Para sobreviver, caminhoneiro autônomo deve se reinventar

Publicado em
25 de Agosto de 2014
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Para sobreviver em um mercado cada vez mais competitivo, o caminhoneiro autônomo precisa se organizar para não perder espaço para as grandes transportadoras. O uso de novas tecnologias, apoio do Sebrae e até a entrada em cooperativas aparecem como alternativas para o trabalhador.

A estimativa do governo é que haja hoje no País cerca de 2 milhões de caminhões em operação, sendo 950 mil deles de profissionais autônomos. "Sem condições de competir no preço do frete, esse número deve cair entre 5 e 10% ao ano", explicou ao DCI o professor de engenharia civil e transportes terrestres da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), César Couto Filho.

Para o professor, o alto custo para manutenção do caminhão, o domínio de nomes como JSL, Tegma e Atlas, e o preço do combustível tiram a competitividade do caminhoneiro autônomo que, muitas vezes, precisa encerrar atividade. "A falta de tradição na formação da mão de obra de caminhoneiros, por si só, é um desafio. Quem se forma, geralmente, procura trabalhos mais fixos, em grandes empresas. O número de novos profissionais autônomos, principalmente nos grandes centros urbanos, deve cair muito nos próximos dez anos".

Tecnologia a favor

Uma das alternativas que aparecem no mercado para ajudar a organizar melhor a vida do caminhoneiro é o aplicativo para celular da startup Sontra Cargo.

A empresa, que iniciou operações no último ano, criou uma solução na nuvem para que caminhoneiros encontrem cargas online, de acordo com o trajeto que está fazendo.

"Um dos custos mais altos para o caminhoneiro é o fato de, muitas vezes, ele levar uma carga e voltar com o caminhão vazio", disse ao DCI o diretor geral da Sontra, Bruno Torres.

Na visão do executivo, esse alto custo para operar vazio pode ser combatido através de planejamento. "A nossa ferramenta é gratuita. O caminhoneiro se cadastra, traça um destino e verá quais opções de cargas que se enquadram ao caminhão dele no trajeto delimitado", disse.

Hoje a empresa soma mais de quatro mil embarcadores e 17 mil caminhoneiros cadastrados. "Em média, são 600 ofertas de frete anunciadas por dia, com picos que chegam a 1000 ofertas diárias", detalhou ainda.

A perspectiva de Torres é que, em 2015, a empresa some 200 mil caminhoneiros cadastrados. "É um número pequeno, comparado a imensidão deste mercado, mas já é um começo", disse ele.

A ferramenta pode ser baixada para smartphones com sistema operacional IOS, Android e Windows Phone. "Nosso próximo passo será avanço da parte colaborativa entre os usuários", completou Torres.

Cooperativas em alta

Outra solução para este mercado é a inclusão em cooperativas de caminhoneiros. Com contratos compartilhados, o trabalhador também consegue ganhar competividade para os fretes em todo o País.

Exemplo disso, a cooperativa Transporta Mais, que nasceu em 2010 no Mato Grosso do Sul já soma 200 caminhoneiros cadastrados. "A criação da cooperativa se deu em função do grande número de caminhoneiros que estavam afogados em custos e não conseguiam novos contratos em função do valor do frete", disse o, diretor presidente da cooperativa, Marco Junqueira.

O executivo, que também era caminhoneiro sem registro fixo, conseguiu ampliar em 20% o lucro líquido da operação e baixar, em média, 15% o valor do frete cobrado. "O resultado foi bem positivo, com mais caminhões, conseguimos fazer manutenção regular, negociar combustíveis e localizar profissionais mais perto do destino da carga para fazer o transporte em menos tempo".

Para o ano que vem, o empresário projeta incremento na casa do 25% no número de associados e 30% no lucro da empresa. "Estamos muito otimistas em função do agronegócio que vem avançando em ritmo bem acelerado no País", detalhou

Empreendedorismo

Em 2013 o Sebrae em parceria com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), lançou um projeto para promover a gestão de negócios de caminhoneiros autônomos.

Ao todos, já foram mais de 70 mil empreendedores individuais treinados pela iniciativa, entre ele, Rubens Pinto Roldão, caminhoneiro com mais 30 anos de experiência. "Aprendemos sobre gestão de negócios, como diminuir custos e até quais os caminhos para conseguirmos abrir uma transportadora própria".

O caminhoneiro, que fez o curto no ano passado, viu seu lucro aumentar 15% com soluções simples. "Aprender a calcular melhor o preço do frete e entender exatamente quais cargas darão lucros e quais são melhor não realizar foi fundamental para verificar esse crescimento", disse ele.

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