Precisamos melhorar a qualificação dos gestores de frotas*

Publicado em
20 de Novembro de 2018
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Segundo o engenheiro mecânico Armando Bulgari Filho, quanto menos qualificado for o profissional, mais altos serão os custos operacionais da empresa

 O Brasil já conta com uma frota de quase 66 milhões de veículos sendo 7 milhões de comerciais leves, picapes e furgões (10,6%), 2 milhões de caminhões (3,03%), 377 mil ônibus (0,57%) e 56,62 milhões de carros.

O modal rodoviário brasileiro detém 61,1 % do transporte de carga, 21,0% para o modal ferroviário, 14% para o hidroviário, portuários fluviais e marítimos e 0,4% para o aéreo.

Estes dados refletem um país predominantemente rodoviário no transporte de carga o que ‘indicaria’ frotas atualizadas, gestão de frotas avançadas e gestores qualificados.

Mas a realidade nos coloca distantes desse mundo ideal para o setor de transportes.

Há 5 anos 39% da frota tinha entre 6 e 15 anos de idade, hoje 52% estão nessa faixa de idade sendo que a média da frota nacional está em 9 anos e 7 meses.

Outro fator preocupante é a baixa qualificação dos gestores de frotas privadas e públicas o que piora a sua eficiência e aumenta significativamente os custos operacionais.

Ministro cursos, palestras e presto consultorias em gestão de frotas há 25 anos, tanto para empresas privadas como para as públicas de todo o Brasil e o que frequentemente encontro são gestores de frotas amadores, (‘responsáveis pelo almoxarifado’, ‘por compras’, ‘pelos motoristas’, entre outros, atuando como ‘gestores de frotas’.

Frequentemente me deparo em sala de aula com 30 gestores deles, ou seja, que vendem frete e ao serem indagados sobre quem saberia informar, de imediato, qual o custo por km ou o custo por tonelada transportada de suas frotas, “ninguém sabe”. Isso significa que se não sabem quanto custa o km rodado também não sabem se estão ganhando ou perdendo dinheiro. É frustrante!

Outra constatação comum, tanto para os gestores de frotas privadas quanto de frotas públicas é a utilização de gasolina ou álcool nos carros flex, sem o devido cálculo do custo por km para a definição do combustível mais econômico financeiramente.

Ninguém sabe calcular custo por quilômetro  de combustível e via de regra utilizam somente gasolina aleatoriamente.

Na semana passada estive no interior de São Paulo apresentando um treinamento para gestores de frotas públicas. Quando questionei um gestor de uma frota de 400 carros flex qual o tipo de combustível utilizado, ele disse que “somente rodava com gasolina pois oferecia maior autonomia”. Perguntei os preços do álcool e da gasolina e a autonomia média dos carros com ambos combustíveis. Assim chegamos aos custos por km de cada qual, com uma diferença de 24% a menos para o álcool.  Ou seja, para cada R$ 1 milhão gastos com gasolina, se economizariam R$ 240 mil, somente substituindo-a por álcool.

Decepcionante, se não revoltante, é a gestão das frotas de ambulâncias no Brasil, sem exceção, que faz com que nossos doentes sejam resgatados por latas de lixo.

A vida útil econômica de uma ambulância é de três anos e a idade média dessas viaturas, na minha pesquisa, tem mais de dez anos, algumas com 900 mil quilômetros rodados.

Não existe planejamento para a renovação da frota nem mesmo o cálculo para o desfazimento dos veículos que já tenham alcançado o ponto econômico de substituição.

A gestão de frota no Brasil muitas vezes se resume à tentativa de controle do consumo de combustível, sem o devido controle do custo por km, por tipo e modelo de veículo, custo por km dos pneus, por marca e tipo de pneus, custo por tonelada transportada, etc.

Em relação aos custos fixos, via de regra, são dispensados o custo da depreciação e o custo de oportunidade do dinheiro investido na aquisição do veículo e equipamentos.

Recentemente tivemos a greve dos caminhoneiros e durante todo este episódio não se ouviu falar em custo por km ou custo por tonelada.

Tudo fica no acerto político que acaba impondo de um lado, altos custos de operação e de outro, grandes margens de lucro aumentando o custo Brasil. Alguém sempre sai perdendo.

Através da qualificação dos nossos gestores de frotas públicas e privadas bem como de seus motoristas, as nossas frotas podem operar com custos menores, maiores índices de disponibilidade física, melhor rendimento dos motoristas e para o setor privado, muito mais competitividade e lucro.

Nesse assunto destaco dois grandes profissionais no treinamento dos gestores de frotas e motoristas. O amigo Luiz Antonio Pigozzo, professor, instrutor, coach, consultor em gestão de frotas e treinamento para motoristas. Ele é palestrante e autor do livro Consumo de combustível uma questão de atitude, o qual recomendo.

O Laércio Almeida Rodrigues, diretor da J L Rodrigues Treinamentos Ltda, professor, instrutor, consultor em gestão de frotas e de motoristas. Ambos profissionais batalhadores, para uma melhor qualificação da gestão de frota do Brasil.

Os modelos de gestão de frotas e de motoristas no Brasil, de maneira geral, precisam passar de amadores a profissionais e assim possamos embarcar no bonde da atualidade econômica mundial e nela permanecer.

Armando Bulgari Filho – engenheiro mecânico automotivo, professor, consultor, palestrante em gestão de frotas e de motoristas. Atuou na Scania Latin America, inclusive na rede. É gerente técnico em retífica de motores e foi diretor de distribuidor Ford Caminhões.

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