Primeiro porque o frete de carga de projeto requer o uso de equipamentos com alto valor de aquisição, parte deles, com preço em dólar ou euro, pela inexistência de fabricação no Brasil, em especial dos ativos com suspensão e direção hidráulica. Segundo por causa dos elevados custos operacionais, base para precificação do frete, devido o elevado consumo de combustível e de pneus, muito além dos patamares conhecidos e que aumentam, exponencialmente, com o peso das cargas transportadas.
Apenas essas duas razões já seriam suficientes para deixar claro que frete de carg projeto a rigor não é caro.
No entanto, dependendo do peso, complexidade e dimensões da carga, esses custos são apenas a ponta do iceberg.
O que vai pesar mesmo e são muito difíceis de estimar são os custos desconhecidos por muitos transportadores e pela grande maioria do contratantes, relacionados às más condições da infraestrutura de transportes, à falta de informação sobre as más condições das rodovias, sobre as centenas de pontes e viadutos com limitação de capacidade portante, sobre a grave falta de estrutura dos órgãos públicos e de como essas deficiências impactam a movimentação de cargas indivisíveis nas três fases do processo:
- na escolha do veículo e definição do itinerário,
- na obtenção da AET e
- na execução propriamente dita do transporte, aumentando a quantidade de horas de trabalho, do tempo de travessia e, por consequência, os custos.
Por isso, para João Batista Dominici, presidente da Logispesa, está mais do que na hora de quem contrata frete de carga projeto no Brasil, saber que:
- a densidade da malha rodoviária é uma das mais baixas do mundo, inclusive da América Latina;
- apenas 10,6% das rodovias federais são duplicadas;
- 87,6% das rodovias federais, são de pistas simples;
- menos de 50% do pavimento se apresenta em boas condições de uso;
- pelo menos 20% das pontes e viadutos apresentam limitação de peso;
- o gabarito vertical de pontes e viadutos médio é inferior a 5,30m de altura;
- pouco menos de 40% das rodovias possuem acostamento;
- existem centenas de trechos com pontos críticos: quedas de barreira, pontes caídas, erosões na pista, buracos grandes;
- 22.079 quilômetros das rodovias são concedidos, mas ainda assim, pelo menos 25% desse total apresenta-se em estado péssimo ou ruim de conservação;
- pelo menos 76,3% das rodovias apresenta algum tipo de problema relacionado à Geometria da Via.
E, obviamente, dos impactos que essas ineficiências têm sobre o orçamento do frete, como:
- aumento da distância de transportes;
- aumento adicional médio de 28,5% dos custos de operação;
- custos elevados com tarifas pelo uso da via, como TUV, TAP, Escolta;
- aumento da dificuldade para roteirização do transporte;
- aumento da Exigência de EVE - Estudo de Viabilidade Estrutural;
- aumento da Exigência de EVG - Estudo de Viabilidade Geométrica;
- redução dos pesos máximos permitidos e da capacidade de carga dos veículos;
- aumento de exigências de plano de Trafegabilidade;
- aumento do tempo para resposta às consultas sobre viabilidade do transporte;
- aumento da quebra dos veículos;
- redução da velocidade operacional;
- aumento do tempo de viagem;
- aumento dos custos com escolta policial e credenciada;
- aumento dos riscos à segurança dos usuários;
- desperdício de bilhões de litros de diesel por causa só da inadequação do pavimento;
- quase R$ 10 bilhões de prejuízos com veículos, cargas, despesas médico hospitalares e perda de produção das vítimas.
E ainda, que:
- mais de 70% dos órgãos rodoviários não dispõem de sistemas digitais de concessão de AET;
- menos de 10% dos órgãos possuem regulamentos específicos sobre concessão de AET;
- nenhum órgão disponibiliza informação sobre limitação de pontes, gabaritos verticais e horizontais;
- acima de determinados limites de peso e dimensões qualquer pedido de AET depende de consulta a residentes sem prazo de resposta;
- não há qualquer uniformização com relação aos pesos máximos permitidos;
- não há critérios para exigência de EVG ou EVE, nem prazo para análise
- a maioria dos órgãos sequer dispõe de um departamento de concessão de AET;
- não há qualquer padronização com relação aos requisitos exigidos;
- não há qualquer padronização com relação às taxas e tarifas incidentes sobre concessão da AET, Escolta Policial e TUV;
- não há qualquer padronização sobre os limites para concessão de AET com validade anual;
- na maioria dos órgãos não há definição de prazos para concessão de AET;
- em MG, além de EVG e EVE pode ser exigido Plano de Estabilidade Veicular e da Carga;
- em estados como MA, RN, SE, PA é praticamente impossível falar ou obter qualquer informação sobre obtenção de AET;
- nenhum dos estados a seguir: RJ, MG, MT, MS, PE, PA, PB, PI, MA dispõem de requisitos formais para concessão de AET;
E de como essas ineficiências de ordem burocrática, também impactam os custos finais do frete, devido:
- aumento da dificuldade para fazer o dimensionamento do veículo;
- maior dificuldade para roteirização do percurso;
- maior ou menor dificuldade para atendimento aos requisitos formais e informais necessários;
- maior dificuldade para definir, com precisão, o tempo total da operação;
- dificuldade para identificação, cálculo e pagamento de taxas e tarifas;
- dependência de despachantes;
- dificuldade para agendamento e/ou acionamento de escolta policial;
- custos com estadia.
E, com base nesse conhecimento, nos juntarmos todos e trabalharmos em conjunto para mitigar essas deficiências e ineficiências, apoiando e ao mesmo tempo cobrando políticas públicas para esse segmento, melhorando o planejamento das nossas operações e sendo mais transparentes em nossas negociações.
Esse, aliás, é o propósito da Logispesa - Associação Brasileira de Logística Pesada, apoiar a todos, transportadores, fabricantes, usuários, prestadores de serviços no enfrentamento e endereçamento dos principais problemas que desafiam esse segmento no Brasil.
Para conhecer mais sobre o que é e o que faz a Logispesa: www.logispesa.com.br.