Introdução
Diante do aumento da expectativa de vida em muitos países e do alto índice de natalidade mundial, o crescimento populacional, afirmam especialistas, é inevitável. Já alcançamos os 7 bilhões de habitantes no planeta e, nos próximos anos, teremos a necessidade de produzir quantidades cada vez maiores de bens e serviços econômicos. Não só para atender aqueles que vêm chegando, mas também, para melhorar o nível de vida de todos.
Essa necessidade também aumentará o grau de integração econômica entre países e empresas, significando expansão comercial internacional em volumes e níveis cada vez maiores.
Números do Banco Mundial dão conta de que as economias em desenvolvimento, que há 28 anos forneciam cerca de 14% dos manufaturados em todo o mundo, há 8 anos passaram a fornecer 40% e, atualmente, fornecem aproximadamente 45%. Há outras estimativas mais otimistas ou pessimistas, mas de qualquer forma, e desconsiderando as “fases ruins”, como a que estamos agora vivenciando, mesmo que muitos dos números não se confirmem totalmente, é fato que o comércio internacional – de bens econômicos e de serviços – vem aumentando muito, pois:
- Operações externas (tanto em mercados produtores quanto consumidores) acontecem e acontecerão em volumes cada vez maiores;
- No comércio internacional já se incluíram, de forma rápida e crescente, países emergentes como a China, Brasil, Rússia, Índia, África do Sul e alguns da Europa Oriental e de parte da Ásia;
- Novos acordos comerciais regionais são assinados constantemente;
- Há estímulos cada vez mais consistentes no comércio mundial, com base nos sistemas eletrônicos de compra e venda.
Parece ser inevitável, portanto, que haja um aumento substancial nos gastos com a logística, mas é importante fazer a ressalva, comentada aqui mesmo neste Guia, quando escrevi o artigo “Gastar mais com logística pode significar, também, aumento de lucro”, posto que os gastos logísticos podem aumentar independentemente de possíveis modificações na produtividade operacional da logística (quando sempre se espera diminuição de custos), uma vez que as mercadorias poderão percorrer distâncias cada vez maiores e por ambientes mais complexos, principalmente com a inclusão de novos mercados no comércio internacional.
Naquele artigo procurei demonstrar que, o fato de se ter, em algum momento, custos logísticos crescentes nem sempre significa dizer que houve aumento de custos logísticos, mas com certeza, aumento de gastos logísticos. E reitero: “afirmações desse tipo (que os custos logísticos estão sempre aumentando, seja em relação à receita total das empresas ou do PIB nacional), precisam ser avaliadas com cuidado e de forma ponderada, pois essa simples comparação, entre um período e outro pode não significar quaisquer impactos nos custos logísticos, mas sim, de alterações de gastos provenientes da introdução de novas, mais complexas, estratégicas e mais abrangentes operações”.
O professor Ronald H. Ballou, (Weatherhead School of Management, Case Western Reserve University, de Cleveland, Ohio/EUA), já em 2006, chamou a atenção para esse fenômeno, batizando-o de 4D: Distância (mais longa), Demanda (maior), Diversidade (mais culturas diferentes) e Documentação (mais complexa e com exigências diferentes).
O crescimento previsto na movimentação de mercadorias criará diversos problemas novos, pois haverá operações com linhas cada vez mais longas, que solicitarão mais equipamentos de transporte, mais portos, aeroportos e muito transporte internacional. Será imprescindível, inclusive, a necessidade de se aprimorar os sistemas de seguro, de monitoramento das mercadorias e do gerenciamento de riscos.
Outras dificuldades advirão da maior complexidade dos trâmites documentais, posto que as operações em países diferentes, com cultura e legislação diferentes, aumentarão.
Aumento dos Gastos Logísticos em Todo o Mundo
Portanto, constata-se, já há algum tempo, que os gastos logísticos mundiais têm alcançado valores bastante significativos. Diversos estudos (Quadro 1) informam que em 2013 o mundo gastou US$ 8,6 trilhões com logística, ou seja, 11,6% do PIB mundial! Naquele ano a América do Norte teve 8,8% do seu PIB destinados a gastos logísticos, algo em torno de US$ 1,7 trilhão! Na Europa, 9,2% do PIB, ou US$ 1,5 trilhão. Em 2014 os gastos logísticos dos EUA alcançaram 8,3% do PIB, isto é, mais de US$ 1,2 trilhão. Também no Brasil os gastos com logística, em relação ao PIB, continuaram aumentando: segundo dados do Instituto de Logística (ILOS), de 11,5% do PIB em 2012 (R$ 507 bilhões), para 11,7% do PIB em 2014 (R$ 649 bilhões) em 2014. Dados publicados pela Fundação Dom Cabral, em 2014, indicam que o custo logístico brasileiro alcançou 11,2% do PIB, cerca de R$ 618 bilhões. Como se vê, números muito próximos uns dos outros.
Quadro 1
Aumento de Gastos Logísticos nas Empresas
Já, pelo lado dos “tomadores de serviços logísticos”, diante desse “estado da arte”, o gasto com a logística – também crescente - passou a ser fator determinante de competitividade. O Quadro 2, a seguir, também a partir de dados do ILOS, indica quanto representa o custo logístico para as empresas brasileiras, com relação à receita líquida das mesmas.
Quadro 2
Conclusões
O que se conclui, portanto, é que o aumento dos gastos com logística não indica, necessariamente, aumentos de custos, pois a logística, quando aplicada de forma eficiente, pode representar vantagem competitiva e estratégica para empresas e países, transformando-se em fator de sucesso econômico, seja para um país ou uma empresa. Os gastos podem aumentar, mas os custos com relação às atividades logísticas executadas podem ter diminuído.
Para isso é fundamental entender que a logística, assim aplicada, além de diminuir os custos operacionais das empresas, também se torna instrumento para alavancar a força do marketing, possibilitar o aproveitamento e a exploração de mercados mais distantes (de insumos ou para os produtos finais), agregar valor ao produto e à empresa e gerar satisfação ao cliente. E isto vale para empresas e países, posto que, de forma acirrada, disputam mercados competitivos.
Portanto, o diferente nestes últimos anos é que, além de se buscar soluções logísticas mais inteligentes para diminuição dos gastos (ou custos) logísticos, passou-se a discutir sobre a importância estratégica da logística, na medida na qual ela pode propiciar, para empresas e países, vantagens competitivas imprescindíveis.
A logística se transforma em diferencial mercadológico, pois, pelo menos no curtíssimo prazo, o novo modelo logístico implantado não poderá ser copiado ou imitado. Na medida em que isso ocorre, mais a logística passa a ser considerada como ativo da própria empresa ou do país. Não é por acaso que o sucesso empresarial ou de países depende, em larga escala, da integração eficiente de todas as atividades econômicas e empresariais que, como sabemos, é o papel central da logística.
Se a logística já tinha como missão disponibilizar o produto certo, na quantidade certa, no lugar certo, no tempo certo e com o menor custo possível, ela agora está incorporada à estratégia empresarial (ou mesmo governamental) e é imprescindível considerá-la quando se elaboram planos de negócios ou de crescimento e desenvolvimento econômicos.
* Paulo Roberto Guedes é consultor de empresas e professor do curso de Logística Empresarial do GVPec, da EAESP/FGV e escreve mensalmente para o Guia do TRC