Valor baixo pago em plena época de colheita é reflexo do excesso de oferta
O Brasil está colhendo mais uma grande safra de grãos. Mas o preço do frete preocupa transportadoras e caminhoneiros em Mato Grosso.
Depois de quase uma semana com a colheita parada por causa da chuva, é hora de recuperar o tempo perdido na fazenda do agricultor Luiz Bortolini. Ele plantou dois mil hectares de soja em Lucas do Rio Verde e estava preocupado com a pausa forçada nos trabalhos.
Para colocar o cronograma em dia, Bortolini levou seis colheitadeiras para o campo e contratou mais caminhões do que o de costume para levar os grãos para o armazém. “Nós estamos com uma faixa de quatro a seis caminhões a mais. O frete, que estava na faixa de R$ 1,00, hoje ele já foi para R$ 1,40 para poder ter disponibilidade de caminhões”, diz.
O agricultor Gilberto Eberhardt também terceiriza o transporte da soja que sai da fazenda e até uma empresa que fica a 14 quilômetros de distância da propriedade. Ele paga R$ 0,80 por saca, que soma pouco mais de R$ 13 por tonelada.
A situação é diferente com o chamado frete longo, que é o transporte dos grãos dos armazéns para os portos. O valor cobrado até subiu nas últimas semanas, mas está mais barato que há um ano.
Atualmente, o preço para levar uma tonelada de soja de Lucas do Rio Verde para Paranaguá, no Paraná, gira em torno de R$ 200.
São R$ 5 a mais que no início do mês, quando começou a colheita. Mas, são R$ 80 a menos que o valor praticado em janeiro do ano passado. A diferença, no entanto, não é percebido pelos agricultores. É o que diz Júlio Cinpak, vice-presidente de uma cooperativa que recebe grãos de mais de 80 produtores da região.
O baixo valor do frete em plena época de colheita é reflexo, principalmente, da super oferta de caminhões. Com mais gente disputando o serviço, os preços ainda não decolaram como o esperado, segundo Gilson Bataica, representante do Movimento de Transportadores de Cargas.
Há duas semanas as principais rodovias federais que cortam Mato Grosso foram bloqueadas por caminhoneiros. Eles querem a implantação de uma tabela mínima para o frete e um aumento de ao menos 15% no valor recebido atualmente. O motorista que cruza o país carregando a safra não esconde a apreensão. “Se você tem uma família para tratar e você precisa ter um emprego”, diz o motorista Joaquim dos Santos.
Na transportadora em Rondonópolis foi preciso dar férias coletivas aos funcionários. Os 180 caminhões ficaram mais de 40 dias parados.
A demanda por mais caminhões para o transporte da soja deve aumentar daqui a umas duas semanas, quando começa o pico da safra.