNDES, que tem diminuído. Esses bancos tiveram um papel contracíclico importante, diz ele, mas hoje é necessário diminuir o ritmo. ‘É isso o que nós vemos hoje, o que reduz as preocupações do mercado e dos analistas sobre as possibilidades de perda quase fiscais’.

Werner falou ao Valor na semana passada, durante o encontro de primavera do FMI e do Banco Mundial, em Washington.

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