Para que serve um doutorado em logística?, por Mauro Roberto Schlüter*

Publicado em
08 de Abril de 2013
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Entrar em um doutorado é fácil. Difícil é saber o que fazer depois. Há mais de 17 anos sou professor na área de logística e tenho observado e também experimentado esta dúvida.

O doutorado exige uma dedicação ímpar não só de quem está cursando como das demais pessoas com as quais convivemos e, portanto existe a necessidade de literalmente negociar o tempo de convivência.

Nesta negociação entra em jogo um presumido dimensionamento da compensação que normalmente está baseada em melhoria de qualidade de vida. A questão central da negociação é dimensionar a expectativa de compensação do sacrifício atual.

Ao terminar o doutorado muitos imaginam que o meio empresarial e acadêmico vão recebê-los e tratá-los de forma diferenciada, principalmente aqueles que fizeram um doutorado no exterior, mas não é isso o que ocorre.

Lembro-me de um colega que havia recém terminado o seu doutorado no exterior em uma das melhores universidades do mundo.

Estava exultante com o fato e imaginava que seria recebido por qualquer universidade no país, mas na medida em que o tempo passava, a frustração começou a tomar conta a ponto de se tornar quase uma depressão.

É preciso ser cauteloso em relação às expectativas e perceber que na realidade um diploma de doutor é garantia de sucesso, mas não imediato.

Na verdade ao sair de um doutorado a docência é a forma mais rápida para iniciar uma carreira. Até hoje a maior parte das pessoas imagina que a docência e pesquisa são os únicos caminhos para aqueles que fazem doutorado, mas outros caminhos começam a surgir.

Alguns segmentos contratam de forma recorrente egressos de doutorado, em razão da necessidade das pesquisas que realizam (farmacêutico, químico, eletrônico dentre outros).

Mas além desses segmentos que são tradicionais na contratação de egressos de doutorado, percebe-se que outras empresas começam a enxergar isto como uma estratégia de vantagem competitiva sustentada. Este fato está ocorrendo com a logística, embora ainda incipiente.

Muitos imaginam que a logística abrange apenas as operações de transporte e armazenagem. Não percebem a verdadeira abrangência e complexidade do cenário. Isto fica evidente através da nossa baixa competitividade logística sistêmica, onde a maior parte das pessoas afirma que a solução é apenas a construção de infralogística como se fosse uma decisão simples.

A complexidade do cenário da logística empresarial no âmbito interno e externo às empresas torna imperativa a existência de um staff com elevado grau de conhecimento.

Alguns exemplos de modelos e métodos científicos que podem ser aplicados em cenários logísticos podem ser facilmente vislumbrados.

A elaboração de redes de transporte perfeitas para erradicação de perdas com paradas para repouso é apenas uma dentre tantas aplicações de métodos científicos.

Outro aspecto de grande relevância e que proporciona uma vantagem competitiva é o rigor científico aplicado às decisões empresariais.

Desconheço a aplicação do cálculo de ponto ótimo de troca de equipamento no setor do transporte rodoviário de cargas como parte da estratégia de gestão de frotas de transportadoras.

Um doutorado em logística pode trazer vantagem competitiva enorme para as empresas e acredito que os empresários do setor de logística deveriam não apenas contratar um doutor na área, mas antecipar-se a isto e investir em um doutorando.

No médio prazo um doutor em logística ou com tese com tema centrado na logística, será um diferencial de competitividade.

Por:
Mauro Roberto Schlüter
Professor de Logística da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Diretor do IPELOG

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