Ou o transportador aprende a cobrar ou o transporte de cargas vai continuar mal de saúde*

Publicado em
12 de Abril de 2018
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Muita gente talvez não saiba os estragos que a crise econômica iniciada em 2014 impôs ao segmento de transporte de cargas. Segundo dados do Ministério do Trabalho, mais de 25 mil vagas foram fechadas no primeiro bimestre de 2016. Esse montante representa um terço dos números de 2015, quando 76.400 mil pessoas perderam seus empregos. O impacto da crise sobre o transporte de cargas, que é responsável pela movimentação de 75% das cargas do País, também foi mais agressivo em comparação com outros setores produtivos, como o comércio e a indústria. 
 
Diante da realidade, às transportadoras não restou outra coisa senão lutar para se adaptar à nova realidade. E como fizeram isso? Reduzindo custos, cedendo a exigências e barateando o frete. Tais “soluções”, contudo, trouxeram consequências, pois algumas empresas enfrentaram sérias dificuldades para atender à maior demanda proporcionada pela relativa melhora do mercado no segundo semestre de 2017.
 
Pesquisa nacional realizada em janeiro deste ano pela NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística) em conjunto com a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) mostra como foi o desempenho das transportadoras em 2017: 62% tiveram queda no faturamento; 58,1% tiveram prejuízo sobre o faturamento; 47,6% das empresas diminuíram de tamanho; e 52,4% afirmam estar recebendo frete com atraso. Ainda de acordo com o estudo, os fatores que mais contribuíram com essa situação foram os aumentos dos custos, em especial, o do combustível – 9,44% nos postos e 12,49% nas distribuidoras. 
 
E nem a pequena recuperação do frete que marcou o ano passado foi suficiente para recompor a defasagem acumulada. Prova disso que a pesquisa indica 13,95% de defasagem no transporte de cargas fracionadas e 20,60% na carga lotação. 
 
E explicar como chegamos a esses números não é difícil. Basta levar em conta que nos últimos anos tivemos de enfrentar, não apenas a defasagem do frete, mas a própria falta de fretes. Afinal, se a indústria não produzia e o comércio não vendia, o que iríamos transportar? 
 
Não é preciso entender muito de transporte para saber que o frete é nosso calcanhar de Aquiles. Mas não convivemos apenas com esse problema. Muitos usuários ainda não remuneram adequadamente o transportador com relação a situações anormais e aos serviços adicionais não contemplados nas tarifas padrões, como entregas em regiões de alto risco, tempo de espera para carga e descarga, coletas e entregas em áreas com restrições, planos de gerenciamento de risco customizados. Isso sem falar no que temos gastado para driblar a insegurança gerada pelo aumento das ocorrências de roubos de cargas. São custos muitas vezes superiores ao próprio frete. 
 
Passados quatro anos de sufoco, estamos vislumbrando um aumento de demanda que pode ultrapassar os dois dígitos. O mercado volta a respirar, as movimentações financeiras vão ganhando corpo. É, portanto, chegada a hora de fazermos nossa parte. No entanto, só teremos força para reagir se cada transportador fizer seu dever de casa, refizer contas, adequar sua remuneração aos desafios que estão por vir e encontrar, junto aos contratantes, o equilíbrio comercial necessário para viabilizar suas operações. Se não for assim, nadaremos e morreremos na praia.
 

 

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