Para governo, leilões de rodovias não estão ameaçados

Publicado em
24 de Junho de 2013
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Ministro dos Transportes diz que ainda há grande interesse de empresas estrangeiras por rodovias.

Lu Aiko Otta, de O Estado de S. Paulo


BRASÍLIA - O nervosismo nos mercados financeiros não deverá prejudicar os leilões de concessão de rodovias marcados para começar em outubro, afirmou ao Estado o ministro dos Transportes, César Borges. A despeito da avaliação de alguns analistas de que está aumentando a aversão ao risco no País, ele acredita que a disputa atrairá participantes de fora.

"Tenho conversado com empresas e percebo que há intenção de investir aqui, pois o Brasil é um país atrativo", comentou. Ele citou como exemplo a recente licitação de obras na BR 381, na qual empreiteiras portuguesas e espanholas arremataram vários lotes para construir.

Ele observou que a Petrobrás e uma subsidiária do Banco do Brasil, a Brasil Seguridade, também captaram vultosos recursos no exterior este ano. A petroleira captou US$ 11 bilhões no mercado internacional e a Brasil Seguridade arrecadou R$ 11,4 bilhões em sua oferta inicial de ações na Bolsa, uma operação que atraiu 240 investidores.

A avaliação do ministro coincide com a feita pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Ele acredita que as concessões não serão afetadas, porque são investimentos de longo prazo. É também esta a visão do presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo.

Mas, nos bastidores, há quem admita que a crise pode ser uma dificuldade adicional para as concessões, por deixar os investidores mais cautelosos e aumentar a percepção de risco na operação. Os protestos de rua tampouco ajudam, já que o governo costuma vender a estabilidade política e institucional do País como um atrativo para o capital estrangeiro.

Segundo o ministro, o governo fez tudo o que estava ao seu alcance para garantir um leilão competitivo nas rodovias. A principal decisão foi elevar a rentabilidade de 5,5% para 7,2% ao ano, o que implicou uma elevação de até 62% na tarifa máxima a ser proposta no leilão. Ajustes na mesma direção serão feitos nas concessões de ferrovias e no trem-bala.

O Estado já informou que, por causa da turbulência no mercado internacional, algumas empresas estão pressionando para o governo elevar ainda mais a rentabilidade das concessões rodoviárias. Em resposta, o ministro disse que tudo permanecerá como está.

A intenção do governo é publicar o primeiro edital de licitação de estradas no dia 31 de julho, mas pode haver atraso de uma ou duas semanas, segundo admitiu Borges. As normas do leilão estão nesse momento sendo analisadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

TAV. O governo pretende manter a data do leilão do Trem de Alta Velocidade (TAV), apesar dos pedidos de alguns potenciais interessados por mais tempo. "Não vou adiar", afirmou Borges. "Há outros interessados pedindo para manter a data do leilão e acredito que todos já tiveram bastante tempo para análise."

Pelo cronograma em vigor, os interessados precisam entregar suas propostas até o dia 13 de agosto. O resultado da licitação deverá ser anunciado no dia 19 de setembro.

Estrangeiro ainda tem interesse em concessões, diz EPL

 Apesar do crescente risco político e cambial no Brasil, os investidores estrangeiros ainda estão interessados em concessões de projetos de infraestrutura, afirmou o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo. Segundo ele, o interesse engloba desde a construção de rodovias até o ambicioso projeto do trem-bala.

"Investidores estrangeiros em potencial sempre visitam o meu escritório", disse Figueiredo. A EPL é responsável pelo programa brasileiro de infraestrutura, incluindo uma série de aguardados leilões de concessões. Figueiredo afirmou que os investidores estrangeiros são "cruciais" para o desenvolvimento da infraestrutura do País. "Existe mais a ser feito do que o que podemos fazer imediatamente", comentou.

As dúvidas sobre investimentos estrangeiros aumentaram nas últimas semanas devido à onda de protestos ao redor do País, com a população exigindo melhoras nos serviços públicos e o fim da corrupção. Segundo a visão de muitos investidores, os protestos elevaram o risco político no Brasil.

No entanto, para Figueiredo, "manter o prazo dos leilões de concessão vai atender algumas das exigências dos manifestantes". Isso é verdade principalmente em relação aos projetos de transportes, que são o foco original dos protestos nas grandes cidades brasileiras, disse ele.

Além das manifestações, o real teve forte queda ante o dólar no último mês e há a influência de fatores externos, incluindo a possibilidade de uma redução de estímulos nos EUA. Mas isso não desanima Figueiredo. "Há décadas o governo reconhece a necessidade de investir, mas nunca levou a execução a sério", afirmou, acrescentando que o Brasil precisa expandir e melhorar ferrovias, aeroportos, estradas, portos e muito mais.

O governo pretende leiloar 5.840 quilômetros de concessões rodoviárias este ano. Figueiredo disse que os leilões são "uma questão urgente" e admitiu que o planejamento pode ter sido apressado. Novos leilões, principalmente para ferrovias, estão previstos para 2014 e 2015. "Esses serão melhor planejados."

Além disso, a concessão do trem-bala, que ligará Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, está prevista para setembro, com prazo de até 2020 para se tornar operacional. A EPL estima que o custo do projeto alcance R$ 35,6 bilhões. Conforme Figueiredo, o leilão está dentro do prazo, mas "algumas modificações nas regras" podem ocorrer nos próximos meses. Fonte: Dow Jones Newswires.


Por Agência Estado (AE)

 

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